Em Sessão Solene na noite desta sexta-feira (18/11), o Salão Nobre do Palácio Anchieta foi palco de homenagens a mulheres negras que atuam em diversos segmentos, por meio do Tributo e da entrega do Voto de Júbilo, e do Prêmio Carolina Maria de Jesus, além da Medalha Anchieta, concedida à Mara Lúcia Sobral. Os trabalhos foram presididos pela vereadora Erika Hilton (PSOL).
“Construir uma premiação como essa que carrega o nome tão potente e tão transformador como o de Carolina Maria de Jesus, a quem aqui me reverencio e respeito, é também uma forma de enaltecermos a contribuição de mulheres negras nas áreas em que atuam”, disse a parlamentar, que é a autora do Prêmio.
Prêmio Carolina Maria de Jesus
Criado por meio da Resolução nº 4/2021, o Prêmio Carolina Maria de Jesus homenageia a escritora mineira Carolina Maria de Jesus, considerada uma das mais importantes escritoras negras do Brasil. Nascida no dia 14 de março de 1914 em Sacramento, Minas Gerais, mudou-se para a cidade de São Paulo em 1947 e viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, onde sustentou a si mesma e os três filhos como catadora de papéis.
Em 1960, teve o diário de sua vivência como mulher negra e favelada publicado como o livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, com auxílio e organização do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme sucesso, chegando a ser traduzido para 13 idiomas e vendido em mais de 40 países. Carolina Maria de Jesus morreu em 1977, aos 62 anos.
A escolha das premiadas ficou a cargo de uma Comissão Julgadora, composta por especializadas indicadas pela Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Cidadania. Cinco mulheres negras receberam diploma de reconhecimento público de mulheres negras que se destacaram em trabalhos relacionados à defesa dos direitos humanos, combate à fome e à miséria. Conheça as vencedoras:
Categoria Escrita Literária
Pelo trabalho de prosa e poesia, a vencedora foi Alice Cavalcante De Andrade, a Lama. Travesti preta, escritora, graduanda em Serviço Social, slammer, performer, faz música e é artista visual. Autora do livro Da Lama ao Caos.
Categoria Música
Pelo canto e composição, a escolhida foi Bia Ferreira. Uma das maiores expoentes da música preta brasileira. Dona do hit Cota não é Escola, Bia vem trazendo autoestima para as crianças pretas e resgatando a vontade de sonhar dentro da periferia.
Categoria Arte de Rua
A vencedora foi Rose Leite. Artista plástica e muralista autodidata, mulher cis lésbica periférica. Ativista e militante LGBTQIA+, profissional da arte desde 2010. Trabalha com pinturas em tela, vitrais, arte escolar pedagógica, decoração infantil, pintura residencial decorativa, e cursos de capacitação para profissional da arte.
Categoria Educação
Pela luta contra a fome e a miséria, o diploma foi concedido à Adelina Assunção que está à frente do Projeto Slam Interescolar há seis anos. É um dos maiores projetos de literatura marginal no Brasil, que hoje está em mais de duzentas escolas do Estado de São Paulo e ganhou o Prêmio Jabuti, por inovação no incentivo à escrita e leitura.
Categoria Fome e Miséria
Pelo reconhecimento do trabalho de mulheres catadoras de materiais recicláveis, a primeira colocada foi Ana Rita Dias da Encarnação, a Ìyá Ana Rita. Mãe solo na criação dos seus dois filhos, a aposentada abriu um negócio próprio para ter renda e fazer seu trabalho social que leva um lema para a vida: gente é para ser feliz e não para morrer de fome!
Tributo e Voto de Júbilo
Durante a solenidade, Erika Hilton fez a entrega do Voto de Júbilo à Vera Eunice de Jesus, educadora e filha de Carolina Maria de Jesus. A honraria também foi entregue à Fernanda Chagas, representante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.
Medalha Anchieta
A Câmara Municipal ainda homenageou Mara Lucia Sobral Santos com a Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão da cidade de São Paulo. Ela é fundadora da Cooperativa das Catadoras da Granja Julieta Nossos Valores. O autor da homenagem, vereador Eduardo Suplicy (PT), ao lado de Erika Hilton, fez a entrega da honraria.
“Ela é inspiração para muitas pessoas, não só pela sua história de superação como pela sua luta construída coletivamente e com muita dignidade. Uma batalha que vem ganhando cada vez mais espaço e aderência na sociedade, embora estejamos ainda longe do ideal”, observou o vereador Suplicy.
Sobre a homenageada
Mulher negra, mãe de 26 filhos, catadora de materiais recicláveis e líder na Cooperativa Granja Julieta Nossos Valores, Mara perdeu os pais aos nove anos de idade. Passou a infância entre viver em situação de rua e na FEBEM (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor). A trajetória da luta pela ressignificação do trabalho feito por catadores e catadoras em cooperativas promove e gera renda para dezenas de famílias em São Paulo.
“Diante de tantas dificuldades, nós nos demos as mãos, os braços e as nossas almas. Mais uma vez o nosso povo ficou em pé e venceu. Será assim hoje, amanhã e todas as vezes que tentarem nos acorrentar e nos calar. Estou aqui por nós e por todos os nossos ancestrais”, agradeceu Mara Lúcia.
A vereadora Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) também prestigiou a noite de homenagens.
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