(Luiz França / CMSP)
Evenvo lota Auditório Prestes Maia.
Todas as formas de violência que as mulheres negras sofrem foram o assunto principal do Negras em Movimento – Ato/Debate em homenagem a todas as Cláudias da Diáspora Africana. A cerimônia abriu a Virada Cultural de Inverno da Mulher Negra & Cia. Os relatos foram muitos: preconceito, violência doméstica, ou a falta de oportunidades para quem vive na parte de baixo da pirâmide social.
A Cláudia que está no subtítulo do Ato se refere a Cláudia Ferreira da Silva, 38, negra, morta a tiros e arrastada por PMs na zona norte do Rio de Janeiro, em 16 de março deste ano. Sua morte provocou uma onda de manifestações populares nas ruas e nas redes sociais. A Cláudia foi vítima de uma violência institucional, disse Ana Macedo, professora universitária, assistente social e uma das palestrantes. Segundo ela, a mulher negra deve fugir desse destino traçado, ela precisa servir de exemplo para as gerações. Ana Macedo fez uma leitura do texto A mulher Negra Guerreira está morta, sobre o destino das mulheres negras. O texto provoca. Pede que elas façam uma reflexão sobre quem são e o que querem.
O dia 25 de julho é o dia Nacional de Tereza de Benguela (veja box no fim da matéria) e da Mulher Negra, graças à Lei 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Também é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Outra palestrante, Ivete Souza, é ativista do Círculo Palmarino. Ela falou sobre o que chamou de genocídio da juventude negra. Segundo Ivete, o genocídio é tanto direto, da polícia que mata só porque é negro, quanto do Estado, que não dá oportunidades aos negros.
A coordenadora da cerimônia, Sandrah Sagrado, falou que o Negras em Movimento serve para fortalecer a luta das mulheres negras e reconhecer que essa luta existe. Para a palestrante Tatiana Oliveira, jornalista e ativista do Quilombação, a mulher negra é invisível na sociedade. Por isso, este evento é importante. As mulheres negras têm os piores índices de escolaridade, são as mulheres que mais sofrem violência, e são as que sofrem, por exemplo, mais discriminação no setor da saúde, apontou Tatiana. Já Ana Macedo lembra que as mulheres negras devem olhar para si mesmas e sair do marasmo.
O Negras em Movimento também marcou a apresentação do Hino à Negritude na Câmara (clique aqui e ouça a música), pela primeira vez. É a canção oficial das cerimônias da comunidade negra, de acordo com a Lei 12.981/2014, também sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. O hino é de autoria do professor Eduardo Oliveira, líder do movimento negro no Brasil e um dos principais articuladores do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB).
O evento foi organizado pelo site Negro é Lindo. E teve apoio do Sindicato Nacional da Educação Infantil, da Revista Mulher Negra e Cia, do gabinete do vereador Antonio Donato (PT), do vereador José Américo (PT) e do deputado federal Carlos Zarattini (PT).
Quem foi Tereza de Benguela
Tereza de Benguela, ou Rainha Tereza, foi líder do quilombo de Quariterê, que ficava no Vale do Guaporé, na região da Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Mato Grosso. A comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por décadas graças ao seu comando. Mais ou menos em 1770 o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho. A população de 79 negros e 30 índios foi morta ou encarcerada. Tereza foi presa. Ela se recusou a ser escrava novamente. Por isso, cometeu suicídio.
(Fábio de Amorim)
(25/07/2014 – 20h30)