No salão de beleza de Katia Teófilo, de 36 anos, as clientes não saem apenas com um penteado novo. O corte, explica a ativista negra, abre espaço para uma discussão sobre identidade de raça e empoderamento da mulher negra.
Na noite desta terça-feira (1/8), 18 mulheres foram homenageadas pela Liga das Mulheres e a ONG da Juventude Negra. Os prêmios saúdam o trabalho que mulheres como Katia fazem em suas comunidades. O evento aconteceu no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.
“No meu salão, trabalho muito a identidade e a aceitação. Trabalho com cabelos naturais e percebo a necessidade de a mulher se identificar como bonita. Eu cuido do interior, empodero e digo do que ela precisa cuidar”, conta Katia.
Ela mantém o trabalho social e o negócio na cidade de Louveira, no interior paulista. A ativista e comerciante conta que, há alguns anos, ela e outras mulheres do Município descobriram que muitas pessoas não declararam a cor da pele.
“Detectamos que essas pessoas possivelmente eram negras e vimos uma necessidade de trabalhar a identidade. Queremos informar e obter resultados nas questões de respeito e conhecimento”, afirma.
Já a psicóloga Cleide Neves, de 58 anos, foi homenageada pelo trabalho que desenvolve na Educafro, entidade que luta pela inclusão de meninas e meninos negros na educação, principalmente a de nível superior.
Ela reconhece que o Brasil avançou nos últimos anos, mas cobra um desenvolvimento maior de ações inclusivas. “Temos muito que avançar. Inclusive, esta Década do Afrodescentente, de 2015 até 2024, é exatamente um período para que possamos, por meio de políticas públicas, trazer o maior bojo de oportunidades e ações para a inclusão da negritude.”
Ela acredita que nos últimos anos os negros conquistaram um lugar diferenciado por meio da educação, mas que eles ainda enfrentam preconceito e racismo no mercado de trabalho. “Nós temos ainda uma sociedade que é resistente na questão [de discussão] do preconceito. Temos uma barreira muito grande para ser quebrada. E incluir esses jovens que entraram na universidade, estão formados, e precisam estar no mercado de trabalho com igualdade.”
Garantia de direitos
O espaço foi articulado junto ao gabinete do vereador André Santos (PRB). O parlamentar participou da premiação. “Se ainda há movimentos reivindicando a igualdade e os direitos das mulheres, especialmente as negras, é porque ainda tem muito o que se alcançar”, afirmou o parlamentar.
Segundo ele, “os direitos já foram garantidos” por meio de leis e programas. No entanto, ainda de acordo com ele, “a luta que vem se travando hoje é para que os direitos sejam alcançados”.