A Câmara Municipal inaugurou nesta terça-feira (25/10) a escultura ‘Vlado Vitorioso’ em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-CODI durante o regime militar, em 1975. A cerimônia aconteceu na praça que recebe o nome do jornalista e contou com os familiares, jornalistas, estudantes e vereadores da Casa.
Com 200 kg de bronze fundidos e 2,20 metros de altura, a obra do artista Elifas Andreato faz parte do processo de revitalização da praça, que começou com a reinauguração do nome do local, no ano passado, mediante Projeto de Lei de 2013. Andreato conta que a escultura é uma reprodução em escala humana da que fez para o prêmio especial da ONU (Organização das Nações Unidas), em 2008, em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
“O significado da escultura é a celebração de uma geração vitoriosa num regime de exceção e também a homenagem ao grande mártir dessa geração que mudou os rumos da política brasileira, que foi o Vladimir Herzog”, explicou.
A data da cerimônia remete ao dia da morte do jornalista, que também foi eternizada pelo artista com o mosaico homônimo presente na praça. “O que eu fiz, num primeiro passo, foi com o [mosaico] 25 de outubro como uma denúncia contra a barbárie praticada contra o Vlado e contra grandes brasileiros da minha geração”, complementou Andreato.
Durante o evento, os presentes cantaram o Hino à República para simbolizar a liberdade como um valor e uma conquista inegociável numa democracia.
Viúva do jornalista, Clarice Herzog relembrou a luta constante para responsabilizar o governo pela morte do então diretor de telejornalismo da TV Cultura e como a resistência lutou para que as violações não permanecessem impunes. “Desde o primeiro momento que eu fiquei sabendo que assassinaram o Vlado, eu decidi acabar com a falsa história que levantaram de que ele havia se suicidado. Deu certo, eu consegui e vários familiares de presos conseguiram. Houve uma desmistificação do que aconteceu e conseguimos enfraquecer a ditadura.”
Já o filho mais velho do casal, Ivo Herzog, enfatizou que o memorial é uma forma de manter viva a reflexão diante da história do país. “Nós precisamos conhecer a história do período, entender os erros do passado para que eles não se repitam; entender que a democracia custou caro.”
O jornalista Sérgio Gomes, da Oboré, também ressaltou que ocupar e preservar um espaço público carregado de memórias reflete na reconstrução da história e na permanente luta pela garantia de direitos. “Essa iniciativa da Câmara já atravessou três legislaturas. Teve a revitalização, o batismo, a luta para cada obra de arte e mais coisas vão acontecer por aqui, porque essa praça não é simplesmente uma praça, é uma praça memorial da luta não só do Vlado e dos jornalistas do passado, mas do presente e do futuro.”
Ele também revelou os próximos passos para dar continuidade ao trabalho de conservação do local. “Esse território será carregado de emoção permanentemente. Aqui teremos a relação do nome de todos os jornalistas que ganharam o prêmio Vladimir Herzog desde 1979 e, a cada ano, se acrescentarão novos nomes.”
Desde 2011, a Câmara Municipal tem realizado iniciativas que visam a promoção dos direitos humanos e o esclarecimento diante dos crimes cometidos durante a ditadura militar. Uma delas foi a criação da Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog, em 2012, proposta pelo então vereador Ítalo Cardoso (PT), que foi reinstalada em 2013.
“A nossa primeira Comissão [Municipal da Verdade] presidida pelo ítalo Cardoso me proporcionou dias de grande emoção e perplexidade diante dos relatos. É extremamente importante que a verdade e a história façam parte da vida de todos os cidadãos. Neste ano, conseguimos uma vitória ao mudar o nome do Minhocão de Presidente Artur da Costa e Silva para Presidente João Goulart. Esse ato tem uma importância muito maior do que a gente imagina”, declarou o vereador Eliseu Gabriel (PSB), relator da Comissão.
O presidente da Câmara, Antonio Donato (PT), reiterou o engajamento de uma casa legislativa na promoção da democracia. “É uma contribuição da Câmara, que concebeu esse espaço para relembrar o martírio da vida de Vladimir Herzog; uma vitória que não é definitiva, portanto, temos que procurar, através desse espaço, mostrar para as próximas gerações a luta pela democracia.”