Especialistas sinalizaram nesta quinta-feira (6/8) para a necessidade de melhorar a infraestrutura no Brasil, desenvolver mais tecnologias e promover políticas públicas sociais, culturais e ambientais para reduzir o desperdício de alimentos no Brasil. Durante reunião promovida pela Frente Parlamentar pela Sustentabilidade da Câmara Municipal para discutir o tema, as palestrantes afirmaram que cerca de 50% do que é produzido não é utilizado.
A professora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) Patrícia Jaime explicou que o desperdício dos alimentos acontece em todas as etapas da cadeia de produção. “O problema começa já na fase inicial, porque temos insuficiência de capacidades gerenciais, infraestrutura precária que prejudica desde a colheita até o transporte do produto e pouca tecnologia”, afirmou.
A docente ainda chamou a atenção para o envolvimento intersetorial para sanar esse problema. “Precisamos de uma governança para a segurança alimentar e pensar em construção de políticas públicas que gerem um sistema alimentar saudável e sustentável. Sem nos esquecermos da necessidade de uma mudança da visão do consumidor, que é induzido a consumir produtos com determinada qualidade, descartando o restante que poderia ser utilizado”, acrescentou.
A agrônoma do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) Anita Gutierrez concordou com Patrícia e apontou para a necessidade de um melhor treinamento dos profissionais que fazem manuseio dos produtos, principalmente de frutas e hortaliças. “Recebemos 12 mil toneladas de alimentos e produzimos diariamente 150 toneladas de lixo orgânico. Esse desperdício ocorre principalmente pelo fato dos produtos não estarem com uma boa aparência, já que, principalmente no varejo, os alimentos são colocados de uma maneira errada nas bancadas”, declarou.
Os dados apresentados por Anita surpreenderam o presidente da Frente vereador Gilberto Natalini (PV). “Imaginei que o desperdício na Ceagesp fosse maior. Esse número me deixou surpreso”, afirmou.
Banco de Alimentos
No Brasil existem 124 Bancos de Alimentos – estruturas físicas que oferecem serviço de captação, recepção e distribuição de gêneros alimentícios vindos de doações dos setores privados e públicos – espalhados em 117 cidades. De acordo com o Mapeamento de Segurança Alimentar e Nutricional dos Estados e Municípios, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a região sudeste é a campeã, com 54% das instituições, seguida do nordeste (23%), sul (17%), centro oeste (4%) e norte, com apenas 2%.
Para a professora Patrícia, o aumento de Banco de Alimentos é uma das principais medidas para reduzir o desperdício de alimento. “São Paulo tem práticas inovadoras e isso é fundamental para evitar que o que se produza vá para o lixo, sendo que muitas vezes o alimento nem perdeu suas propriedade”, afirmou.
O vice-presidente da Frente, vereador Ricardo Young (PPS), afirmou que existem muitos desafios para reduzir o desperdício de alimentos. “Estamos longe de resolver essa situação e precisamos de um esforço nas áreas de educação e cultura para que as pessoas aproveitem mais os produtos”, declarou.
Para Natalini, o debate foi fundamental para que a Câmara possa pensar em propostas práticas para diminuir o desperdício. “Vimos aqui que se perde muito desde o início do plantio. A partir da discussão realizada podemos pensar em soluções para reduzir o desperdício de comida”, disse.