Na noite desta segunda-feira (24/5), a Câmara Municipal de São Paulo realizou um encontro virtual para refletir o Dia Mundial da Esquizofrenia. O evento foi coordenado pela vereadora Cris Monteiro (NOVO), proponente do debate. A parlamentar e seus convidados discutiram como as experiências ao longo do desenvolvimento afetam o risco para transtornos mentais.
“Esse evento é uma forma de ajudar às pessoas. A esquizofrenia é um mistério. É o estigma da loucura, de uma pessoa maluca, e não é isso! Com tratamento correto, muita gente consegue ter uma vida normal, se casar, trabalhar e viver em sociedade”, disse a vereadora.
Especialistas convidados
Doutor Ary Gadelha: Professor e vice chefe do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo. Coordenador do Programa de Esquizofrenia da EPM/Unifesp. Pesquisador do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento e do Laboratório de Neurociências Integrativas.
Doutor Pedro Pan: Professor adjunto do departamento de psiquiatria da EPM/Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e médico psiquiatria pelo mesmo departamento. É o primeiro PhD formado pelo programa Tripartite de Pós-graduação em Psiquiatria do Desenvolvimento das universidades Unifesp/USP/UFRGS. Durante o doutorado, atuou como pesquisador (Special Volunteer) no Mood Brain & Development Unit (MBDU) do National Institute of Mental Health (NIMH) em Bethesda, EUA. É vice coordenador do Projeto Conexão, do INPD (Instituto Nacional da Psiquiatria do Desenvolvimento), autor de mais de 80 artigos indexados no Pubmed/Medline, co-autor do capítulo “Transtornos do humor – depressão e transtorno bipolar” do livro “Saúde Mental na Escola – O que os educadores devem saber” (Artmed). Atualmente conduz pesquisas com foco nos mecanismos neurais associados com a depressão na adolescência e é Líder de Projetos de tecnologia e saúde mental no Instituto Ame Sua Mente.
Sobre a esquizofrenia
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a esquizofrenia é uma patologia psiquiátrica que apresenta, na maioria das vezes, uma evolução crônica e com intenso impacto no funcionamento do indivíduo. Os sintomas alteram a percepção da realidade, com alterações no comportamento, na percepção e nas emoções. Geralmente tem seu início no fim da adolescência ou início da fase adulta.
A esquizofrenia de início precoce é definida como o aparecimento de sintomas psicóticos específicos e prejuízos nas funções adaptativas entre os 13 e os 17 anos. E a esquizofrenia de início muito precoce ou na infância aparece antes dos 13 anos de idade.
A imaturidade normal do desenvolvimento da linguagem e a separação entre a realidade e a fantasia tornam difícil o diagnóstico da esquizofrenia em crianças, principalmente, com idade abaixo dos sete anos.
A esquizofrenia de início na infância é uma doença mental rara e geralmente mais grave. Os prejuízos no funcionamento cognitivo são mais pronunciados. Entre as alterações, podem ocorrer alucinações (percepções irreais, como escutar vozes), delírios (crenças irreais), pensamentos e comportamentos extremamente desordenados, que prejudicam a capacidade funcional da criança.
Diagnóstico e sintomas
Os critérios diagnósticos para esquizofrenia em crianças são os mesmos para a forma adulta, exceto que as crianças deixam de atingir os níveis esperados de desempenho social e acadêmico.
Pedro Pan explicou que existem três grupos principais de pessoas com esquizofrenia que apresentam sintomas que levam ao alto nível de sofrimento e angústia constantes:
- Dificuldade de se identificar realidade de fantasia, crenças que podem estar fora da realidade;
- Alterações dos órgãos do sentido, como ouvir vozes;
- Desorganização dos pensamentos e do comportamento do indivíduo.
“Quando temos um conjunto de sinais e sintomas que levam a prejuízos e sofrimentos, temos a máxima das pessoas com esquizofrenia”, explicou Dr. Pedro Pan.
Esquizofrenia e Covid
Segundo especialistas, pessoas com esquizofrenia possuem um risco aumentado ao contágio da Covid-19. Ary Gadelha observou que para esse grupo, ao contrair o novo coronavírus, a mortalidade é aumentada.
“Cerca de 70% dos pacientes com esquizofrenia tem alguma comorbidade clínica, como diabetes, hipertensão, obesidade entre outros fatores. São pessoas mais sedentárias, uma característica frequente desses pacientes que geralmente ficam mais apáticos e retraídos, além de maior dificuldade ao sistema de saúde”, explicou Ary.
Tratamento
O tratamento costuma ser necessário por toda a vida e é feito por meio de terapia e do uso de medicamentos. Geralmente envolve uma combinação de medicamentos, psicoterapia e serviços de cuidados especializados. Os especialistas explicaram que a pessoa com esquizofrenia deve ser tratada não apenas durante um surto, e sim, constantemente para se evitar que a crise aconteça. O objetivo principal é o controle dos sintomas.
Dúvidas esclarecidas
Durante a transmissão, várias perguntas enviadas por espectadores do evento virtual foram respondidas. As respostas e o debate completo podem ser assistidos aqui.