A Escola do Parlamento e o Departamento de Políticas para as Mulheres da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania realizou, nesta quarta-feira (7/3), um debate sobre a situação da mulher no mundo do trabalho.
Com o tema “mulheres, carreiras e profissões”, o evento trouxe estudos sobre a participação feminina no mercado de trabalho, os obstáculos encontrados e as formas possíveis de como enfrentá-los.
“É um desafio que a escola tem encarado ao longo de sua trajetória. São diversos eventos associados à temática da mulher, a questões da mulher na política, da mulher no mercado de trabalho, saúde e uma série de temas fundamentais que a sociedade precisa discutir, e o parlamento é o lugar ideal para isso”, afirma Humberto Dantas, diretor da Escola do Parlamento.
A assistente social, Fabilla Oliveira da Silva, conta que em sua área de trabalho o homem ainda recebe mais do que as mulheres, prestando o mesmo serviço. “A gente faz pesquisa, conversa com outros profissionais, empresas, e ainda há pequenas diferenças salariais, e isso é um pouco frustrante, ainda mais pela jornada dupla que enfrentamos”.
Mercado de Trabalho
Segundo comprova o estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mesmo o sexo feminino sendo maioria entre pessoas com ensino superior, a desigualdade no mercado de trabalho continua alta. Entre as pessoas de 25 a 44 anos de idade, 15,6% são homens que completaram a graduação, enquanto o percentual de mulheres atingiu 21,5%, ou seja 37,9% superior ao sexo masculino.
“A mulher conquistou, nos últimos anos, mais espaços em profissões que era determinantemente masculina. Mas, mesmo exercendo funções iguais, ela ainda recebe 78% do salário dos homens. Existe uma diferença de sexo em cargos de comando e direção das empresas e, mesmo ocupando uma boa parte do mercado, são os cargos que menos pagam e que exigem menos qualificação, afirma Gislaine Caresia, diretora do Departamento de Políticas para Mulheres da SMDHC (Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania).
Para ela, a luta já começa na busca do mercado de trabalho. “Numa entrevista de emprego, a primeira pergunta que fazem é se tem filhos. Existem políticas de contratação que excluem as mulheres que são mães. Em cargos de lideranças, existe uma cultura no mercado de trabalho que não está preparada para o ingresso das mulheres”, declara.
Lígia Pinto Sica, professora e pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explica que os desafios para mulher no mercado de trabalho são diversos. “Se pensarmos em termos de ingresso, ainda existe um obstáculo. Avaliei isso através desse momento de crise econômica. Houve muitas demissões, algumas contratações, e o saldo de demissões para o sexo feminino foi de 42 mil. Já o número de contratações dos homens, 20 mil. Então, num momento ruim de crise, demitem-se as mulheres, e as mulheres negras sofrem ainda mais”.
A pesquisadora ainda fala sobre a questão de segmentação profissional. “Existem algumas áreas
onde a mulher não consegue adentrar, ou pelo menos quando adentra não é ouvida ou bem vista, tendo que se masculinizar. Há também áreas que são desprestigiadas, seja pelo salário, como a pedagogia, seja porque tem alta demanda, como o direito, ou até mesmo a saúde, porque as pessoas enxergam que por uma área de cuidados, a mulher se encaixa melhor”, diz.
A ex-vereadora de São Paulo, eleita pelo PSDB em 2016, e atual secretária municipal do Trabalho e Empreendorismo, Aline Cardoso, falou sobre as mulheres na tecnologia, no empreendedorismo e na política, além de trazer dados sobre o atual cenário do mercado de trabalho e ressaltar a importância do ‘bom uso de seu privilégio’.
“Uma das coisas que eu acho que tenho que fazer é ajudar mulheres, fazer política para mulheres e dar impulso e apoio para que elas cheguem onde eu cheguei”, afirma.
A secretária ainda pede – e encoraja – que as mulheres não se esmoreçam nessa luta e afirmação por espaço. “É difícil? É. Sofremos resistência? Sim. Mas da mesma forma que décadas atrás muitas mulheres lutaram e morreram por voto, nós temos a obrigação de continuar nessa luta”.
A mesa foi composta por Eloísa Arruda, secretária de Direitos Humanos, Lígia Pinto, professora e pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Aline Cardoso, secretária municipal do Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo, Gabriela Biazi, integrante do Comitê de Enfrentamento ao Assédio Sexual no Funcionalismo Público, além da diretora do Departamento de Políticas para Mulheres da SMDHC (Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania), Gislaine Caresia, e do diretor da Escola do Parlamento, Humberto Dantas, que mediaram o debate.