Nesta sexta-feira (23/8), a Câmara Municipal de São Paulo sediou a 18ª Conferência Produção Mais Lima e Mudanças Climáticas. O evento reuniu cidadãos, ativistas, ONGs, instituições de ensino, representantes da iniciativa privada e Poder Público, para discutir formas de desenvolvimento econômico de baixo impacto ambiental. O início da conferência foi marcado com um minuto de silêncio pelo meio ambiente, por conta dos incêndios registrados na Amazônia.
Presente à conferência, o economista Ricardo Abramovay, professor do Instituto de Energia e Meio Ambiente da USP (Universidade de São Paulo), disse que a política ambiental nacional está abandonada e que é necessário valorizar a ciência. “O Brasil é campeão mundial no monitoramento do uso do solo, com instituições muito respeitadas internacionalmente. A ciência brasileira é de ótima qualidade. Mas nós precisamos de governantes que a respeitem”, declarou Abramovay.
Na opinião do economista, os cortes do governo Federal no orçamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico), agência responsável por financiar pesquisas, colocam em risco o futuro do País. “É a sociedade que está em perigo, não os cientistas, porque as políticas públicas estão sendo apoiadas em achismos, não em dados e discussões científicas. As chances de errar são grandes”, complementou Abramovay.
Para Glaucia Savin, presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB-SP (seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil), a preservação da natureza deveria ser vista como uma meta fundamental do país. “A preservação do meio ambiente é um dos poucos direitos transgeracionais previstos na nossa Constituição. Podemos utilizar os recursos, mas devemos nos preocupar com o não esgotamento, porque ele não é só nosso”, explicou Savin. Ela também reforçou a necessidade de conscientizar a população sobre produção e consumo, já que o atual modo de vida da nossa sociedade terá impacto sobre as próximas gerações.
A conferência teve o apoio do vereador Gilberto Natalini (PV), para quem a pauta ambiental é o assunto do momento, mas também um tema delicado para o Brasil. “Hoje nós estamos vivendo um momento difícil na cidade e no País. Cada ano que passa, fica mais necessário debater e propor atitudes práticas para modificar a nossa realidade”, argumentou Natalini.
O vereador disse ainda que é preciso avançar na conscientização da sociedade. “A humanidade tem que entender que o meio ambiente é um só, que esse planeta é a nossa casa. Por isso, temos que defender o planeta como um todo”, disse Natalini.
Prêmio Responsabilidade Social
Ainda durante a conferência, foi realizada sessão solene para a entrega do prêmio Responsabilidade Socioambiental, da Câmara Municipal de São Paulo, que, desde 2011, homenageia ativistas e empresas que se destacam na área de tecnologia do meio ambiente.
Um dos premiados foi o grafiteiro Thiago T. L. A., mais conhecido como Mundano. O artista é reconhecido mundialmente pelo seu trabalho com catadores de materiais recicláveis. Além de desenvolver projetos que reformam carroças, Mundano também é responsável por um aplicativo que auxilia o dia a dia dos catadores. “Os catadores prestam um serviço de limpeza pública, de coleta seletiva e logística reversa, que são essenciais para a cidade, mas não são reconhecidos por isso”, disse Mundano, ao receber a premiação. “Agora, precisamos de mais parceiros para ajudar a transformar a reciclagem da cidade. Isso é possível por meio da tecnologia”, afirmou.
Virada Sustentável
A 18ª Conferência Produção Mais Lima e Mudanças Climáticas compôs mais uma edição da Virada Sustentável, um movimento responsável por organizar o maior festival sobre sustentabilidade do País. A Câmara Municipal de São Paulo participou do evento, oferecendo diversas atividades, como a realização de debates, a exibição de documentários e exposição fotográfica, promovidas pelo Comitê de Sustentabilidade do Legislativo paulistano.
No térreo do Palácio Anchieta, sede da Câmara, foram instalados estandes com a exibição de projetos, produtos e serviços comprometidos com a economia de recursos naturais, além de mostrar boas iniciativas e tecnologias promissoras em favor da preservação de áreas verdes.
Uma das mostras foi sobre a reciclagem de bitucas de cigarro. Felipe de Oliveira Poiato, criador do projeto, explicou como as bitucas podem ser reutilizadas. “Na reciclagem das bitucas, o que sobra da fervura e filtragem é prensado, vira massa de celulose, pronta para se transformar em papel”, disse Poiato.
O público também pode conferir o avanço da tecnologia sustentável aliada à segurança. A GCM (Guarda Civil Metropolitana) apresentou seis carros elétricos da sua frota de veículos sustentáveis. Esses veículos já circulam pela capital paulista há dois anos, principalmente no entorno do Parque do Ibirapuera.
“Esses veículos são 100% elétricos, totalmente silenciosos. Na parte de policiamento do Parque Ibirapuera, por exemplo, contribuem bastante até mesmo para o policiamento comunitário, já que chamam atenção da população”, disse Éder Paulino da Silva, classe especial da GCM.
Também no térreo estarão disponíveis, até sábado (24/08) às 17h, livros doados por servidores da Câmara Municipal de São Paulo. Os volumes poderão ser retirados gratuitamente pelos interessados, que também terão a opção de deixar outros livros, em um exemplo da chamada economia verde, conceito para ações coletivas que reduzem o impacto ambiental do consumo.