Segunda região a receber o programa Câmara no Seu Bairro (confira cronograma) — projeto que pretende realizar sessões públicas e aproximar o legislativo do cidadão — São Miguel tem muitos desafios a superar, entre eles os problemas recorrentes de enchentes, que afetam todos os distritos da região.
É o caso da Vila Itaim, na zona leste. Passadas três semanas após o temporal que atingiu a região, as cerca de 30 peças, ternos espalhados pelo chão, tomam conta de um dos cômodos da residência de Marli Silva, moradora da região. As roupas ainda estão úmidas, com mau cheiro e prontas para serem jogadas fora. Os vestidos, suspensos a tempo no momento da enchente foram salvos, mas não é o bastante para consolar a costureira de 53 anos.
“Olhei para isso ontem e queria chorar. É uma vida! Trabalho anos e anos e aí [a situação] chega a esse ponto”, disse transtornada. Marli, que confecciona e aluga roupas para festa, já jogou 30 peças no lixo.
No dia 16/2, o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), órgão da prefeitura, chegou a colocar a Subprefeitura de São Miguel em estado de alerta após o transbordamento do rio Tietê devido à forte chuva que caía sobre a capital paulista. Situada na várzea do rio, pelo menos 250 casas da Vila Itaim foram inundadas.
Na residência de Marli, a água chegou a cerca de um metro e só baixou depois de 15 dias. Como ela não saiu de lá, acabou tendo que conviver com o alagamento e o forte cheiro de esgoto. “A prefeitura trouxe caminhão para sugar a água, limpou, deu cloro, cesta-básica… Fizeram bastante, mas, infelizmente não foi o suficiente.”
Como se não bastasse os prejuízos obtidos, na manhã do dia seguinte ao temporal, o filho de Marli foi eletrocutado ao tentar suspender a geladeira da casa de um vizinho. Ele teria tentado pegar uns blocos embaixo do eletrodoméstico e não teria visto o fio ligado na tomada. O rapaz foi hospitalizado, mas já teve alta.
A duas ruas dali, Maria de Fátima Mota também teve prejuízos. Perdeu um guarda-roupa, um armário de pia, além dos materiais que seu marido Cláudio utiliza para trabalhar. Mãe de um bebê de três meses, ela se viu obrigada a abandonar sua casa e buscar abrigo na residência de uma amiga, no vizinho Jardim Romano. “Meu filho é prematuro e, por recomendações médicas, não pode respirar o cheiro do esgoto que o alagamento traz”. Ela permaneceu durante 20 dias na casa da amiga até que a água baixasse. Quando voltou, a faxina para retirar a lama foi intensa.
Maria de Fátima explica que está sempre de olho no céu e, principalmente na rua. “Começou a chover, a gente olha a rua. Quando a água começa a subir e bate na escada [na entrada da casa], começamos a suspender os móveis.” Segundo ela, o temporal que caiu sobre o bairro há três semanas só não foi pior que o que atingiu o local em 2009. Na época, ela ficou dois meses fora de casa.
Apesar das residências de Marli e Maria de Fátima possuírem barreiras para conter o avanço da água, quando a chuva é intensa os obstáculos não resolvem, pois ela chega a ultrapassá-los. Para elas, a única solução para o bairro seria a construção de diques de proteção e canais de escoamento, assim como foi feito no Jardim Romano.