Rafael Carneiro da Cunha / CMSP
Adeptas do chamado parto humanizado, as casas de parto ainda não são os locais mais procurados pelas brasileiras na hora de ter filhos. Dentre os motivos, estão: falta de conhecimento a respeito do trabalho desses estabelecimentos e popularização das cesarianas nas últimas décadas – que pode ser agendada e é um procedimento rápido.
Fundada em 1998, a Casa do Parto de Sapopemba é a única conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo. Em 2001, a unidade foi municipalizada e seis anos mais tarde, firmou uma parceria com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), com o objetivo de prestar um serviço melhor às gestantes.
Diferente das cesarianas, o parto humanizado não trabalha com intervenções cirúrgicas e a mãe tem um maior poder de decisão sobre como quer dar à luz. Segundo a enfermeira obstetra Thais Talarico, há mulheres que querem fazer do parto um momento especial e por isso não recorrem às cesárias. O parto humanizado pode ser feito tanto em casa quanto nas casas de parto. Na capital paulista, há apenas duas opções: a Casa Ângela e a Casa do Parto de Sapopemba.
Em muitos países, o crescimento de cesarianas descumpre as recomendações da Organização Mundial de Saúde, que prevê que apenas 15% dos partos necessitem de intervenções cirúrgicas. No Brasil, por exemplo, mais da metade dos partos são cesarianas, sendo que na rede privada esse índice ultrapassa 80%.
Cai movimentação nas casas de parto
Hoje, a instituição de Sapopemba presencia uma queda na quantidade de partos. Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram que houve queda de 64% no número de nascimentos nos últimos quatro anos. Vejo que na atual gestão da prefeitura há uma preocupação em divulgar o nosso trabalho, mas nas outras gestões isso não aconteceu, salienta Thais.
Em 2013, a Casa do Parto de Sapopemba completou 15 anos e recebeu uma homenagem na Câmara Municipal de São Paulo. Durante a solenidade, as dificuldades enfrentadas desde a sua criação foram lembradas por ex-funcionários e fundadores. A casa de parto correu o risco de ser fechada diversas vezes.
Há 11 meses, Luísa chegou ao mundo pelas mãos de uma enfermeira obstetra da Casa do Parto de Sapopemba, fazendo a alegria da estudante Juliana e do professor de filosofia Flávio. Meu médico veio com uma conversa de que não sabia se eu tinha passagem suficiente ou se eu ia aguentar a dor, mas fugi desses argumentos. Li muito a respeito do parto humanizado e sabia que não era bicho de sete cabeças. Fiquei algumas horas em trabalho de parto, ele é sim dolorido, mas depois a dor acaba e os benefícios são enormes, ressaltou Juliana. A emoção de Flávio não foi menor. Ele acompanhou a esposa durante todo o processo e foi o responsável por cortar o cordão umbilical da filha.
Diferentemente da Casa do Parto de Sapopemba, a Casa Ângela é mantida pela Associação Comunitária Monte Azul, da Zona Sul, por meio de captação de recursos vindos de organizações nacionais e estrangeiras. O atendimento é pago, exceto para os moradores do Jardim Monte Azul. A Casa Ângela oferece ainda acompanhamento da criança durante o seu primeiro ano de vida.
Risco inerente
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) é contra as casas de parto. Para a entidade, o parto humanizado tem risco inerente e pode gerar sofrimento agudo ao bebê ou à mãe. Silvana Morandini, ginecologista obstetra e conselheira do Cremesp afirma que o parto humanizado é o acolhimento à mãe e isso pode acontecer no hospital. Vai do relacionamento médico-paciente e ela pode escolher, se houver possibilidade, se quer cesária ou parto natural. Se quer anestesia ou não.
Segundo a conselheira, a gestação pode ser de baixo risco, mas o parto pode ser de risco e o tempo para transportar essa mãe de uma casa de parto para um hospital pode trazer complicações.
Já a Secretaria Municipal de Saúde é favorável às casas de parto, desde que elas estejam em locais com fácil acesso a atendimento hospitalar imediato. (Rafael Carneiro da Cunha)
(11/11/2013 – 17h01)