Não perder de vista a cidade que desejamos e conhecer melhor a realidade são alguns ensinamentos que o “Jogo da Política”, lançado nesta sexta-feira (2/6) na Câmara Municipal de São Paulo, deixou para os cerca de 30 participantes. Divididos em seis equipes, os times precisaram decidir sobre como destinar o orçamento de R$ 54 bilhões da capital (previsto para 2017) em 29 áreas distintas.
As equipes receberam cartelas referentes às pastas, secretarias, rubricas das previsões orçamentárias e bloquinhos de madeira. Cada peça equivale a 0,1% dos recursos da cidade. Ou seja, quando um participante segurava um dos quadradinhos, mantinha em mãos R$ 54 milhões. E é nesse ponto que começa uma das reflexões propostas pelo jogo indicado para alunos das redes pública e particular de ensino.
A reportagem do Portal da Câmara esteve em uma das mesas. O time foi composto por um jornalista, dois educadores, uma representante do terceiro setor e um advogado. O primeiro desafio era acertar ou chegar próximo do orçamento deixado pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT), dinheiro que o atual prefeito João Doria (PSDB) tem em caixa.
As áreas de saúde, educação, transporte, segurança e habitação foram tratadas como prioridades e receberam metade dos bloquinhos. Faltavam 24 quesitos e, então, o debate entre os membros do time se aprofundou. Alguns queriam tirar de áreas como trabalho e indústria para colocar os recursos em assistência social e urbanismo. Houve até um composição de pastas para dividir o dinheiro em duas áreas relacionadas: saneamento e gestão ambiental.
Um dos criadores do jogo, o hacker Pedro Markun, 31 anos, explicou que a brincadeira desperta nos participantes a vontade de falar de política. “O princípio do ‘Jogo da Política’ não é entregar nenhuma resposta para o aluno. A gente não quer ensinar para ele como o mundo e a política funcionam. Ele é feito para incitar dúvidas e questionamentos e não trazer verdades”, disse.
De acordo com Nina Weingrill, da agência Énois, que também ajudou a elaborar as metodologias do jogo, a ideia surgiu de uma necessidade dos jovens: abordar a política em sala de aula. Uma pesquisa chamada “Jovem Brasileiro na Política”, realizada em 2014, mostrou que 60% dos estudantes querem que o assunto seja levado para as escolas.
“O jogo nasce de um pedido feito pelos jovens. A partir disso, desenvolvemos uma metodologia. Primeiro nós entendemos como o sistema político poderia ser experimentado por esses jovens na escola. Depois, trouxemos uma coordenadora pedagógica para fazer o elo com o currículo da escola.”
Segundo ela, a brincadeira não tem ganhadores. “É um jogo de discussão e de troca de ideias, mas não tem vencedor.”
O jogo vai ser disponibilizado na Internet e as caixas serão vendidas por, pelo menos, R$ 150. Além do desafio do Executivo, o usado na apresentação na Câmara, também existe um jogo do Judiciário e outro do Legislativo, em que os participantes trabalham na elaboração de uma lei, passando por comissões, até chegar na votação em Plenário.
Time reforçado
A vereadora Soninha Francine (PPS), fez parte de um dos times. Na cidade dos sonhos dela, ciência e tecnologia tiveram um orçamento maior do que a cidade gerida por Doria. O ex-prefeito deixou zero para o atual.
“Ali no meu orçamento, a gente colocou muito recurso em ciência e tecnologia. Esse gasto é um investimento porque você melhora, por exemplo, o desenvolvimento do sistema de transporte, que hoje não tem lógica nenhuma”, afirmou.
Para a parlamentar, usar a tecnologia pode deixar as linhas de ônibus mais dinâmicas, já que muitas das que estão em funcionamento foram criadas há décadas.
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