O metalúrgico Santo Dias da Silva, morto durante uma greve em 1979, em pleno regime Militar, lutava pelo direito dos operários e contra o regime ditatorial brasileiro. As histórias do operário e o golpe militar de 1964 foram relembrados neste sábado (29/3) durante audiência pública promovida pela Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo. O evento foi realizado no Jardim Ângela, zona sul, região em que Silva construiu sua trajetória.
Durante os relatos, muitos amigos e familiares ficaram emocionados. A metalúrgica aposentada Edna de Oliveira conheceu Santo Dias quando ela ainda era criança. Segundo a operária, foi ele quem a fez ter consciência da importância do sindicato para ajudar na luta dos trabalhadores. “Foi fundamental ver o trabalho dele e, por isso, comecei a participar das reuniões e dos piquetes. Além disso, incentivei outros a fazerem o mesmo”, contou. “No entanto, no dia em que Silva foi morto, estávamos passando por um momento muito forte de repressão. E na fábrica Sylvânia os trabalhadores não estavam conseguindo parar um turno. Ele foi até o local para tentar ajudar. Depois disso, só recebi a notícia [do falecimento] e até hoje para mim é difícil”, afirmou.
Luiz França/CMSP
Santo Dias era católico e participava da pastoral operária. Essa dedicação do trabalhador, de acordo com o padre Luiz Giuliani, foi fundamental para ajudar no processo de retomar a democracia no Brasil. “Ele nunca pegou em uma arma. Trabalhava muito, no entanto, o sindicato fazia oposição ao regime e ele foi uma das vítimas. Quando o juiz me interrogou sobre ele, já tinha dito que deveria ser considerado até mesmo um santo”, ressaltou.
Rede de articulação operária
O ex-deputado e também metalúrgico Aurélio Peres destacou os encontros dos operários na igreja da Capela do Socorro e como recebeu a notícia da morte do amigo. “Na greve de 1979 eu já era deputado, e fiquei na igreja para qualquer necessidade dos trabalhadores. Qualquer problema, por eu ter imunidade, iria dar proteção a quem precisasse. Quando me ligaram foi para avisar que estava no hospital, mas, ao chegar o médico disse que ele estava morto”, contou.
O presidente da Comissão da Verdade, vereador Natalini (PV), gostou dos depoimentos e adiantou que os relatos serão fundamentais para a elaboração do relatório dos trabalhos deste ano do colegiado. “A própria comunidade nos pediu para fazermos essa audiência pública, e esse encontro foi muito importante para a história. Resgatar o momento daquela greve operária e de maneira tão emocionante daqueles que participaram foi fundamental. Descobrimos, por exemplo, que Santo Dias tinha uma rede de articulação operária, e isso não está registrado nos livros”, disse.
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(31/3/2014 – 12h15)