A Comissão Extraordinária de Direitos Humanos, em reunião na tarde desta quarta-feira (2/12), decidiu cobrar esclarecimentos da Secretaria Estadual de Segurança Pública, do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e do Ministério Público de São Paulo sobre o caso da jovem Victoria Mafra Natalini. Os questionamentos também serão direcionados à direção da Escola Waldorf Rudolf Steiner, na cidade de São Paulo, onde a adolescente de 17 anos estudava.
Victoria foi encontrada morta no dia 16 de setembro de 2015, em uma fazenda na cidade de Itatiba (SP), após desaparecer no local no dia anterior. A estudante realizava, juntamente com outros alunos, uma atividade extracurricular promovida pela escola na fazenda. As investigações do caso até hoje não foram concluídas e as circunstâncias da morte da jovem ainda não foram esclarecidas pela justiça.
A decisão de enviar os questionamentos foi tomada após o pai de Victoria, João Carlos Natalini, fazer um longo relato à Comissão de Direitos Humanos sobre o caso. Em seu depoimento, ele afirmou que, desde o início, a família contesta a investigação oficial. Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal) de Jundiaí (SP), a jovem morreu de “causa indeterminada, sugestiva de morte natural”.
Entretanto, peritos particulares contratados pela família de Victoria apontaram que a causa da morte da adolescente foi por “asfixia mecânica, na modalidade de sufocação direta”, diferente do laudo oficial. Segundo acusa o pai de Victoria, a jovem foi vítima de homicídio doloso.
João Carlos Natalini também fez uma série de apontamentos sobre possíveis falhas na condução da investigação, na colheita de provas e em relação aos depoimentos prestados pelas testemunhas do caso. Ele também contesta a postura da escola durante a realização da atividade extracurricular e após a morte da adolescente.
Por fim, o pai de Victoria fez um apelo aos membros da Comissão de Direitos Humanos. “Eu peço para que se faça uma representação junto ao Ministério Público por essa Comissão, para que se leve ao conhecimento da Polícia Civil que essa Comissão está acompanhando o caso, de forma que nós tenhamos um pouco mais de subsídio para poder cobrar as autoridades por justiça. E, principalmente, nós pedimos para que se leve ao conhecimento do Ministério Público, para que o MP possa ter uma posição mais ativa e designar um promotor público aqui da capital acompanhar a atual investigação, para impor celeridade e apoio na investigação final desse processo, porque até hoje eu sinto como se não tivesse enterrado, não tivesse sepultado a minha filha”, desabafou João Carlos Natalini.
Presente à reunião, a vereadora Soninha Francine (CIDADANIA) demonstrou indignação após ouvir os relatos do pai de Victoria. “Quero manifestar meus sentimentos profundos… A gente tem a necessidade que não foi plenamente de investigar o homicídio, quem foi o autor do homicídio, e a gente tem a necessidade de investigar a atuação de várias autoridades. Como assim, um laudo dizendo que a indicação era de morte natural? O autor desse laudo é uma autoridade, é um servidor público, tem fé pública, ele tem que ser interpelado. Isso é um absurdo”, ressaltou Soninha.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos, o vereador Eduardo Suplicy (PT) comentou os encaminhamentos do caso. “A Comissão vai colocar em notas taquigráficas todo este depoimento tão importante e significativo do João Carlos Natalini, para que possamos então, a partir deste depoimento aqui ouvido, encaminhar questões às autoridades responsáveis indagando sobre todas as providências até agora tomadas para elucidar inteiramente este episódio e para que a família e a sociedade paulistana possam saber exatamente o que aconteceu com a Victoria Natalini”, disse Suplicy.
Também presente à reunião, o vereador Gilberto Natalini (sem partido) exaltou o esforço da Comissão de Direitos Humanos em discutir o caso. “Eu queria agradecer muito profundamente a sensibilidade que vossas excelências tiveram de acatar o meu requerimento para que a Comissão fizesse uma reunião de trabalho sobre esse caso. Como eu sou parente da vítima, sou primo quase irmão do João Carlos porque nós crescemos juntos, e tenho a Victoria como uma sobrinha, eu sempre tive muito cuidado de me posicionar nesse caso, para que não fosse mal entendido e achassem que estava usando a minha vida parlamentar para proteger ou para defender um assunto de família. Mas o caso é muito indignante e nos causa uma profunda tristeza”, afirmou Natalini.
Acompanharam a reunião os vereadores Fernando Holiday (PATRIOTA) e Juliana Cardoso (PT), além da advogada criminalista Simone Badan Caparroz, que trabalha para a família de Victoria Natalini.
A íntegra da reunião desta terça-feira pode ser conferida neste link.