A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais da Câmara Municipal de São Paulo homenageou a memória da jornalista Elza Hatori, que foi por 32 anos repórter dos jornais Diário Popular e do atual Diário de S.Paulo.
Elza esteve na linha de frente da apuração de importantes casos, com destaque para a cobertura da abertura da vala clandestina do Cemitério de Perús (Cemitério Municipal Dom Bosco, construído na primeira gestão do prefeito Paulo Salim Maluf) determinada pela então prefeita Luiza Erundina em 4 de setembro de 1990. Na vala estavam ossadas de vítimas da repressão militar e do Esquadrão da Morte, além de indigentes. Foram desenterrados 1.049 restos mortais. Também marcou sua atuação nas reportagens sobre a chacina do Presídio do Carandiru.
A homenagem foi uma iniciativa do vereador Ítalo Cardoso (PT). “A atitude [da prefeita] abriu a possibilidade para muitos nesse país de enterrar os seus parentes queridos. Os familiares de desaparecidos foram determinantes para que esse processo fosse pra frente. O público que nós queríamos que lessem informações sobre esse período era o que lia o que a Elza Hatori escrevia no Diário Popular que era lido nas fábricas”, salientou Ítalo, que ainda complementou: “Aquela mão da Elza era uma arma poderosa. Garanto que o que ela escreveu, que não passou pelos filtros, merecia um livro.”
Trabalho
Amigos e antigos companheiros de Diário realçaram a discrição que sempre caracterizou Elza, falecida há duas semanas depois de três anos de luta contra o câncer. “A Elza era uma pessoa extremamente simples, discreta, apesar de a gente considerá-la o que chamamos de um verdadeiro ‘pé-de-boi’, fazia de tudo. O Diário conseguiu dar sequência ao processo de investigação [das ossadas de Perus], graças ao trabalho dela. Nesses 17 anos que eu trabalhei no jornal, nunca vi ninguém se queixar da Elza”, declarou o ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, Everaldo Gouveia.
O presidente do Sindicato, José Augusto Camargo, que também foi colega de redação de Elza, também prestigiou a homenagem. “Ela se destacava por ser discreta numa redação composta por jornalistas muito barulhentos. O Diário era um jornal popular, de massas e de qualidade. As experiências de jornal popular não tem dado muito certo, talvez porque não tenham encontrado o seu formato”, comentou.
A filha de Elza, a fonoaudióloga Julia Hatori Kato, agradeceu a homenagem da Comissão de Direitos Humanos e se sensibilizou com os relatos e pronunciamentos. “Ela nunca levava assunto do trabalho para casa. Fico muito admirada com o profissionalismo dela, sempre foi muito dedicada, nunca levava dúvida para casa. Ao contrário tirava dúvida de quem ligava para ela…”, lembrou. “Por ela ser muito discreta, ele nunca quis ser chefe de redação. Ofereceram [a chefia da redação] várias vezes para ela”, acrescentou.
Elza Hatori debutou nas redações como estagiária do Diário em 02 de maio de 1977. Depois de muitos anos como repórter da editoria de Cidades, transferiu-se para o caderno de Economia.
A Comissão também aprovou a indicação dos vereadores Ítalo Cardoso e Quito Formiga (PR) para, respectivamente, titular e suplente do Conselho de Monitoramento das Políticas de Direitos das Pessoas em Situação de Rua na Cidade de São Paulo.
Compuseram a mesa da homenagem, os vereadores Gabriel Chalita (PSDB), presidente da Comissão; Quito Formiga, Ítalo Cardoso e Jamil Murad (PCdoB); além de Júlia Hatori Kato, Everaldo Gouveia e José Augusto Camargo.
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