Os impactos econômicos da pandemia nos setores de hotelaria, eventos e turismo (incluindo viagens e transporte) na capital foram tema da sétima reunião virtual do Comitê Emergencial de Crise do Emprego e da Renda, realizada na manhã desta quarta-feira (23/6).
O Comitê Emergencial de Crise do Emprego e da Renda é uma iniciativa criada pela Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo que visa garantir o diálogo do Poder Público com trabalhadores, empresários, entidades representativas e conselhos, a fim de articular e promover medidas para combater os efeitos econômicos e sociais causados pela pandemia.
Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente da Comissão de Finanças e Orçamento, vereador Jair Tatto (PT). Participaram os vereadores Delegado Palumbo (MDB), Dr. Sidney Cruz (SOLIDARIEDADE), Fernando Holiday (NOVO), e Janaína Lima (NOVO).
Primeira entidade a se manifestar na reunião, a ABIH SP (Associação da Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo) apresentou um panorama das perdas da hotelaria no Estado de São Paulo e também na capital.
Segundo dados da associação, a cidade de São Paulo conta com 378 propriedades hoteleiras, totalizando 32.576 apartamentos – cerca de 10% do total do Estado. Na capital, as taxas de ocupação desses estabelecimentos caíram 65,54% em 2021, em comparação com 2019. Já a diária mensal caiu 29,56% no mesmo período.
Falando no cenário estadual, a receita estimada para 2021 em todo o Estado de São Paulo é de R$ 5 bilhões. Antes da pandemia, em 2019, esse montante foi de R$ 16 bilhões – perda de mais de R$ 10 bilhões.
Também houve redução acentuada dos postos de trabalho: em 2019, haviam 150.500 postos de trabalho diretos (fora as contratações indiretas, por temporada ou de cooperativas). Em 2021, o setor contabiliza 56.183 postos de trabalho – queda de 62,66%, equivalente a menos 94.317 funcionários empregados.
De acordo com pesquisa da ABIH SP, 60% dos hotéis do Estado ainda pretendiam diminuir o quadro de funcionários. 74,2% não conseguiram linhas de crédito, enquanto 9,16% conseguiram com bancos privados e 16,52% conseguiram financiamento público. Dos subsídios fiscais ofertados pelo Poder Público, 83,49% não conseguiram obter e 16,51% conseguiram. Sobre o BEM (Benefício Emergencial), 18,35% não aplicaram e 81,65% aplicaram, nas diferentes opções de suspensão de pagamento.
“Essa estatística do Estado é feita com base nos resultados de cada cidade, cada uma tem seu apelo turístico. Mas São Paulo capital, que é o nosso foco aqui, teve um impacto até maior, porque o turismo corporativo e o turismo de eventos parou totalmente. Então, se pensarmos em capital, o estrago é maior”, ressaltou Roberto Gracioso, vice-presidente da ABIH SP.
Além dos dados expostos, o outro vice-presidente da ABIH SP, Antonio Reinales, afirmou que hoje 28 hotéis estão fechados na cidade de São Paulo. “Imagina o quanto isso gera de desemprego e renda para a cidade. É muito importante encontrarmos um meio para mantermos a hotelaria ativa na cidade”, comentou. “Gostaríamos, na cidade de São Paulo, de pleitear a redução do IPTU e do ISS”, sugeriu Reinales.
Na sequência, Ondino Dutra Cavalheiro Neto, presidente do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas), comentou as consequências da pandemia nas empresas de aviação, com destaque para os impactos aos aeronautas (pilotos e comissários).
Segundo Neto, desde o início da pandemia houve redução de 60% dos voos, em relação ao período pré-pandemia. Essa queda, em alguns meses de 2020, chegou a 90%. Já os voos internacionais reduziram 95%. Na média, durante os 16 meses de pandemia, a redução em todos os setores aeroviários foi de 50%.
“Nesse contexto, o nosso trabalho no sindicato foi buscar formas de manter os empregos, reduzindo os custos de folha de pagamento para que isso pudesse ser suportado, e com isso a gente conseguisse que as empresas estivessem preparadas para uma eventual retomada, tendo a mão de obra à disposição”, comentou.
Nesse sentido, o presidente da SNA destacou que, dos 25 mil tripulantes que atuam em todos os segmentos do setor, apenas 2.700 perderam os empregos. Os demais empregos foram mantidos, mediante acordos coletivos para manutenção dos empregos.
Em sua fala, Neto fez dois pedidos aos vereadores. “O primeiro deles é um apoio junto à Secretaria Municipal da Saúde para que a gente possa ter uma vacinação da segunda dose dos profissionais da área mais organizada na cidade de São Paulo”, solicitou, reforçando a disponibilidade do sindicato em auxiliar na organização e custeio de um posto avançado de imunização para a categoria, que tem particularidades que impedem que seus trabalhadores consigam se adequar ao calendário vacinal padrão.
“O segundo pedido seria a liberação do rodízio para os tripulantes cadastrados. A gente enviaria uma lista dos nossos associados que são de São Paulo, não são muitos, e que, com isso, a gente conseguisse a liberação da restrição do rodízio para os carros de propriedade desse associados ao sindicato, pelo menos nos próximos meses que ainda têm algumas medidas de restrição”, completou.
Terceiro participante a se manifestar, Márcio Guerreiro, presidente da ABEOC (Associação Brasileira de Eventos de São Paulo) fez um apelo pelo setor. “A cadeia de eventos pede socorro, ela quer trabalhar”, disse.
Ele afirmou que há a necessidade de dar continuidade às medidas que impeçam a propagação do vírus, como as medidas de distanciamento e uso da máscara. E, respeitando essas regras, ele reforçou que é possível realizar eventos. “Evento não é aglomeração. Nós temos os nossos protocolos para que o evento saia, para que tudo aconteça de maneira satisfatória”, argumentou Guerreiro.
Logo após, Edmilson Romão, vice-presidente financeiro da ABAV (Associação Brasileira de Agências de Viagens), comentou que o movimento das empresas do setor caiu, em média, 30% em relação ao período pré-pandemia. Além disso, as agências de viagem perderam cerca de um terço dos funcionários. “Nós tivemos uma queda abrupta das vendas e dos nossos fornecedores também”, pontuou.
Romão ainda fez um apelo para o aumento do ritmo da vacinação, de forma que possa haver uma retomada segura do setor. “A gente depende da segurança psicológica e sanitária das pessoas. Elas só vão sair de casa quando tiverem certeza que não terão nenhum problema com o contágio. Muitas empresas deixaram de existir nesse período da pandemia e a gente tem pouco suporte, inclusive financeiro. Os créditos não chegam na ponta, para que as empresas tenham a retomada das atividades. Por isso, a gente precisa muito de vacina. Quando tivermos as pessoas vacinadas, sem o risco de se contaminar, só aí as atividades começarão a retomar”, analisou. “Nós somos feitos de pessoas e precisamos de pessoas para que possamos fazer esse show acontecer. E precisamos de medidas sanitárias para isso”, finalizou.
Por fim, Percival Maricato, conselheiro da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), falou sobre as consequências da pandemia nos bares e restaurantes da capital. “O nosso setor, como se sabe, sofreu um extermínio. Nós falamos que 20% [dos estabelecimentos] fechou, mas certamente uns 30% fecharam. Isso na cidade tem 60 mil estabelecimentos, representa alguma coisa perto de 18 mil empresas. 36 mil pequenos empresários perderam suas economias e estão endividados, 90 mil trabalhadores também estão sem esses empregos. 91% das empresas estão endividadas com funcionários, com banco, com fornecedor e com energia. O setor sofreu como nunca”, apontou.
“Eu acho que isso é muito ruim para a cidade, porque ele [setor] é o maior empregador, é o que mais oferece o primeiro emprego e, socialmente, isso é muito importante. A perda se reflete em economia, cultura, no aspecto social. Sempre foi, em todas as pesquisas, a mais procurada e mais avaliada atração turística, tanto pelos turistas domésticos, quanto internacionais. É a mais acessível e democrática opção de lazer, então eu acho que é preciso que a Câmara ajude a levantar o setor. Agora, nós continuamos quebrando diariamente. Diariamente dezenas de estabelecimentos quebram e pequenos empresários e trabalhadores não têm nem como sustentar sua família”, completou Maricato.
Após ouvir os relatos feitos dos representantes setoriais, o presidente da Comissão de Finanças, vereador Jair Tatto, analisou a situação. “Nós estamos percebendo que é uma cadeia produtiva e é um efeito cascata. Nós trouxemos o setor de eventos, hoteleiro, de transporte e viagens e podemos observar os impactos”, disse.
Participante da reunião, a vereadora Janaína Lima reforçou o papel do Comitê de Crise no auxílio dos setores impactados pela pandemia. “A gente tem que buscar, pelo nosso Comitê de Crise, para que a gente possa exigir, não é mais pedir, não é mais requerer, é exigir de fato uma política pública que atenda [os setores]. A gente precisa ter sensibilidade nesse momento, a gente precisa mobilizar o Poder Público e a nossa Comissão, uma das comissões mais importantes dessa Casa. E eu gostaria já deixar consignado a todos aqui que participaram desta reunião que a nossa Comissão está unida e imbuída na missão de buscar socorro, que é obrigação do Poder Público em chegar acolhendo e apoiando vocês”, destacou a vereadora.
A íntegra da reunião está disponível neste link.