“A educação tem raízes amargas, mas seus frutos são doces”. A frase do filósofo grego Aristóteles, escrita cerca de 300 anos antes de Cristo, por incrível que pareça, permanece atual em pleno século 21. A reflexão faz mais sentido ainda se levarmos em conta a situação do Brasil.
De acordo com o último ranking divulgado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o País, reconhecido internacionalmente pela desigualdade social, aparece apenas na 63ª posição em ciências, na 66ª colocação em matemática e na 59ª em leitura.
Para a diretora pedagógica Ellen Cristina, discutir educação é falar sobre o futuro. “ É pensar em um Brasil melhor. Numa geração melhor, mais consciente e responsável, e a escola faz parte disso, juntamente com a família e inclusive com os políticos. Todos fazemos parte desse processo”.
O colégio de Ellen, Conde Domingos, foi um dos premiados nesta sexta-feira (1º/9) no Segundo Concurso Literário. O evento, realizado na Câmara Municipal de São Paulo, reuniu mais de 300 pessoas no Plenário da Casa.
A iniciativa foi do vereador Toninho Paiva. “Esse evento é um incentivo para todas as escolas começarem a participar. O nosso objetivo é realmente divulgar a literatura. O povo brasileiro precisa de educação e nós precisamos apoiar essa causa”, disse.
A segunda edição do Concurso Literário premiou 55 estudantes e mais de cem educadores. A criadora do evento, a diretora pedagógica, Mary Iglezias de Carvalho Lopes, contou que teve a ideia na tentativa de despertar o interesse dos alunos pela literatura e escrita.
“Porque eu escutava muito dos meus colegas: ‘poxa, essas crianças não leem, não escrevem’. Então entendi que tínhamos de fazer algo. Começamos com poucas escolas. E hoje já são 16 participantes, entre colégios particulares e públicos. As escolhas foram feitas por uma banca examinadora da USP (Universidade de São Paulo). Então acho que nós estamos alcançando nosso objetivo”.
A mantenedora do colégio Iesus, Rosana Vendrami, reforçou as palavras de Mary, e disse que o reconhecimento aos estudantes contribuiu para formar jovens escritores no futuro.
“Para que eles continuem acreditando que são capazes. Estamos passando por uma época muito difícil onde a educação está sendo deixada de lado. E a gente precisa cada vez mais de seres pensantes. Acho que a redação é uma porta para isso, um caminho para que eles consigam colocar os sentimentos deles para fora”.
Além das redações em português, o concurso também criou um espaço para valorizar a fluência em línguas estrangeiras. A coordenadora de inglês do colégio Friburgo, Clice Sales, comemorou o reconhecimento da aluna Clara Castanha.
“Nós nos sentimos muito orgulhosos dela. Com certeza foi um trabalho desenvolvido ao longo de nove anos de ensino de inglês dentro da escola. Essa é a nossa meta, que o aluno possa um dia poder se comunicar em outra língua”.
As redações em português tiveram como tema “O Homem e a Natureza”, alinhado à mais recente proposta da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). O aluno Gustavo Gonçalves disse que aprendeu muito com o que escreveu.
“Eu fiz muitas pesquisas sobre esse tema. E evoluí bastante. Não esperava que os homens faziam isso [destruir a natureza]. Então foi uma lição. Uma experiência muito grande que eu vou levar para o resto da minha vida”, disse.
A aluna Julia Guarnieri Saraiva também ficou surpresa, em dose dupla. “Aprendi que a gente não cuida da natureza como deveria. A gente não a vê como um tesouro nosso. Além disso, também me surpreendi com o resultado. Quando minha professora contou que fui premiada, achei até estranho. Até agora não estou acreditando direito [risos]”, comemorou Julia.