Na primeira reunião do ano, realizada na manhã desta quinta-feira (10/2), a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Prevent Senior ouviu familiares de pacientes que faleceram de Covid-19 nos hospitais da rede na cidade de São Paulo. Os convidados a depor na Comissão denunciaram o uso de medicamentos ineficazes contra a doença no tratamento dos pacientes, além de revelarem o descaso no atendimento.
A primeira a prestar depoimento foi Sandra Aparecida Rodrigues Santos, cujo marido, Luís Carlos Oliveira Santos, morreu vítima da Covid-19 em julho do ano passado. Em seu relato aos parlamentares que compõem a CPI, Sandra informou que ela e o marido ficaram doentes na mesma época e logo que foram diagnosticados, numa das unidades da rede Prevent Senior, foi oferecido a eles o chamado “kit covid”, que reúne medicamentos comprovadamente ineficazes para tratar a doença. O casal, no entanto, rejeitou o tratamento, pois tinham conhecimento da ineficácia destes remédios contra a Covid-19.
Sandra contou que apesar do quadro do marido estar aparentemente mais grave, o mesmo foi mandado para casa três vezes após procurar atendimento na rede Prevent Senior. Somente na quarta vez, já bem debilitado, Luiz foi internado na unidade localizada no bairro do Paraíso, sendo transferido três dias depois para uma outra.
Segundo Sandra, um médico havia informado que a unidade para qual o marido dela seria transferido, possuía mais condições para tratá-lo. Entretanto, chegando no novo hospital, ela percebeu que o local era mal estruturado. “Eu percebi que ali não havia um cuidado com a limpeza, não tinha assepsia. O espaço era muito apertado, não havia ventilação no quarto. Ele só estava a meio metro de outro paciente doente. Ele pegou várias bactérias, ele pegou pneumonia”, afirmou ela emocionada. Luis morreu 14 dias depois de dar entrada nesta unidade.
O segundo depoimento foi de Luiz Cezar Oliveira cuja mãe, Sueli Oliveira Pereira, de 70 anos, também faleceu após ficar internada em três unidades diferentes da Prevent Senior na capital. Segundo Luiz Cezar, quando dona Sueli já se encontrava no segundo hospital da rede, para qual tinha sido transferida, localizado na Bela Vista, ele foi convencido por um médico da unidade a iniciar um tratamento em dona Sueli a base do medicamento Flutamida.
Após realizar uma pesquisa rápida sobre o medicamento, Luiz Cezar constatou que o mesmo era indicado para tratar câncer de próstata e não Covid-19. Ele questionou o médico sobre o uso do fármaco, mas o profissional garantiu que o mesmo era eficaz contra a doença. “Ele veio com explicações técnicas, falando de estudos e do sucesso que a Prevent Senior teve com a medicação, do índice de pessoas que saíram do hospital recuperadas. E eu acreditei nesse médico”, afirmou Luiz Cezar.
O tratamento com a Flutamida, no entanto, não deu certo e só agravou o quadro de dona Sueli. “Assim que a minha mãe começou a ser medicada, ela pontuou que sentia o fígado dela latejar. Depois que ela tomou essa medicação ela passou piorar e saturação começou a diminuir”, revelou Luiz Cezar. O quadro de dona Sueli se agravou, ela foi transferida para outro hospital da Prevent Senior, chegou a fazer uma traqueostomia, mas não resistiu.
Na próxima reunião, a CPI da Prevent Senior vai ouvir o médico Paulo Saldivas, autor de um estudo sobre as mortes por Covid-19 ocorridas em vários hospitais da rede pública e privada da capital, além da empresa Tech Sallus, responsável pelos prontuários eletrônicos da Prevent. Para o presidente da CPI, vereador Antônio Donato (PT), a presença de representantes da Tech Sallus será fundamental para esclarecer dúvidas sobre o sistema. “Segundo o Cremesp disse aqui, esses prontuários não possuem segurança tecnológica suficiente para garantir que os mesmos não sejam alterados depois e isto vai servir também como linha de investigação da nossa CPI”, afirmou o parlamentar.
A reunião da CPI da Prevent Senior foi conduzida pelo presidente da Comissão, vereador Antonio Donato (PT). Também participaram o vice-presidente do colegiado, vereador Celso Giannazi (PSOL), o relator dos trabalhos, vereador Paulo Frange (PTB), e os vereadores Milton Ferreira (PODE) e Xexéu Tripoli (PSDB).
A íntegra da reunião desta quinta-feira pode ser conferida no vídeo abaixo:
Muito estranho, meu marido ficou em quarto particular (nosso plano é enfermaria) e não pagamos nada de diferença, o hospital muito limpo, foi muito bem tratado, não tenho nada a reclamar, lamento pelas pessoas que não tiveram o mesmo tratamento!