Centro lidera os casos, seguido pela zona sul, em especial, Av. Jornalista Roberto Marinho
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Furtos de Fios e Cabos, instalada em 20/4 na Câmara Municipal de São Paulo para apurar os crimes relacionados a estes materiais na cidade, realizou sua primeira reunião nesta quinta-feira (4/5). Os integrantes receberam o gerente de Iluminação Pública na SP Regula (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Município de São Paulo), Maurício Nastari, e a gerente da Central de Operações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Efigênia Nicacio Lima, para colaborarem com informações.
“Ao final dos trabalhos da CPI o objetivo é o aprimoramento da legislação. Como serão expedidos os alvarás das empresas que operam neste mercado? Como é que vamos garantir mais controle?”, explicou o relator, vereador Coronel Salles (PSD) na abertura da reunião.
A gerente da Central de Operações da CET declarou que desconhece o tamanho do prejuízo com os furtos na capital paulista em valores financeiros, mas que possui o quantitativo de falhas em semáforos em decorrência de furtos de fios de cobre. Foram 4.798 falhas em 2021, 5.900 ocorrências em 2022 e 2.223 falhas até o final de abril de 2023. “Quando isso acontece são registrados Boletins de Ocorrência nas delegacias”, declarou Efigênia Lima.
Quanto aos locais da cidade com mais ocorrências de furtos de fios e cabos de semáforos e iluminação pública, o centro da capital lidera, seguido pela zona sul, em especial a Avenida Jornalista Roberto Marinho.
De acordo com o gerente de Iluminação Pública na SP Regula, Maurício Nastari, responsável pelo contrato da Prefeitura com a concessionária Ilumina, a principal ação de prevenção e combate aos furtos de fios de cobre no município atualmente é a Operação Sinal Verde, da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com parcerias. “A ideia é ir para cima dos receptadores, os ferros velhos que recebem este cobre”, declarou.
Da parte da concessionária Ilumina SP, Maurício contou que a prevenção é feita com a mudança de estrutura, com o isolamento da caixa de passagem e a troca gradual do material dos cabos para alumínio ou bicablado, que tem valor inferior em relação ao cobre. “O cabo bicablado tem ferro dentro, revestido por uma camada de cobre. Ele é muito duro e só se corta com ferramenta específica. Além disso, é muito difícil isolar o cobre, praticamente não vale a pena”, relatou.
Maurício contou à CPI que o cidadão acaba pagando indiretamente pelo prejuízo causado pelos furtos no valor embutido no risco tomado pela concessionária. Apesar de não saber o real prejuízo financeiro deste tipo de crime, ele afirmou que só em 2022 foram furtados 36 quilômetros de cabos de iluminação pública na cidade e até agora em 2023 foram 20 quilômetros. “A concessionária precisa restabelecer o material em 48 horas para não ser multada, e como a multa é mais cara que o serviço não vale a pena tomar multa”, disse Maurício.
O vereador Thammy Miranda (PL) perguntou a Maurício Nastari se há intenção de tornar os cabos e fios da cidade subterrâneos. “Dos cabos semafóricos a grande maioria é enterrado, pois existe lei que obriga. Já os da iluminação pública é o contrário, só cerca de 5% ficam no subsolo. Por incrível que pareça, é mais fácil roubar os cabos enterrados do que os aéreos, que estão há cinco metros de altura. O problema dos cabos enterrados é que para fazer a infraestrutura de acesso aos pontos você precisa ter caixa de passagem. Essas caixas, além de roubarem as tampas de ferro, ainda roubam os cabos. No caso da caixa semafórica é um pouco pior, porque além do cabo de energia ser furtado, eles rompem os cabos de comunicação que é a rede ótica. O meliante não sabe o que é e corta tudo. Estamos procurando isolar a caixa de passagem para dificultar o acesso”, respondeu Maurício.
Como a maior parte dos furtos acontece de madrugada, os convidados afirmaram que têm expectativa de melhoria no monitoramento com a instalação de 20 mil câmeras pela cidade, por meio de edital da Prefeitura.
“A CPI quer ajudar São Paulo a melhorar, pois não podemos continuar assim. Precisamos saber quem rouba, quem é o receptador e o todo o mercado envolvido”, pontuou o vice-presidente, vereador Eli Corrêa (UNIÃO).
Para o vereador Coronel Salles (PSD), mesmo sendo tratado como um crime de menor potencial ofensivo à vida, o furto de cabos e fios pode sim ser fatal. “Esses furtos podem causar tragédias no trânsito, atropelamentos de pessoas na falta de funcionamento de semáforos, podem elevar o risco de estupros, furtos e roubos com iluminação pública ruim, podem prejudicar a mobilidade urbana parando trens. A gente sabe que o elo mais perverso nessa corrente é o receptador, que mais lucra com o fio, precisamos mobilizar União, Estados e município para mudar isso”, defendeu.
O vereador Hélio Rodrigues (PT) disse que já existe quadrilha especializada nesse tipo de crime, que invade prédios desativados para pegar cobre e por isso será necessário envolver a segurança pública no trabalho da CPI.
A CPI ainda aprovou um requerimento de pedido de informações, direcionado à CET, SP Regula e concessionária Enel com várias perguntas, como o valor do prejuízo financeiro com os furtos e qual a destinação de sobras de materiais de manutenção, entre outras.
A reunião completa está disponível no vídeo abaixo: