A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Acessibilidade discutiu nesta terça-feira o atendimento a autistas na cidade de São Paulo. Tanto convidados quanto parlamentares concordaram que faltam no município políticas públicas voltadas especificamente para portadores dessa patologia, que atinge 100 mil pessoas segundo um dos presentes na reunião do colegiado, o psiquiatra Estevam Vadasz.
Vadasz, que é coordenador do Ambulatório de Autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirmou que o Brasil possui uma cultura de importação de ideias e prognósticos, que faz com que no país não existam referências no acompanhamento de autistas como ocorre em outros países. Entretanto, isso pode ser trazido a exemplo do que é feito em outros casos.
O psiquiatra afirma ainda que uma demanda antiga na cidade é a criação de Centros de Referência para autistas, a exemplo das unidades semelhantes que atendem idosos na cidade. Os centros consistiriam em locais onde se realizam tanto o atendimento ambulatorial quanto atividades culturais e educacionais.
A proposta também foi defendida pelo vereador Natalini (PV), presidente da CPI, que destacou a importância do diagnóstico precoce em casos de autismo e o controle de início imediato. Temos problemas tanto na política pública de diagnóstico e no preparo dos profissionais quanto na oferta de medicamentos, disse o parlamentar, para quem o Centro de Referência seria uma solução completa.
Para Luís Carlos Bózio, assessor especial da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, as mudanças devem ser ainda maiores. Temos que avançar como sociedade. Como poder público nem se fala. É fundamental propormos protocolos ao Ministério da Saúde e Governo Federal, com encaminhamentos que possam dar solução melhor em toda a rede, explicou.
Bózio justificou a ausência de políticas para autistas com o fato de as pessoas com deficiência física e intelectual terem sido matéria de legislação específica no Brasil apenas em 2008. Além disso, ele afirmou que cabe à sua pasta direcionar políticas públicas em diversas secretarias, não executá-las.
No caso dos autistas, Heloísa Maria Leite de Souza, da Associação Otimização Pró Autista, disse que o diagnóstico e intervenções iniciais são as maiores dificuldades que os familiares encontram no atendimento, porém o transporte de crianças e adolescentes também é precário na cidade. Em alguns casos, eles não querem usar o transporte coletivo. No lazer, por exemplo, não tem como levar para um passeio porque as mães não têm condições de pagar, completou.
Outra demanda dos familiares é a criação de residências assistidas para autistas com mais de 35 anos. As mães mais envelhecidas não conseguem levar para consultas e tratamentos, então acaba ocorrendo uma perda daquilo que eles já ganharam em conhecimento. Quando a família já não pode cuidar adequadamente, a residência é uma forma de continuar o tratamento que eles tiveram na infância e adolescência, propôs Heloísa.
(01/11/2011 – 15h17)