Representantes da Cruz Vermelha vieram à Câmara nesta quarta-feira (8/11), na Audiência Pública da Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente, para dizer não ao Projeto de Lei que propõe a criação de um parque no terreno que pertence à instituição, em Moema, na zona sul de São Paulo.
A área tem 46 mil m² e fica na avenida Moreira Guimarães, próximo ao aeroporto de Congonhas, e abriga um hospital, um galpão para armazenar doações e vários prédios administrativos.
O autor do PL 703/2015 é o vereador Gilberto Natalini (PV). Na justificativa da matéria, o parlamentar argumenta que o local deveria servir como mais uma opção de lazer e cultura para a cidade, principalmente por abrigar edificações com arquitetura histórica e pela necessidade de mais espaços verdes na capital.
Por ser de propriedade privada, o texto substitutivo da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) passou a prever a desapropriação do terreno por meio de uma declaração de utilidade pública.
A proposta causou a indignação da Cruz Vermelha. A entidade de ajuda humanitária informou que, em nenhum momento, foi consultada sobre a ideia.
Durante a reunião, no Auditório Prestes Maia, a gerente de Projetos Sociais e Voluntariado, Aline Rosa, afirmou que a instituição tem outros planos para o local: o objetivo é construir um shopping em parceria com a iniciativa privada.
Ela explicou que o empreendimento é uma estratégia para dar suporte financeiro ao hospital e às outras atividades da Cruz Vermelha em São Paulo, como doações e atendimento a vítimas de tragédias naturais, enchentes ou incêndios.
“O terreno é nosso. A gente quer ter autonomia para desenvolver os projetos que julgamos necessários e convenientes para continuarmos o nosso trabalho. Hoje a gente atende cerca de 90 mil pessoas. Se tivermos um projeto que nos traga sustentabilidade, podemos até dobrar esse número. E é isso que planejamos com o terreno que nos pertence”, justificou Aline.
A integrante da Cruz Vermelha também destacou que o galpão que funciona dentro do terreno já viabilizou a doação de mais de 100 toneladas de alimentos para mais de 80 comunidades carentes da cidade. “É um trabalho grande que não pode parar e que precisa de mais recursos para se expandir e garantir nossa sustentabilidade”.
A entidade beneficente alega que a ideia da construção do shopping foi bem recebida pelos moradores, como a administradora Patrícia Regina Linhares, vizinha do terreno.
“Primeiro porque já temos vários parques no entorno, como o Ibirapuera. Além disso, tem a questão da falta de segurança. E a possibilidade desse empreendimento [o shopping], além de trazer mais segurança, vai gerar empregos e atender toda uma demanda que hoje a área não tem”.
Vereadores
Durante o debate, o vereador Paulo Frange (PTB) se mostrou simpático à reivindicação da Cruz Vermelha. Na opinião do parlamentar, além do custo elevado da eventual criação do parque, o orçamento para áreas verdes na cidade deve ter outras prioridades.
“Somos favoráveis à criação de parques, mas em terrenos que estão desocupados, livres. E lá é um bairro residencial, com muita arborização, ao lado do Parque do Ibirapuera. Então, qualquer investimento para a criação de parques deve priorizar regiões onde há falta de áreas verdes. E temos um hospital lá. Transformar o local em parque seria praticamente impossível também sob o ponto de vista de gestão. Não tem a menor chance”.
Já o vereador Souza Santos (PRB) entende que o tema deve ser mais discutido, com a participação da população.
“Na verdade é uma questão a ser debatida com os moradores, para se levar em conta quais serão os impactos. Aqui na Comissão ainda não houve um entendimento. Para os moradores que vieram aqui, o parque vai descaracterizar o bairro. Além disso, há outras mudanças [ideias] que também podem ser usadas para atender as necessidades daquele lugar. Então é preciso debater”.
O vereador Natalini, que não faz parte da Comissão de Meio Ambiente, não participou da discussão. Mas o parlamentar, que é contra a construção do shopping, afirmou que o Projeto de criação do parque é importante para a cidade e tem o apoio de associações de moradores da região.