A tendência mundial de envelhecimento, de aumento na expectativa de vida, lança novos desafios às cidades, que precisam se adaptar. Em São Paulo, a população com mais de 60 anos cresceu 51,1% nos últimos dez anos e totaliza mais de 2 milhões de indivíduos, conforme o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Um dos desafios são os idosos que vivem sozinhos, seja por opção ou não. Este foi o tema da reunião da Comissão Extraordinária do Idoso e de Assistência Social da Câmara Municipal de São Paulo desta terça-feira (3/9).
O professor doutor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), Rodrigo Cardoso Bonicenha, afirmou que muitos idosos gostam de morar sozinhos para terem independência e a garantia de suas escolhas e que nem sempre morando com a família estão amparados, porque há idosos negligenciados dentro de casa. No entanto, ele acredita que é importante haver uma rede que forneça suporte aos que vivem só.
“Algumas pessoas escolhem viver sozinhas ou então acontece de ficar viúvo(a) e passar a viver sozinho(a). Uma coisa fundamental é se adaptar e ter uma rede de amigos, a dificuldade maior é com as pessoas que não conseguem fazer essa transição, porque a condição de saúde não está boa e não permite ter esses convívios. Por isso é tão importante ter uma rede de atenção, que acesse a residência da pessoa para prover serviços. É uma responsabilidade pública acolhê-las e mantê-las dignamente”, ponderou.
O médico sanitarista Nivaldo Carneiro Júnior destacou que, na pesquisa nacional ELSI-Brasil (Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), dos idosos que estão cadastrados no Programa de Saúde da Família, os que vivem sozinhos tem menos visitas domiciliares, do que os que não moram sozinhos.
“Isso nos leva a levantar a hipótese de que os idosos que moram sozinhos estão desassistidos, mesmo os cadastrados pelas equipes de saúde. Por isso é importante criar uma rede de apoio comunitária com políticas públicas em várias áreas sociais. É preciso que as unidades de saúde e de assistência social façam uma busca ativa de idosos que moram sozinhos, pois isso é algo que atualmente só acontece por meio de denúncia”, pontuou o médico.
O PAI (Programa Acompanhante de Idosos), da Secretaria Municipal da Saúde, em que profissionais da saúde acompanham idosos em suas atividades da vida diária, foi mencionado pelo professor Rodrigo Bonicenha como o único específico para idosos sozinhos. Mas ele defendeu a ampliação dessa política, uma vez que a demanda é maior que a oferta.
A coordenadora geral do Garmic (Grupo de Articulação para Moradia de Idosos da Capital), Olga Luisa Léon de Quiroga, disse que São Paulo é uma cidade violenta para o idoso que vive só. “Muitas vezes temos que viajar em pé no ônibus, se vamos ao médico sem acompanhante o médico não atende e se vamos fazer uma operação de catarata não somos operados se não tivermos acompanhante. As passagens que afirmam ser gratuitas para outros municípios, se não formos pegar com uma semana de antecedência não conseguimos. O que temos? Habitação? A não ser o projeto da Vila dos Idosos não temos outro projeto de moradia. Ser idoso é um privilégio, só que se a gente vai no banco, por exemplo, só tem um caixa para atender todo mundo e precisamos esperar por uma hora e meia”, contou Olga.
O vereador Manoel Del Rio (PT) tem defendido a criação de uma Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa na capital, no PL (Projeto de Lei) 219/2024 apresentado por ele para potencializar políticas e reservar um orçamento específico na área. “Existe uma carência muito forte de políticas públicas para atender a essas pessoas, há muitos que estão fora da rede de atendimento, passando fome em casa em situação crítica neste momento da vida”, expôs.
O presidente do colegiado, vereador Eli Corrêa (UNIÃO), falou que as contribuições trazidas para a reunião são muito importantes para encaminhamentos concretos na cidade. “Como vimos aqui algumas vivem só porque querem, mas muitas porque foram abandonadas, é importante conhecer essas realidades porque precisamos promover a atenção para que elas não fiquem desassistidas”, afirmou.
Requerimentos aprovados
Foram aprovados dois requerimentos na reunião, sendo que um solicita ao presidente da Casa, vereador Milton Leite (UNIÃO), que autorize a impressão de 150 exemplares do Estatuto do Idoso, para atender aos que pedem o documento ao colegiado para ficarem cientes de seus direitos. O outro requerimento define como tema de futura reunião a fiscalização e melhoria dos serviços de assistência social para idosos na cidade de São Paulo, com convite para a atual secretária Municipal da pasta, Ciça Santos.
A vice-presidente, vereadora Ely Teruel (MDB), também participou da reunião que pode ser assistida na íntegra no vídeo abaixo:
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Bom dia
Existem ILPI com vagas e, existe uma fila, que parece não andar.
Me voluntariei a cuidar de um idoso por ele estar com demência a um ano, mas, as vezes ele é muito agressivo, estou tentando uma vaga pelo Creas m’boi.
Não me sinto mais em condições psicológicas de continuar cuidando dele.
Antes disso ele morava sozinho
O Creas precisa ser mais ágil na avaliação da situação do idoso
Tenho 54 anos, quase uma idosa também