Não foi uma noite apenas de comemoração. A Sessão Solene em lembrança ao Dia Nacional do Surdo, realizada nesta segunda-feira (25/9), foi marcada pela reflexão sobre os direitos de todos que superam diariamente as barreiras impostas às pessoas que não podem ouvir ou que sofrem com graus mais severos de perda auditiva.
Seja por desrespeito à legislação ou por falta de políticas públicas mais efetivas, o fato é que o Dia Nacional do Surdo, comemorado todos os anos em 26 de setembro, passou a ser uma data de engajamento e conscientização.
Para discutir o assunto, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo, o evento reuniu representantes dos governos estadual e municipal, além de especialistas e entidades sem fins lucrativos.
Para o presidente da AME (Associação amigos Metroviários dos Excepcionais), José de Araújo Neto, as políticas precisam melhorar bastante. “Temos problemas em vários setores. Acredito que o maior problema dos surdos hoje é o atendimento na língua deles. Se a sociedade não está preparada, a participação social fica prejudicada. Porque quando eles precisam de algum serviço ou informação, a dificuldade ainda é muito grande”.
De acordo com Neto, existe uma boa expectativa em torno da LBI (Lei Brasileira de Inclusão), que entrou em vigor no fim de 2015, mas ainda está em fase de regulamentação. A Lei tem sido debatida em um ciclo de Audiências Públicas no Legislativo Paulistano. A iniciativa das reuniões é da vereadora Adriana Ramalho (PSDB), que também presidiu a sessão solene do Dia do Surdo.
“Tudo o que se refere à comunidade surda e às pessoas com deficiência precisa de uma atenção maior. Estamos avançando, mas ainda necessitamos de mais celeridade. A comunidade surda tem discutido bastante a questão das escolas bilíngues. Estamos discutindo políticas públicas com os principais quadros da gestão municipal e estadual, juntamente com as figuras que lutam para que os surdos possam ter as garantias da LBI na prática em nossa cidade”.
O secretário adjunto de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Luiz Carlos Lopes, reforçou a importância de se investir nas políticas públicas voltadas à inclusão.
“A presença dos alunos surdos nas escolas regulares, por exemplo, é um passo muito importante. Só que tem de haver um investimento constante e crescente nos recursos humanos. Nesse sentido penso que é importante o que tem acontecido na rede estadual. Temos vários professores interlocutores, auxiliando os professores nas salas de aula, e essa interação é fundamental para que a inclusão aconteça na prática”.
O convidado Paulo Vieira, que depende totalmente da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para se comunicar, lembrou que algumas medidas simples já podem tornar a vida dos surdos mais feliz.
“Por exemplo, eu adoro cinema. E quando um filme novo estreia eu fico muitas vezes sem acesso, porque a linguagem não é adaptada para nós. Então, sempre no mês de setembro, a gente faz essa luta para garantir acessibilidade a todos os surdos”.