Um encontro realizado nesta quarta-feira (9/11), na Câmara Municipal, comemorou o Dia Municipal da Luta Contra a Medicalização da Educação com um debate entre profissionais da educação, psicólogos, estudantes e munícipes sobre as políticas de combate à medicalização.
A data faz parte do Calendário Oficial da cidade e é comemorada dia 11 de novembro. Define-se como medicalização o processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes ordens são apresentados como doenças, transtornos e distúrbios que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais e afetivas que afligem a vida das pessoas.
“Esse dia municipal de luta é muito importante para nós, do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, porque marca um compromisso da cidade de São Paulo em pensar este tema no campo da educação, tentando trazer uma critica e discussão das formas que estamos tratando as crianças que têm alguma dificuldade de aprendizado. É uma forma de discutir o modelo escolar oferecido, na qualidade do ensino, e não na forma de culpar o aluno pelas dificuldades de aprendizado e criar diagnósticos clínicos para isso”, alertou a diretora do Instituto de Psicologia da USP, atual presidente da ABRAPEE (Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional) e representante do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, Marilene Proença.
Segundo a terapeuta Luana Marçon Botteon, supervisora do CAPS infanto-juvenil de Santana, o Brasil é o segundo país que mais medica crianças e adolescentes no mundo. “Hoje estamos com quase 27% de crianças medicadas em todo país, então podemos perceber que a medicalização já está dada como uma medida epidêmica. Precisamos saber o que fazer e como sustentar, na visão da área da saúde, para desconstruir isso. Refletir se as políticas públicas estão conseguindo atender as necessidades das crianças, adolescentes e suas famílias, e qual o perfil da sociedade acaba influenciando essa aprendizagem, e não necessariamente devem ser resolvidos com medicamentos”, ressaltou.
O vereador Eliseu Gabriel defende que o serviço público deva ser mais preparado e estimulado a buscar laudos mais criteriosos em relação a estudantes com dificuldades de aprendizado. “Nós estamos neste movimento que já existe há alguns anos justamente mostrando esse lado, mostrando a importância de ver que existem outros aspectos que influem na questão da aprendizagem e no desenvolvimento das crianças. Não somos contra os medicamentos quando eles se fazem necessário, mas é importantíssimo que haja esse entendimento e esse movimento de resistência”, afirmou.