A ‘loira gelada’, eterna vedete dos bares paulistanos, está começando a ficar fora de moda. O termo, usado pelos brasileiros para se referir a uma das maiores paixões nacionais, sempre na temperatura mais baixa possível, hoje já dá espaço a outras figuras, inspiradas em protagonistas da cena internacional, geralmente genuínas de países como Bélgica ou Alemanha.
A cerveja, como tradicionalmente conhecemos por aqui, está mudando de cor e ganhando corpo. Antes eram apenas procedentes da família Lager (termo que se refere ao produto industrial, de baixa fermentação). Agora, as do tipo Ale (de levedura de alta fermentação), por exemplo, ou Lambic (de fermentação espontânea), já fazem parte da rotina e do gosto de muita gente.
E essa diversificação parece ser uma tendência sem volta. A aposta é do jornalista especializado em cervejas artesanais, Roberto Fonseca. Ele foi um dos palestrantes da noite no seminário promovido pela Escola do Parlamento da Câmara Municipal nesta terça-feira (4/7).
“Acho que as pessoas tomaram o mesmo tipo de cerveja por muito tempo, e agora descobriram que há coisas diferentes em outros países. Isso acabou motivando os produtores a criar produtos diversificados, indo ao encontro de um público sedento por novidades”, avaliou.
Do ponto de vista econômico, Fonseca acredita que o momento é de oportunidade, especialmente na capital paulista.
“Já temos aqui um número crescente de bares vendendo essas cervejas, incluindo empórios e Brew Pubs ( locais de venda e produção próprias). Não só os pequenos produtores já perceberam, como as próprias gigantes do setor começaram a correr atrás desse mercado, onde o consumidor está disposto a pagar um pouco mais por um produto diferenciado”.
O fenômeno da produção artesanal transcende o mercado cervejeiro e já atinge outro velho conhecido da mesa paulistana. De acordo com o crítico gastronômico Luiz Américo Camargo, o ‘pão nosso de cada dia’, um dos alimentos mais antigos do mundo, também passa por transformações importantes, ainda que de forma gradual.
“Lembro que a primeira vez que escrevi sobre fermentação natural no Brasil me perguntavam: ‘Mas o que é o fermento natural ? Ele é um bicho? Ele morre? [risos]. Hoje isso já se tornou uma cultura crescente, que ainda é um nicho, mas as pessoas estão cada vez mais exigentes e estão querendo um pão nutricionalmente mais completo e mais sofisticado”, disse.
O jornalista também vê esse movimento como uma tendência sem volta. “Eu costumo dizer que bom gosto não tem marcha a ré. Depois de adquirido, não tem mais volta. Então as pessoas vão cada vez mais consumir pães bons, e vão cobrar essa qualidade dos padeiros”.
O evento Cultura Gastronômica na Cidade de São Paulo também abriu espaço para falar de outra paixão, talvez a mais emblemática da capital paulista: a pizza. A cidade, que consome cerca de 600 mil unidades diárias, fica atrás apenas de Nova Iorque no ranking mundial.
Ao falar sobre o assunto, o empresário do ramo Erick Momo atribuiu o sucesso do maior símbolo da culinária italiana por aqui ao fenômeno da imigração.
“Houve uma imigração italiana muito grande na cidade. Então São Paulo e a pizza estão totalmente vinculadas”. Momo afirmou que a crise financeira também atingiu o mercado das pizzarias, mas não mudou a preferência dos brasileiros, principalmente dos paulistanos. “O que houve foi uma adaptação. O cliente que consumia toda semana passou a diminuir a frequência, mas o produto em si continua sendo muito apreciado”, explicou.
O seminário, na Sala Sérgio Vieira de Mello, foi realizado em parceria com o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc . O presidente da Escola do Parlamento da Câmara Municipal, Humberto Dantas, destacou a relevância do debate em torno do tema.
“Sobretudo ao que o assunto nos remete do ponto de vista comercial: pizzaria, bar e padaria. Quer dizer, é o trio da gastronomia paulistana. E o objetivo foi exatamente de promover um evento onde a gente pudesse trazer essa discussão para uma cidade como São Paulo, uma das maiores capitais gastronômicas do mundo”. disse Dantas.
Nesta quarta-feira (5/7), o curso Cultura Gastronômica na Cidade de São Paulo terá uma segunda parte, quando especialistas discutirão as tendências e a gestão da cultura gastronômica na capital paulista.
As inscrições são gratuitas e devem ser feitas na página da Escola do Parlamento , no Portal da Câmara.