Após os anos obscuros do Estado Novo, quando a Câmara ficou fechada, entre 1937 e 1945, a democracia voltou a ganhar fôlego, e um novo período teve início com a volta da liberdade de pensamento.
Naquela época, os partidos políticos já se mobilizavam para preparar seus candidatos nos mais diversos níveis da administração pública. São Paulo já era a maior metrópole do Brasil, com dois milhões de habitantes. Na área econômica, a cidade já havia se tornado o mais importante centro financeiro, além de abrigar o maior parque industrial do País.
E foi a primeira vez na história que a Câmara de São Paulo teve tanta representatividade, com debates acirrados não só sobre o município, mas em relação aos principais problemas do novo Brasil que se apresentava naquela época.
Com liberdade plena para funcionar a todo vapor, a Câmara Municipal passou a concentrar debates fundamentais sobre a São Paulo que emergia na década de 1950.
De acordo com o professor de História Contemporânea, Alexandre Hecker, foi o momento em que o futuro finalmente batia à porta.
“É uma década espetacular para a cidade. Tivemos Jânio Quadros e o Ademarismo [de Ademar de Barros]. Ali se plantaram as raízes fundamentais do desenvolvimento da cidade, para o bem e para o mal. Porque muitas coisas que os vereadores denunciavam, em áreas como saúde e transporte, por exemplo, até hoje não foram resolvidas”.
Hecker é um dos organizadores da coletânea “História das Legislaturas Contemporâneas”, que teve a sua versão digital lançada oficialmente nesta segunda-feira (27/11) na Câmara.
A obra é promovida pela Escola do Parlamento. De acordo o coordenador da Instituição, Pedro Henrique Lopes Campos, um dos organizadores do evento, as publicações apresentam o panorama histórico político paulistano de 1951 a 1963, por meio dos volumes 2, 3 e 4.
“É a consolidação de um trabalho que a Escola tem feito desde 2012, quando o primeiro volume foi lançado. Esse evento hoje homenageia o trabalho dos autores e apresenta o resultado à sociedade. Cada livro representa uma legislatura. E a nossa ideia é registrar a história até o momento contemporâneo”, disse.
A professora de História do Brasil Esmeralda Blanco de Moura, especializada em Império e República, escreveu um capítulo sobre a infância e como o tema foi tratado pelos parlamentares na década de 1950.
“Embora se trate de um ambiente de exercício da política, com partidos com visões distintas, o interessante é ressaltar que a questão da infância criou um espaço de consenso. Houve o pleno reconhecimento de que se tratava de uma questão social importante a ser resolvida. Mas tanto no início do século XX, como durante e depois da década de 1950, o tema infância continua incomodando como questão social”.
Para o historiador oficial da Câmara e representante do Centro de Memória, Ubirajara de Farias Prestes Filho, o resgate da memória política paulistana é um exercício fundamental para o presente e o próprio futuro da capital paulista.
“É muito importante podermos direcionar o nosso olhar para a nossa localidade para os nossos problemas. E conhecer o passado nos torna mais responsáveis sobre o nosso papel hoje e sobre os rumos que temos de dar à política na cidade de São Paulo”.
Os livros que recontam a história das legislaturas que marcaram a Câmara Municipal de São Paulo ficarão disponíveis gratuitamente no site do Centro de Memória.