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Especialistas debatem prevenção ao suicídio na Comissão da Criança

Por: - DA REDAÇÃO

24 de setembro de 2020 - 20:46

O Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio, foi tema da reunião ordinária virtual da Comissão Extraordinária de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e Juventude nesta quinta-feira (24/9). O debate, que contou com a participação de ativistas e especialistas da área de saúde, foi conduzido pela presidente da Comissão, a vereadora Soninha Francine (CIDADANIA) e contou com a presença dos vereadores Fernando Holiday (PATRIOTA), Juliana Cardoso (PT), Patricia Bezerra (PSDB) e Paulo Frange (PTB).

Abrindo a discussão, a psicóloga com ênfase em adolescência e juventude com foco em depressão e suicídio, Fabiana Lambert Zayat, destacou a importância de debater o assunto na esfera pública, já que o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo e no Brasil figura entre o terceiro e quarto lugares. Além disso, Fabiana explicou que a depressão guarda uma relação íntima e é um fator de risco importante para o suicídio, assim como os transtornos psiquiátricos. Uma discussão que precisa ser cada vez mais ampliada e que precisa ser tratada por uma perspectiva de saúde mental, ressalta. “Promover saúde mental é uma coisa que a gente faz pouco, a sociedade tem pouco espaço pra gente falar de sofrimento, sem tanto estigma, sem tanto tabu”.

Validação do sofrimento

Fabiana compartilhou também a experiência que adquiriu, quando participou de um projeto de assistência psicológica em zonas de isolamento. “Uma das coisas importantes é a gente validar o sofrimento. Para isso, a gente precisa de uma escuta compreensiva. E acho que eu aprendi muito isso nesse projeto em áreas muito isoladas no Brasil, como o Pantanal, locais onde as pessoas não viam ninguém de fora há 10 anos, que nunca foram em uma cidade, e que estão realmente isoladas ali pelas enchentes. Sou psicóloga, achava que eu sabia, mas eu não sabia realmente o quanto a escuta compreensiva alivia o sofrimento e a importância disso para um tratamento. Só escutar, de fato, já é muito. E é algo que a gente faz tão pobremente na nossa sociedade”.

Sobre o suicídio, a psicóloga também destacou que é preciso entender que há uma diferença entre o adolescente que tenta e aquele que realmente tem a intenção de morrer. “Muitas vezes esse adolescente que não tem a intenção de morrer é profundamente desqualificado na sua dor. Mesmo que não tenha a intenção de morrer, é alguém que está usando um recurso, o comportamento suicida, para comunicar uma dor”. São duas situações que precisam ser abordadas da mesma forma, explica Fabiana, no sentido de validar o que aquela pessoa está sentindo.

“Quem comete tentativa de suicídio, muitas vezes não quer realmente morrer, ela quer acabar com o sofrimento. Aquela vida ficou insuportável. Então a morte, parece, é uma crença de que isso acaba. E o que a gente tenta trabalhar é que isso é uma crença, que na verdade vai depender do que você acredita em termos de religião, do que gente sabe, do nosso pouco conhecimento sobre a morte. Então a pessoa precisa de ajuda para enxergar outros caminhos”, finalizou.

Depressão na infância e adolescência

Psiquiatra de crianças e adolescentes no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (USP), Caio Casella aprofundou o debate sobre depressão nessas faixas etárias. Na década de 80, o especialista lembrou que existia a crença de que depressão era coisa de adulto. “Hoje em dia a gente sabe que a depressão está presente desde a faixa pré escolar. Ela aumenta muito a partir da fase da puberdade, chega a ter valor de 4 a 5% ao ano da população adolescente, que pode apresentar um quadro depressivo ao longo de um ano. Boa parte dos transtornos mentais começam mesmo na adolescência e eles tem uma taxa de recorrência muito grande. Uma depressão na infância, na adolescência, por exemplo, tem uma chance de voltar depois no início da vida adulta de 50% a 70% em até cinco anos”.

A ideia do imaginário popular da figura deprimida, que só quer ficar na cama, melancólica, que não quer fazer nada, não se aplica muito a essa faixa etária, explica Caio. “Muitas vezes o que a gente vai ver é uma irritabilidade. Esse é um traço muito marcante dos quadros depressivos. Várias coisas podem levar a irritabilidade na infância, na adolescência, mas é um sinal importante do quadro depressivo, um aumento mais importante da irritabilidade. E o adolescente que tá deprimido, muitas vezes ele está com os amigos, ele está rindo, e essa depressão aparece mais em casa”.

O psiquiatra também comentou a dificuldade em identificar os fatores de risco para um quadro depressivo ou um para um risco de suicídio principalmente quando se trata de adolescentes. “Algumas questões podem até confundir com algumas questões da adolescência normal. Às vezes o adolescente é um pouco mais irritado, um pouco mais opositor, faz parte do desenvolvimento normal”. A saída, aponta Caio, é ficar atento a uma mudança no padrão de comportamento do adolescente. “A irritabilidade aumentou muito de nível, o adolescente parou de fazer coisas que ele gostava de fazer, ficou mais isolado, mais retraído”.

Ansiedade e Covid-19

Outro ponto destacado pelo psiquiatra foi o atual momento da pandemia. A desestruturação da rotina de crianças e adolescentes, com a ausência das aulas presenciais, prática de esportes, e o isolamento e a sensação que ele causa tem um impacto muito grande na saúde mental. “Uma revisão publicada recentemente no jornal americano de psiquiatria mostra que a sensação de solidão tem um impacto muito grande na saúde mental de crianças e adolescentes, com quadros depressivos, e um impacto que pode durar por quase 10 anos”.

Caio falou ainda sobre o “Jovens na pandemia”, uma pesquisa mais de 8 mil jovens no Brasil, que aponta que metade das crianças chega a ficar mais de 8 horas expostas a eletrônicos, sem contar o tempo que ficam nas aulas on-line. “A gente tem encontrado taxa de ansiedade por volta de uns 13%, de depressão uns 16%”.

A importância da prevenção e da capacitação

Uma das participantes da reunião foi a enfermeira Elda de Oliveira, mestre em saúde mental e doutora em ciências pela Escola de Enfermagem da USP (Universidade de São Paulo) e pós-doutora pelo Departamento de Medicina Preventiva da Escola de Medicina da USP.

Elda, que atua nas periferias da capital paulista e nas escolas do município, destacou os ganhos sociais trazidos pela prevenção ao suicídio. “Por que a gente tem que prevenir o suicídio? Para promover a saúde e bem-estar dos membros da comunidade, para capacitar a comunidade a realizar e identificar os problemas de realizar intervenções, para capacitar profissionais de saúde outros que como se fossem portões para que realmente tenha a ação de ouvir e dialogar, e para que a prevenção possa ser tanto de políticas públicas para comunidades, da comunidade para política, do hospital para comunidade, da comunidade para o hospital. Essas direções são importantes quando nós estamos pensando na prevenção do comportamento suicida”, enfatizou.

Ela também elencou algumas medidas necessárias para que a prevenção ao suicídio seja eficaz. “Para pensarmos em ação de prevenção temos que considerar o lugar desses jovens, aonde eles estão inseridos, pensar no período geracional, pensar que nós temos diversas juventudes, porque são cortados por esses marcadores, pensar nas experiências que os jovens trazem para nós e que, ao trabalhar com eles, abrimos espaço para que eles possam ser ouvidos, além de utilizar as mídias para dialogar com os jovens e trabalhar com a escola e com a comunidade”, completou Elda.

Em nova manifestação durante a reunião, a psicóloga Fabiana Lambert Zayat alertou para a importância da prevenção ao suicídio no contexto da pandemia. “O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), inclusive, lançou um documento a pouco tempo alertando para o aumento dos riscos para o suicídio, para quadros de depressão e ansiedade, relacionados ao aumento do consumo de bebidas e o uso de drogas, o aumento da violência e as crianças mais expostas a isso em seus lares. Então acho muito interessante a gente realmente pensar quais seriam as estratégias em nível público do que a gente poderia fazer, com incremento e melhorias dos equipamentos de saúde e acolhimento”, afirmou.

Para assistir à íntegra da reunião clique aqui.

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