As ações sociais devem estar ligadas às políticas públicas de álcool e drogas. É o que defenderam nesta quinta-feira (21/9) os especialistas que participaram da reunião da Subcomissão Sobre Políticas de Drogas Envolvendo Cenas de Uso na Cidade de São Paulo.
Para o coordenador da PBPD (Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas), Mauricio Fiore, as “drogas estão inseridas em um contexto” que fazem com que as ações devam envolver diferentes áreas. “Precisamos aprimorar outras políticas de assistência social com as de cuidado e atenção aos usuários”, argumentou.
O psicanalista e integrante do laboratório Psicanálise, Sociedade e Política vinculada à USP (Universidade de São Paulo) , Rodrigo Alencar, chamou a atenção para a forma como a sociedade encara os usuários de álcool e drogas.
“É muito difícil lidar com o fato de que as pessoas usam drogas independentemente da opinião do outro e as camadas mais pobres da população acabam sofrendo uma exposição maior do que as de classe média alta. O que faz com que o debate tome outra ordem”, disse.
A presidente da Subcomissão, vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), concorda. “O que acontece na política de drogas é que ela envolve uma série de violações de direitos que se consolidam na procura do álcool e da droga. Quando temos uma população que não tem acesso à educação, saúde e cultura, vamos criando um nível de exclusão e essas pessoas procuram essas substâncias para esquecer que vivem nesse nível de marginalidade”, disse.
Para a tucana, é fundamental uma política de Estado. “É preciso fazer uma política que atenda a população na ponta, garantindo o que é dela por direito. Assim, vamos cessando as formações de Cracolândia e de pessoas em situação de rua. Para resolver esse problema não é em um dia, mas sim ao longo de anos”, acrescentou.
A necessidade de avaliações dos p.rojetos foi mais um dos desafios das políticas públicas que os participantes pontuaram. “Ao se pensar nos projetos de álcool e drogas devemos saber quais medidas serão usadas. Para saber quais foram os benefícios que cada ação trouxe”, disse Fiore.
A vereadora Soninha (PPS) foi na mesma linha. “Falta saber como devem ser avaliados os programas porque cada pessoa chega a uma conclusão diferente sobre o que foi um sucesso ou não. Não é simplesmente uma vez que a pessoa saiu do tratamento que significa que não funcionou”, declarou.
A lógica do mercado foi mais um dos aspectos criticados pelos especialistas. “Quando mantemos as drogas como algo proibido estamos triplicando o lucro da produção e o consumo. Precisamos de políticas potentes de enfrentamento à invasão do consumo de álcool e drogas”, argumentou.
A internação compulsória como maneira de lidar com os usuários de drogas e álcool foi criticada por todos os participantes. Para eles, a sociedade precisa compreender melhor outras maneiras de tratamento. “A redução de danos ainda tem uma certa resistência porque se tem a ideia que as pessoas precisam ocupar uma função produtiva e não podem sair especificamente desse lugar, porque elas se tornaram apenas um custo. Essa é uma visão limitada na medida em que as pessoas têm diferentes aptidões”, esclareceu Alencar. Para o psicanalista, é importante que se “tenha seguridade social e tolerância a determinados hábitos” no contexto da convivência.
A presidente da Subcomissão, elogiou o debate e sinalizou que essas discussões serão fundamentais para o trabalho dos vereadores. “Queremos trazer a sociedade para repensar e olhar para essas pessoas com outros olhos, e não como ‘vagabundos’. Precisamos dar oportunidade igual para todo mundo”, disse.
Só uma correção. Ninguém ali discutiu ‘combate’ às drogas.
Bacana.