Foto: Repórter do Futuro
Transporte e mobilidade urbana foram os temas do segundo encontro do módulo Descobrir São Paulo, Descobrir-se Repórter, do projeto Repórter do Futuro, que contou com a participação do ex-secretário Municipal de Transportes Frederico Bussinger. Também estiveram presentes o vereador Ricardo Teixeira (PV) e o jornalista Evandro Spinelli, repórter do jornal Folha de S.Paulo.
Bussinger, também ex-presidente da SPTrans e da CPTM, destacou em sua fala a relação entre transporte e o bom funcionamento da cidade, a opção brasileira pelo modelo rodoviarista e a necessidade de mudar de rumo. A mobilidade não se refere só a pessoas, também envolve bens, serviços e informações. A saúde da cidade depende da circulação dessas coisas, afirmou.
O único modo de transporte autossuficiente é o rodoviário. Você pode transportar qualquer coisa para qualquer lugar. Outros modos, como hidroviário e ferroviário, dependem do primeiro para chegar ao fim da linha, explicou.
Para o ex-secretário, um dos principais fatores que dificulta essa dinâmica é a falta de planejamento logístico. O Brasil concentra grande população, grande território e grande economia. A logística é um fator crítico de sucesso. Mas a questão não está na nossa agenda, os governos não entendem do que se trata.
A contrapartida da opção por rodovias é a poluição ambiental. De acordo com relatório do Plano Estadual de Mudanças Climáticas, no mundo, as emissões de carbono advindas do transporte correspondem a 13% do total. No Brasil, o número sobe para 42%. Temos uma matriz de transporte mais suja porque 60% do transporte no país é feito por rodovias. No caso de São Paulo, esse número salta para mais de 90%, informou.
Bussinger acredita ainda ser possível mudar essa matriz e citou como exemplo um plano europeu, lançado em março de 2011 para formar sistema único de transportes. O objetivo é cortar 60% das emissões de carbono na área de transportes. Uma das medidas é a substituição de 50% do transporte de passageiros e carga do modelo rodoviário pelo ferroviário e o hidroviário, mais eficientes do ponto de vista energético e de menor impacto ambiental, detalhou.
Na opinião dele, mudanças já estão ocorrendo e sugere a construção de um hidroanel como alternativa para o congestionamento da cidade. Se você pegar os rios Tietê e Pinheiros e as represas Billings e Taiaçupeba, você precisa de um canal de 25 a 30 km para formar um hidroanel de 186 km em São Paulo, projetou. Esse hidroanel, o rodoanel e o futuro ferroanel, se cruzariam em três pontos diferentes.
O transporte de lixo, por exemplo, poderia ser feito por embarcações em vez de caminhões, o que melhoraria o trânsito na capital, segundo a proposta.
CIDADE COMPACTA
Em sua exposição, Bussinger apresentou a articulação dos sistemas hidroviário, ferroviário e rodoviário de São Paulo como possibilidade para otimizar o transporte na cidade. O projeto SP 2040, parceria da Prefeitura com outras instituições, coloca como um dos objetivos a cidade compacta, ou seja, sua reorganização de modo que a população possa chegar a qualquer lugar de que necessite em, no máximo, 30 minutos.
Será que o problema é o transporte ou onde estão as coisas na cidade?, provocou o repórter Evandro Spinelli em sua fala.
Para o vereador Ricardo Teixeira (PV), ambos os aspectos são relevantes para pensar a mobilidade. Ele defendeu a proposta da cidade compacta. A saída para os grandes centros é a distritalização. Temos de morar perto de onde a gente trabalha, estuda e se diverte. Não dá pra tirar uma pessoa lá do Itaim Paulista todos os dias e fazê-la percorrer 30 km até Santo Amaro para trabalhar.
Além do rodoanel e do metrô que atingem diversos pontos da cidade, Teixeira destacou a importância de pulverizar a oferta de infraestrutura para que isso aconteça. A iniciativa privada já percebeu isso. Hospitais, universidades, centros comerciais já estão se espalhando. Mas o poder público tem que acelerar essa transformação, recomendou o vereador.
(23/01/2012 – 11h52)