Pelas ruas os passos dos pedestres são apressados, nas estações de Metrô as portas abrem e fecham a cada minuto. Entre buzinas, sirenes e motores ligados, o vai-vem de carros, ônibus e motos. Sem falar das idas e vindas das bicicletas – tipo de modal que cresce ano a ano. Em uma cidade onde os ponteiros parecem passar rapidamente, o fluxo de pessoas e veículos é intenso todos os dias.
E para uma metrópole como São Paulo, organizar o trânsito se torna um dos principais desafios. O planejamento exige uma série de ações a fim de garantir a segurança – seja dos motoristas, dos motociclistas, dos ciclistas e de quem anda a pé. A mobilidade urbana está na pauta das grandes capitais do mundo, que têm discutido medidas para especialmente evitar mortes provocadas em acidentes.
Uma das iniciativas criadas recentemente pela capital paulista vai ao encontro deste objetivo. Levando em consideração o aumento da frota de motos na cidade nos últimos dez anos – saltando de 833 mil em 2014 para 1,3 milhão em 2024 – o município criou em 2022 a Faixa Azul. O projeto consiste em demarcações exclusivas para a circulação de motocicletas em diferentes vias. Atualmente, são 215,2 quilômetros de sinalização.
A implementação da Faixa Azul foi feita pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Ricardo Teixeira (UNIÃO), que à época era secretário municipal de Mobilidade Urbana e Transporte. “Tínhamos uma quantidade de acidentes de trânsito envolvendo motociclistas em ascendência, e era preciso tomar uma providência”.
Teixeira explicou que o projeto estava parado na Prefeitura e foi tirado da “gaveta” para ser colocado em prática. Porém, de acordo com o chefe do Parlamento paulistano, como a sinalização não constava no Código de Trânsito Brasileiro, a Prefeitura precisou de uma autorização da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito). A primeira via a receber a Faixa Azul, há três anos, foi a Avenida 23 de Maio.
“Graças a Deus, a Faixa Azul salva vidas. É um projeto que salva as pessoas mais frágeis, que trabalham muito por esta cidade e que vivem em uma motocicleta. Às vezes, um simples tombo pode causar uma morte. Como a cidade tem um trânsito violento, a vinda da Faixa Azul trouxe essa paz, essa tranquilidade para quem anda nela”, disse Ricardo Teixeira.
No início deste ano, dados do Infosiga – sistema estadual de monitoramento da letalidade no trânsito – mostraram que de 2023 a 2024 houve redução de 47,2% nas mortes de motociclistas nas ruas e avenidas com a sinalização: foram 36 vítimas fatais em 2023 contra 19 em 2024. Em contrapartida, nos locais onde não há Faixa Azul o número aumentou 20%, subindo de 403 óbitos em 2023 para 483 em 2024.
O presidente da Câmara destacou que a capital paulista possui 20 mil quilômetros de ruas, e mesmo com a extensão do projeto, dificilmente será possível implantar a sinalização em toda a cidade. Para Ricardo Teixeira, as políticas públicas voltadas à segurança do trânsito são fundamentais. No entanto, o parlamentar entende que a educação e a conscientização das pessoas também contribuem significativamente com a mobilidade.
“Tem que ter uma campanha por parte do Executivo e dos órgãos de imprensa mostrando como a vida é frágil e como é muito grave essa questão dos acidentes. Tem que ter um envolvimento da sociedade. A Faixa Azul veio não só para ficar aqui na cidade. Outros municípios estão sendo autorizados pela Senatran para implantar a sinalização. Há, também, cidades aqui da América Latina copiando esse projeto”, afirmou Teixeira.
A previsão da Prefeitura de São Paulo é ampliar a sinalização em mais 200 quilômetros até 2028. No aniversário da cidade, em 25 de janeiro, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) lembrou dos três anos da implantação da Faixa Azul e ressaltou os pontos positivos que o projeto tem trazido para a cidade. “Vamos continuar ampliando as faixas pela cidade. A próxima será na Avenida do Estado, depois na Jacu-Pêssego/Nova Trabalhadores e, em seguida, na Avenida Roberto Marinho, que só depende do alinhamento com as obras do Metrô que estão acontecendo lá, para ampliarmos essas áreas que, comprovadamente, salvam muitas vidas”.