O nível do sistema Cantareira tem registrado queda desde o início do ano chegando a operar com menos de 10% de sua capacidade total, índice considerado crítico pelos especialistas. Essa situação, de acordo o professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Antonio Carlos Zuffo, poderia ter sido evitada se o governo tivesse começado a racionar água desde 2013 e não explorasse o reservatório em excesso.
O manancial, responsável por abastecer mais de oito milhões de pessoas só na capital paulista, passa pela pior estiagem dos últimos 84 anos. No entanto, entre 2001 e 2012 o cenário era outro, e a regularidade das chuvas possibilitou o aumento da produção de água. Nessa época deveria ter sido construído um reservatório com maior capacidade para armazenar o excedente. E a outorga vigente, que determina uma vazão de regularização de 36 metros cúbicos por segundo, deveria ser de 34 metros cúbicos por segundo para não haver uma super exploração do reservatório e o aumento de risco de desabastecimento, afirma Zuffo.
O racionamento já havia sido recomendado pela ANA (Agência Nacional de Águas). No entanto, a medida não foi adotada e, de acordo com recentes declarações do governador Geraldo Alckmin, a restrição não acontecerá.
Soluções
Para evitar o racionamento, o governo estadual decidiu utilizar a reserva estratégica de água das represas do Sistema Cantareira, o chamado volume morto. As bombas para a captação do recurso estão em operação desde a semana passada, a um custo estimado de R$ 80 milhões.
Com a adição do volume morto ao sistema, o nível do reservatório subiu para 26,7% na última sexta-feira. No entanto, Zuffo acredita que essa medida resolverá o problema apenas por pouco tempo. Esse recurso fará com que tenhamos apenas uma sobrevida do sistema. Mas e depois, de onde vamos retirar água caso não chova?, questionou.
Arte: Erica Mansberger
A restrição do fornecimento para a população, de acordo com o especialista, só será evitada se chover muito. Mas, de acordo com previsão do Climatempo, a situação só será normalizada em 2016. Neste ano, tivemos pouca chuva no verão e ainda teremos um inverno mais seco que o normal. As chuvas só voltam na primavera, em setembro. Mas apenas em 2016 é que teremos chuva com regularidade suficiente para normalizar o Sistema Cantareira, explicou o meteorologista Vitor Kratz.
A situação é agravada pelo desperdício, e Zuffo sugere que a Sabesp invista na infraestrutura para diminuir o problema. Metade do que é produzido na Cantareira se perde na distribuição. Se isso fosse resolvido já teríamos uma grande economia, declarou o professor da Unicamp.
No entanto, de acordo com ele, seriam necessárias obras na cidade inteira para viabilizar a medida. A Sabesp teria que identificar onde está o vazamento e trocar as tubulações. Para isso as ruas deveriam ser fechadas, então seria necessário autorização da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), e ainda teríamos o aumento do trânsito. Tudo isso leva tempo. Ou seja: é difícil, mas necessário. (Kátia Kazedani)
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(19/05/2014 -14:30)