A Câmara Municipal de São Paulo entregou, nesta segunda-feira (26/3), o Prêmio Heleieth Saffioti, que tem o objetivo de dar visibilidade a mulheres ou entidades que tenham se destacado em ações de combate à discriminação social, sexual, racial e na defesa dos direitos femininos.
Nesta edição, a premiação da noite foi destinada à desembargadora feminista Kenarik Boujikian e à Marcha Mundial das Mulheres. A iniciativa foi da vereadora Juliana Cardoso (PT).
“Falar da doutora Kenarik é dizer que, dentro da questão judiciária, há pessoas que se importam sim com a vida das pessoas e das mulheres. Ela construiu uma associação de juízes pela democracia e se tornou um exemplo do respeito aos direitos humanos. Já a marcha mundial de mulheres é uma instituição antiga, que desenvolve um trabalho fundamental nas periferias, sempre pensando em políticas ativas de combate à violência. Então, para mim é muito gratificante estar aqui hoje ao lado de pessoas que realizam trabalhos tão importantes”, disse.
Para a juíza homenageada, apesar dos avanços, a luta na busca pelos direitos femininos e pela igualdade continua árdua.
“É sim um momento de luta, como tem sido há muito tempo, e mais do que nunca necessário. Estamos vivendo um período de recrudescimento de exceção. Com isso, todas as conquistas que já tivemos estão se perdendo. Cada dia é um direito a menos, e isso também diz respeito às mulheres. Por isso, é muito importante que a gente continue cada vez mais forte e cada vez mais unida”, disse Kenarik.
Marielle
O evento, que lotou o Auditório Prestes Maia, também contou com um ato em homenagem à vereadora Marielle Franco, morta a tiros na região central do Rio de Janeiro no último dia 14. A vereadora Sâmia Bonfim (PSOL) participou do ato. Para ela, o assassinato da colega, sob suspeita de execução, torna ainda mais nítida a necessidade de união em torno da causa em defesa da luta das mulheres.
“A solidariedade do caso Marielle em nível internacional foi surpreendente. E aumenta o espaço para debatermos o tema das mulheres negras e dos direitos humanos. A gente deve tentar trabalhar em cima do luto e da dor para ter ainda mais força para pautar o nosso debate. E há muita força. Eu costumo dizer que o feminismo hoje é um fenômeno. É uma realidade social. A gente precisa transformar essa realidade em conquistas e em ações concretas, além do debate”, afirmou.
Na mesma linha, a representante da Marcha Mundial de Mulheres, Sonia Coelho, apontou para um momento de crise na democracia brasileira, o que também atinge as mulheres.
“Há um retrocesso de direitos humanos afetando principalmente a população pobre e as mulheres pobres e negras. É inadmissível que uma vereadora, uma pessoa lutadora como a Marielle, da expressão dela, tenha sido executada da forma como foi. Isso mostra a dificuldade que nós, os movimentos sociais e as pessoas que lutam por direitos humanos, estamos vivendo neste momento. Nossa democracia, que já era frágil, está sendo esfacelada”.
O Prêmio
O nome do prêmio é um reconhecimento à pesquisadora, escritora e militante Heleieth Iara Bongiovani Saffioti (1934-2010).
Formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Heleieth via a luta pelos direitos femininos como um meio de combate a todas as formas de opressão.
Criado em 2012, nos 80 anos de instauração do voto feminino, o Projeto foi idealizado pela vereadora Juliana Cardoso (PT) e instituído pela Resolução 2/2012 .