Divulgado na última quarta-feira (17/11), o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz destaca que a doença ainda representa um grande desafio e reforça a preocupação com o retorno, nos últimos dias, de medidas restritivas em diversos locais da Europa.
O documento destaca que o aumento do número de casos e mortes ocorre principalmente nos locais em que a cobertura vacinal não vem progredindo. Em contrapartida, no Brasil, até o momento, os dados monitorados pelo Observatório apontam a manutenção das tendências de queda dos indicadores (casos, óbitos e taxas de ocupação de leitos) relacionados à transmissão do novo coronavírus.
De acordo com o Boletim, a atual situação dos países europeus que estão enfrentando a volta da Covid-19 vem sendo chamada de “pandemia dos não-vacinados” e tem servido de alerta para a questão do avanço da vacinação nessas nações, em que parcelas da população não imunizadas vêm apresentando um alto número de casos de Covid-19.
Segundo dados disponíveis na plataforma Our World In Data, o Brasil tem hoje cerca de 60% da população com esquema vacinal completo, com uma estimativa de 1.15 óbitos por milhão de habitantes. Entretanto, países como a Áustria, Lituânia e Alemanha, com percentuais maiores da população vacinada (63,7%, 65,2% e 67% respectivamente) não só vêm enfrentando um grande crescimento de internações, principalmente entre os não vacinados, mas também no indicador de óbitos por milhão de habitantes, que se encontra em 2.23 para Alemanha, 4.00 para Áustria e 10.62 para Lituânia.
Os pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz afirmam que “definitivamente, a vacinação, descolada de outras recomendações não-farmacológicas, não será suficiente para determinar o fim da pandemia”. Eles chamam a atenção para o abandono das ações preventivas no Brasil, especialmente a liberação do uso das máscaras e o relaxamento das medidas de distanciamento físico. Segundo os cientistas, além de ser consequência da baixa adesão populacional, este cenário é principalmente um reflexo do desincentivo dos governos nos diferentes níveis para sua adoção.
Nesse sentido, o Observatório vem acompanhando o padrão dos indicadores de distanciamento físico, concomitante à progressão na cobertura vacinal. Um valor negativo significa que há maior circulação nas ruas do que no período anterior ao início da pandemia. Valores positivos, ao contrário, indicam que as pessoas estão mais reclusas em seus domicílios.
Os indicadores de distanciamento físico analisados mostram que no Brasil, desde meados de julho, o índice se encontra abaixo de zero. Ou seja, a população brasileira, hoje, tem circulado nas ruas de forma mais intensa do que antes da pandemia. “Embora este padrão não seja homogêneo no país (há diferenças entre estados ou municípios, por exemplo) os dados permitem dizer que trata-se de uma circulação de grande intensidade. O padrão é especialmente preocupante em um cenário em que os índices de transmissão ainda são considerados altos no país”, alertam os cientistas.
O Boletim chama atenção ainda para a ausência de distanciamento físico no país, que deve ser observada desde transporte público até atividades de comércio e lazer. Além disso, aglomerações em espaços abertos podem igualmente representar risco, já que a proximidade entre as pessoas é determinante do contágio. Somando-se a este quadro, estão eventos como festas de natal e réveillon e a chegada das férias escolares.
Por fim, o Boletim apresenta os dados registrados na Semana Epidemiológica 45, de 7 a 13 de novembro, que mostram um ligeiro aumento dos valores de indicadores da transmissão da Covid-19. Foram notificados, ao longo da Semana Epidemiológica, uma média diária de 11,4 mil casos confirmados e 260 óbitos por Covid-19.
Esses valores representam um pequeno aumento do número de casos registrados (1,9% ao dia) e do número de óbitos (1,2% ao dia) em relação à semana anterior (de 31 de outubro a 6 de novembro).
Outro dado apresentado pelo Boletim mostra que a taxa de letalidade vem caindo no país – atualmente ela está na faixa de 2,3%. Segundo a análise, apesar de ainda ser considerada elevada em relação aos padrões internacionais, a tendência comprova a efetividade da campanha de vacinação.
Mais sobre o novo coronavírus 1
De acordo com o boletim diário mais recente publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus, até esta quarta-feira (17/11), a capital paulista totalizava 39.016 vítimas da Covid-19. Havia, ainda, 1.539.923 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus.
Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo.
Em relação ao sistema público de saúde, os dados mais recentes mostram que a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 na região metropolitana de São Paulo, nesta quinta (18/11), é de 28,1%.
Já na quarta (17/11), o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 38%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.
A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.
Mais sobre o novo coronavírus 2
Na última quarta-feira (17/11), a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) anunciou que América Latina e Caribe já imunizaram metade de sua população contra a Covid-19. Embora a notícia seja positiva, a diretora da Opas, Carissa Etienne, ressaltou que há países como Guatemala, Jamaica e São Vicente e Granadinas que ainda não alcançaram a meta de vacinar 20% da população.
Na Nicarágua e no Haiti, a cobertura é de menos de 10%. Apesar de haver a expectativa de que cheguem mais de 3,5 milhões de doses de vacinas nesta semana, a Opas reafirma que a lacuna segue grande.
De acordo com a Opas, na semana passada, foram notificados cerca de 760 mil novos casos e 12,8 mil mortes. Os números representam uma redução de 5% em novos casos e de 17% em mortes em comparação com a última semana. Por outro lado, a organização informou que após semanas de queda, países mais populosos como Brasil, Colômbia e Estados Unidos observaram uma estabilização em novas infecções.
A Câmara durante a pandemia
Nesta quinta-feira (18/11), a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Prevent Senior realizou oitiva com a médica infectologista Carla Morales Guerra Godoy. Ex-funcionária da operadora de saúde, ela falou sobre a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 nos hospitais da empresa e confirmou que havia orientação direta para que os médicos prescrevessem o chamado Kit Covid aos pacientes.
Também foram ouvidos os médicos Fernando Oikawa e Saulo Emanuel, ambos da Prevent Senior, que depuseram sob a vigência de um habeas corpus preventivo resguardando, entre outros pontos, o direito de ambos permanecerem em silêncio quando indagados sobre fatos que os incriminem, incluindo o direito de não assinarem o compromisso de dizer a verdade, além de garantir o direito de companhia, assistência e comunicação com seus advogados. No caso, os médicos estiveram acompanhados do advogado da Prevent Senior, Aristides Zacarelli Neto.
Instalada no dia 7 de outubro, a CPI da Prevent Senior busca apurar denúncias relacionadas à atuação da operadora de saúde na capital paulista no enfrentamento à pandemia, como a possível subnotificação do número de casos e de óbitos por Covid-19 dos pacientes que foram atendidos nos hospitais da empresa.
Uma das suspeitas da Comissão é de que, para diminuir a quantidade de registros, a Prevent Senior teria agido para que pacientes com Covid-19 não tivessem a doença anotada em seus prontuários. Nos casos de morte, a informação também teria sido suprimida dos atestados de óbito.
*Ouça aqui a versão podcast do boletim Coronavírus desta quinta-feira
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