Na reunião virtual da Comissão Extraordinária de Relações Internacionais da Câmara Municipal de São Paulo desta quarta-feira (30/6), vereadores e convidados discutiram as vantagens das Redes Elétricas Inteligentes e a importância dos governos locais nos sistemas alimentares mundiais.
Convidados
Estiveram presentes na reunião, o professor da Escola Politécnica da USP, Nelson Kagan, e o secretário-adjunto municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Paulo, Armando Junior.
A participação dos convidados acima listados atende requerimentos aprovados em reuniões anteriores do colegiado. O debate foi presidido pelo vereador Aurélio Nomura (PSDB).
Smarts Grids
O professor da Escola Politécnica da USP, Nelson Kagan, foi o primeiro a participar da reunião e iniciou sua fala explicando um pouco sobre o conceito das Smarts Grids, mais conhecidas como Redes Elétricas Inteligentes. “É uma convergência tecnológica que permite a todos maior eficiência energética e otimização de serviços. Essas redes são capazes de integrar, de forma inteligente, ações de todos os usuários conectados a ela, ou seja, geradores e consumidores, buscando prover uma energia elétrica mais eficaz, sustentável, econômica e segura”.
Para o professor, a adoção deste modelo no Brasil pode ter importante impacto positivo sobre problemas hoje corriqueiros. “No Brasil, questões como roubo de energia, tempo médio gasto para detectar e localizar a falta de energia quando há motivações técnicas, e a redução do custo operacional seriam rapidamente sanados, proporcionando maior qualidade do serviço oferecido para a população”, explicou.
Laboratório Smart Grid da USP
Precursor no desenvolvimento de pesquisas desta tecnologia no país, o Laboratório Smart Grid da USP (Universidade de São Paulo) é um dos mais bem equipados da América Latina. Sobre a importância do espaço para o Brasil, Nelson Kagan declarou que “o laboratório tem avançado muito em pesquisas sobre energia inteligente. Ali conseguimos simular com precisão os impactos dessas tecnologias no nosso sistema elétrico hoje. Com essa iniciativa esperamos contribuir para a implantação das Smart Grids no país, beneficiando diretamente o cliente por conta da otimização da operação”.
Ônibus elétricos
Seguindo na temática da eficiência energética do país, o vereador Aurélio Nomura (PSDB), pediu para que o professor falasse um pouco sobre os ônibus elétricos. “Tenho visto que algumas cidades como Bogotá e Santiago estão mais avançadas no transporte elétrico. A gente vê que estes testes ainda estão muito incipientes aqui no Brasil. Temos condições de acelerar esse processo? ”. Outro ponto abordado pelo parlamentar foi a dependência que o país ainda mantém sobre as hidrelétricas. “Não seria o caso de pensarmos um processo que reduza a perda energética na cidade? ”.
Sobre os ônibus, Nelson Kagan explicou que uma das limitações ainda existentes no país para a implantação deste tipo de transporte são os impactos negativos e econômicos que a instalação de postos de abastecimento apropriados pode gerar. “É uma tendência lá fora e acho importante pensarmos nessa possibilidade não só para o transporte público, mas para todos nós aqui no Brasil, mas temos que levar em consideração o fato de que isso exige postos de abastecimento diferentes do que temos hoje, tem um custo nisso”.
Crise Hídrica
Quanto à dependência do sistema hidrelétrico, ele concorda com a necessidade colocada pelo vereador, de buscar novas opções e fontes de energia, mas acredita que ainda há um caminho a ser percorrido. “Somos ainda muito dependentes do sistema hídrico e isso limita as ações e impacta negativamente as tarifas cobradas. Em todo o mundo a discussão já avançou. Podemos pensar em ter mais incentivo para desenvolver isso aqui. A ENEL, por exemplo, nossa parceria lá no laboratório, tem trabalhado no sentido de não sermos mais tão dependentes do sistema hídrico e não sofrermos com a falta de água. São tecnologias que já existem e se empregadas, trazem pouco impacto ao meio ambiente. Estamos caminhando”, concluiu.
Cidades Inteligentes
Respondendo as indagações do vereador André Santos (REPUBLICANOS), o professor Nelson Kagan trouxe para discussão os critérios necessários para que uma cidade alcance o status de cidade inteligente. Para ele, o Brasil ainda precisa resolver problemas estruturais primários antes de pensar em entrar neste ranking. “São várias cidades inteligentes hoje no mundo. No topo do ranking temos Londres, Nova York, Tóquio. Aqui no Brasil ainda não temos muitos avanços, mas chegaremos lá. É um processo que exige tecnologia, informação e inteligência artificial. O problema é que temos muita coisa para resolver antes de chegarmos a isso. Não dá para ser inteligente sem oferecer o básico. Mas, dentro das nossas possibilidades, já temos sistemas inteligentes operando e dispomos de muita gente boa trabalhando nisso”, afirmou.
Contribuições do Legislativo
Diante da apresentação do professor, a vereadora Cris Monteiro (NOVO) questionou se a Câmara poderia auxiliar em algum aspecto nos avanços das pesquisas e desenvolvimento das energias inteligentes em São Paulo. “Enquanto Casa de leis, me pergunto aqui se podemos contribuir de alguma forma para melhorar esse cenário”.
Nelson Kagan explicou que a atuação da Câmara é bastante importante, principalmente no que tange a regulamentação de medidas relacionadas ao setor energético. Para ele, é possível pensar em soluções inteligentes que melhorariam os serviços oferecidos na cidade. “A aprovação para enterrar os fios, por exemplo, foi importante. Mas, existem vários outros campos de atuação que podem ser considerados. Dá para integrar os sistemas de medição de água, luz, gás, etc. Temos a questão da telefonia que também pode melhorar e acredito que juntos, universidade e Comissão, podem obter avanços importantes para São Paulo”, finalizou.
Economia circular de alimentos
Outro tema discutido durante a reunião foi a importância dos governos locais nos sistemas alimentares mundiais. Para tratar deste tema, a Comissão recebeu o secretário-adjunto municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Paulo, Armando Junior.
Em sua participação, Armando apresentou alguns dos projetos da Prefeitura de São Paulo que incentivam a cadeia da produção circular e sustentável de alimentos na cidade. “Em 2019, São Paulo foi escolhida pela Fundação Ellen MacArthur como uma das três cidades a liderar o movimento de economia circular na cadeia alimentar e isso só aconteceu porque temos já funcionando na capital paulista projetos importantes de impactos econômicos e sociais bastante expressivos. Gostaria de citar aqui o Cidade Solidária, o Rede Cozinha Cidadã, com a distribuição de marmitas durante a pandemia; o Cozinhando pela Vida e tantos outros. Em todos os nossos programas, oferecemos qualificação para a comunidade e incentivos”, explicou.
O secretário-adjunto ressaltou também a importância de novas iniciativas neste sentido para a cidade. “Parece que não, mas 30% da cidade ainda é zona rural, por isso é essencial investirmos mais na cadeia circular. Novos projetos que estamos em fase de implantação e desenvolvimento são 400 hortas urbanas na cidade, Programa Estufa Escola, Coworkings Gastronômicos. Hoje temos dois desses na cidade que oferecem noções de empreendedorismo, aulas de culinária e tudo o mais. Tudo isso ajuda na geração de renda e melhora a vida das pessoas”.
Banco de Alimentos
Aproveitando a presença do secretário-adjunto, a vereadora Cris Monteiro (NOVO) trouxe para o debate o funcionamento do Banco de Alimentos da cidade, programa que arrecada alimentos frente a entidades, comerciantes e ONGs, e distribui para a população carente. “As instituições cadastradas fazem a entrega dos alimentos, mas como funciona esse cadastro? Há algum tipo de exigência? Qual o volume disso?”.
Sobre este assunto, Armando Junior explicou que há um chamamento público para que as empresas sejam selecionadas e a partir desse processo seletivo, elas passam a receber e a entregar os alimentos. “Atualmente, distribuímos cerca de 300 a 400 toneladas de alimentos por ano e as entidades passam por um processo seletivo na Prefeitura, apresentam uma série de documentos e só então desta avaliação podem iniciar o trabalho”. O secretário-adjunto colocou ainda a necessidade de fiscalização durante todo o processo. “Após cada entrega de kits, exigimos um relatório para que possamos checar se de fato o alimento foi entregue e se chegou à população mais vulnerável, que é o nosso público-alvo”, disse.
Nessa mesma linha, o vereador André Santos (REPUBLICANOS) indagou Armando sobre o mapeamento realizado pela Prefeitura para escolher o público elegível para receber o benefício. O secretário-adjunto explicou que a seleção é feita em parceria com a secretaria de Assistência Social, baseada nos dados já existentes no banco de dados deles. “Damos preferência para entidades que já se localizam em regiões mais vulneráveis e que mantenham cadastro regular na Assistência Socia”.
Compostagem na cidade
O vereador Aurélio Nomura (PSDB) ressaltou a importância do processo de compostagem para a capital paulista e pontuou a necessidade de ampliar o uso deste recurso. “Aqui na Câmara estamos discutindo a questão da compostagem, até com o apoio do Instituto Pólis, por sua importância para a cidade. Temos condições de aproveitar todos esses programas dos quais já dispomos para implantar conjuntamente a questão da compostagem e distribuir para os agricultores?”.
Armando Júnior informou que a distribuição do composto já é feita para agricultores e interessados que se dirigem até algum pátio de compostagem da prefeitura para retirá-lo e que há interesse da gestão atual de seguir ampliando este processo. “Isso já ocorre hoje e a ideia é ampliar para outras regiões da cidade em que temos hoje produção de resíduos orgânicos. O projeto faz hortas urbanas que ainda está começando a ser estruturado, também passa por isso. Se a gente sentir a necessidade, existe ainda a possibilidade de criarmos pequenas composteiras em cada uma dessas novas hortas para que a população possa utilizar esse adubo”, concluiu.
A íntegra da reunião pode ser conferida aqui.