A Câmara Municipal de São Paulo sediou nesta segunda-feira (13/5) a primeira edição do Fórum de Debate Público: Trabalho e Renda da Rede da Pessoa com Deficiência. O encontro é uma iniciativa da ONG Rede do Abraço, que apoia o empreendedorismo e fortalece a empregabilidade e renda da pessoa com deficiência e da vereadora Sonaira Fernandes (PL), e tem como objetivo debater barreiras e oportunidades no mercado de trabalho para PCDs (Pessoas com Deficiência).
Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, divulgada em 2023, revelou que no Brasil há 18,6 milhões de pessoas com deficiência. No Fórum, familiares e pessoas com deficiência, além de profissionais de diferentes áreas, trocaram informações sobre a necessidade de aprimorar políticas públicas e a legislação sobre o tema.
“A gente tem uma lei de 32 anos de idade que estabelece cotas de 2 a 5% para serem ocupadas por pessoas com deficiências. Mas até hoje, os dados oficiais dão apenas 1,1% de ocupação. Com o público que a gente trabalha, com deficiência intelectual, autismo, sindrômicas, destes 1,1% empregados, os neurodivergentes ocupam apenas 9,6%, ou seja, é uma empregabilidade nula. Então a gente tem muito a avançar, pois o ecossistema inteiro relacionado às cotas de emprego é falho em muitas etapas”, explicou a presidente da ONG Rede do Abraço, Renata Fridman.
Os empecilhos apontados por quem tentou acessar as cotas são desde as barreiras arquitetônicas que a empresa não se compromete a mudar até o uso de tecnologias auxiliares, dependendo do tipo de deficiência, que deveriam ser empregadas para o viabilizar o trabalho. São motivos que levam os empregadores a escolher o tipo de deficiência “empregável” para gerar menor adaptação e ônus com o ambiente de trabalho.
O capacitismo é um forte impedimento, como descreveu a advogada Camilla Varella, presidente da Comissão de Direitos da Pessoa Com Deficiência da OAB-SP. “Qual é a grande dificuldade? Eles querem escolher o tipo de deficiência da pessoa que vai ser empregada, de preferência a pessoa que tem deficiência monocular porque enxerga de um olho, então não vai ter que fazer adaptação digital nem nada ou a pessoa que tenha audição só de um ouvido. Essa é a pessoa ideal! O cego total, o empregador já pensa no aplicativo digital para ele trabalhar com informática. Então, começou a dar um pouco de trabalho, ele já não quer”, expôs a advogada.
A médica do trabalho, Daniela Bortman, consultora de diversidade, equidade e inclusão no mercado de trabalho sentiu na pele o capacitismo. Há 18 anos ela sofreu um acidente de carro que a deixou tetraplégica. “Eu estava no terceiro ano da faculdade de medicina quando me tornei uma pessoa com deficiência e aí o meu primeiro não veio justamente do reitor da faculdade. Ele disse: – Não! Você é tetraplégica, você não pode ser médica! Tetraplégicos não são médicos. E aí eu fui a primeira pessoa tetraplégica a me formar em medicina. A gente parte de referências capacitistas, machistas, misóginas. Na medida que se impõe que um trabalho deve ser feito em um determinado padrão imposto, qualquer tipo de diferença vai ser vista como impedimento”, ponderou.
Uma iniciativa que tem atuado na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é a Adid (Associação para o Desenvolvimento Integral do Down), propiciando a inclusão profissional e socioeconômica de portadores da Síndrome de Down. Mônica Ribeiro Santos é uma das trabalhadoras auxiliadas pela Adid. Ela trabalhou por três anos em uma rede de farmácias e em junho deste ano completará 12 anos de trabalho administrativo em uma empresa que fabrica bombas hospitalares. “Eu sou muito independente, vou trabalhar sozinha, tomo ônibus, ajudo a equipe com e-mails, faço planilhas, participo de reuniões”, enumerou ela ao dizer que gosta muito do que faz.
A jornalista Gabriela Lian, mãe de criança PCD, colabora na área da informação para desmontar o capacitismo oferecendo pautas que conscientizem a sociedade. “Sempre teve uma questão de invisibilidade da pessoa com deficiência em nossa sociedade. Nós como jornalistas temos essa responsabilidade de convidar as pessoas a refletir e a partir disso ter ações que façam a diferença. Hoje é uma oportunidade de compartilhar informações relevantes e corretas sobre o universo da pessoa com deficiência e suas famílias”, relatou.
A dificuldade de conciliar o trabalho e ser mãe de PCDs foi o assunto abordado pela mãe de gêmeas autistas de seis anos de idade, Marcela Barci, relações públicas e influenciadora. “Hoje estamos aqui para discutir isso também, como conciliar a jornada de trabalho e o tempo com as crianças, levar nas terapias, escola e médicos. É algo que precisamos colocar na balança, já que ao mesmo tempo que precisamos do nosso trabalho e renda, precisamos dar esse suporte em casa. É bem difícil, tem faltas no trabalho, tem dias que a gente não consegue ficar o tempo inteiro lá. No meu caso as meninas têm nível três de suporte e graças a Deus tenho ajuda em casa, mas infelizmente nem todo mundo possui”, refletiu ao ressaltar a necessidade de trabalhar para pagar as terapias que são caras.
O assessor parlamentar da vereadora Sonaira Fernandes (PL), Thiago Cortês, anunciou que a parlamentar protocolou na Câmara Municipal, a Frente Parlamentar das Mães Atípicas. “A gente vai ter uma Frente Parlamentar para sediar reuniões, eventos e ações dessa temática das mães atípicas para que vocês possam sempre participar. O nosso mandato está aberto a essa temática e o que vocês precisarem podem contar com a gente”, disse, cumprimentando os participantes do Fórum.
Para assistir ao evento completo, acesse o vídeo abaixo: