A reunião deu foco ao atendimento da população em situação de rua
A Frente Parlamentar de Controle de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis)/HIV/Aids e Tuberculose, presidida pelo vereador Celso Giannazi (PSOL), realizou sua primeira reunião nesta quarta-feira (17/5) após ser instalada. Organizações sociais e representantes de programas municipais de controle dessas doenças discutiram sobre as políticas públicas atuais e suas falhas.
Um dos problemas é a falta de notificação da população em situação de rua. “A gente não pode aceitar que a Prefeitura não tenha números sobre a saúde da população em situação de rua. Como vamos desenvolver uma política séria e eficaz? É muito preocupante”, criticou o parlamentar.
O coordenador municipal de IST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde, Robinson Fernandes de Camargo, apresentou um panorama sobre a situação dos casos na cidade. De acordo com ele, o boletim de 2021 mostra que, no geral, desde 2017 houve queda sustentada na taxa de detecção por HIV de pessoas acima de 15 anos.
O maior número de pessoas contaminadas na capital se concentra em HSH (homens que mantêm frequentemente ou esporadicamente relações sexuais com outros homens, independente de terem identidade sexual homossexual) e homens na faixa etária entre 20 e 29 anos de idade.
Robinson também mostrou as taxas de infecção por supervisão técnica. De 2012 a 2021, Sé e Santa Cecília concentraram mais notificações de casos de HIV, seguidas pelas regiões de Vila Mariana, Jabaquara, Casa Verde e Cachoeirinha. De 2014 a 2021, a proporção de gênero foi de cinco homens contaminados para uma mulher.
Robinson também apresentou políticas públicas para fazer frente ao HIV/Aids, como o Projeto Echo, que promove conversas entre médicos, enfermeiros e gerentes de unidades em torno de soluções para falhas, casos mais complexos e articulações. Ele avaliou que o crescimento no uso de antirretrovirais PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e PEP (Pós-Exposição) foi um dos resultados.
Sobre a população em situação de rua, o coordenador municipal de IST/Aids afirmou que há uma parceria com o Consultório na Rua, instituído pela Política Nacional de Atenção Básica em 2011 para ampliar o acesso deste grupo populacional aos serviços de saúde. Ele apontou que este atendimento é importante para quem não consegue acessar o SAE (Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS), mas que mesmo assim parte desta população abandona o tratamento.
“Quanto ao número de pacientes, do uso de PrEPs, não temos esses dados. Infelizmente, os dados que a gente tem não mostram a cara dessa população, é uma discussão que precisa ser feita com o Ministério da Saúde”, lamentou Robinson.
A coordenadora do MOPAIDS (Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids), Patrícia Perez, criticou a invisibilidade da população em situação de rua para o Poder Público. “Não acredito que as pessoas deixem de se tratar por vontade e sim por não ter alimentação, moradia, trabalho, não ter dinheiro para pegar ônibus e acessar o serviço. Então são questões sociais que impõem barreiras de acesso ao tratamento”, explicou.
Thaïs de Azevedo, presidente da organização Pela Vidda SP de assistência a pessoas LGBT e vivendo com HIV, acredita que é preciso reforçar a educação sexual em casa e nas escolas para que a sociedade aprenda a respeitar as pessoas transgênero. “As pessoas trans se afastam do sistema de saúde por falta de respeito das pessoas, desde a pessoa da faxina, ao enfermeiro e médico que não nos reconhece acintosamente, impedindo um tratamento adequado que poderia dar qualidade de vida e reduzir a contaminação”, explicou.
O conselheiro municipal de Saúde, Walter Mastelaro, coordenador da Comissão de Aids e ISTs e da População em Situação de Rua, ressalta que é imprescindível tratar da saúde dessa parte da população de forma integral. “A política de saúde acaba não sendo efetiva na prática porque não consegue coletar dados e sem os dados não há aprimoramento das políticas e também porque não garante a saúde integral, que seria garantir moradia, alimentação e qualidade de vida”.
Tuberculose é prevalente na população de rua
A coordenadora do Programa Municipal de Controle da Tuberculose, Rachel Russo Leite, mostrou a situação da doença na capital e a rede de atendimento especializada. Segundo ela, o boletim lançado em março de 2023 mostra o aumento de pessoas doentes com tuberculose na região central da cidade e a prevalência na população em situação de rua, em especial pretos e pardos. “Há um tratamento supervisionado com medicamente para este grupo populacional no Consultório na Rua”.
Até o final de abril de 2023, houve o registro de 2.182 casos da doença. “A população economicamente ativa, de 20 até 60 anos é a mais afetada, com maior prevalência em pardos e pretos. Ao longo do tempo houve redução de casos em brancos”, destacou.
Brasil integra ação da OMS contra hepatites virais
A coordenadora do Programa Municipal de Hepatites Virais, Celia Regina Cicolo da Silva, informou que o Brasil é signatário da proposta da OMS (Organização Mundial da Saúde) de eliminação das Hepatites Virais B e C como problema de saúde pública até 2030, reduzindo as novas infecções em 90% e mortalidade em 65%. “Como a doença é assintomática, só detectamos por meio de exame sorológico”, esclareceu.
Como estratégia de enfrentamento, a coordenadora afirmou que no caso da Hepatite B não há cura, é preciso baixar a carga viral, mas existe prevenção com uma vacina eficaz. Já a hepatite C não tem vacina, mas tem tratamento eficaz que leva à cura em mais de 95% dos doentes. Para assistir a reunião completa acesse o vídeo abaixo: