Luiz França/CMSP
O rabino Henry Sobel lembrou nesta terça-feira (8/10) como foi a preparação do ato ecumênico que realizou, ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns e do reverendo Jaime Wright. Em 31 de outubro de 1975, dias após os militares anunciarem o suicídio de Vladimir Herzog, as três lideranças religiosas fizeram a cerimônia na Praça da Sé rejeitando essa versão para a morte do jornalista.
Sobel contou pela primeira vez que, na véspera do evento, três generais foram ao seu escritório. Foram muito educados e elegantes, todavia um apontou um dedo para mim, e disse: rabino, o senhor não deveria ir ao ato ecumênico, o lugar de um rabino é na sinagoga e não na catedral.
Ele disse ainda que teve vontade de rir ao ouvir o general. Tive que segurar a risada, minha resposta veio espontaneamente: General, vamos fazer um acordo. O senhor não decide o lugar de um rabino e eu não decido onde o senhor vai estacionar seus tanques. O rabino, norte-americano, disse que em seguida ligou para a Embaixada dos Estados Unidos, alertando-os do ocorrido.
Morte de Herzog mudou a minha vida
O rabino, que na época da morte de Herzog chefiava a Congregação Israelita Paulista, lembrou como foram aqueles dias. Os militares deixaram o corpo na Chevra Kadisha instituição responsável pelos cemitérios judaicos. Mas me avisaram que quando fizeram limpeza do corpo viram que havia golpes e sinais de tortura. Na hora disse que não íamos enterra-lo na ala dos suicidas. Sobel explicou, segundo a religião judaica, enterrar alguém como suicida é uma vergonha para o morto e família. Se não houver provas definitivas, a dúvida deve ser sempre utilizada em benefício do morto, completou.
Sobre o ato na Catedral da Sé, ele disse que a ideia partiu de Dom Paulo. Jaime Wright se somou logo em seguida, pois também havia perdido um irmão na ditadura. Depois do ato, ele disse que se sentiu mais frágil, vulnerável e mais responsável. A morte de Herzog mudou a minha vida e o rumo do nosso país, foi o catalisador da abertura política, concluiu.
Durante a reunião, o vereador Ricardo Young (PPS) também recordou o ato ecumênico. Young tinha na época 17 anos, e não conseguiu chegar à Praça da Sé por conta dos bloqueios que a polícia instalou na cidade. Mas foi esse momento que me fez acordar para a vida política. Eu ainda não sabia o que queria fazer da vida, estudava música, e então quis me envolver mais, afirmou.(Thaís Lancman)
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(8/10/2013 – 13h37)