Em reunião nesta terça-feira (8/12), o Comitê Emergencial de crise na Educação, vinculado à Comissão de Educação, Cultura e Esportes, recebeu o médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), Gonzalo Vecina Neto, para falar sobre as projeções de controle da Covid-19 a partir das vacinas, e o cenário que os paulistanos devem enfrentar em 2021, sobretudo, na educação.
De acordo com o médico, ainda não há um horizonte que declare o fim da doença, uma vez que não temos uma vacina. Mesmo com o calendário de vacinação do governo do Estado de São Paulo para o próximo ano, Vecina não acredita que seja possível vacinar toda a população até o fim de 2021 e, até lá, recomenda que os governos tomem decisões mais firmes.
“Tem que aumentar o distanciamento social de todos, evitar ambientes fechados e aglomerações. Os governantes têm que tomar a decisão de fechar coisas que estão abertas, mas que deveriam estar fechadas”, declarou. O médico também mostrou confiança nas vacinas em produção no Brasil e no mundo, e defendeu a vacina chinesa, a Coronavac.
“A sociedade brasileira tem que fazer pressão pesada na Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para que ela não possa procrastinar”, disse Vecina em relação à aprovação pela agência. Ele explicou que a Coronavac possui a mesma tecnologia de vacinas que já estamos habituados, como a da gripe, da febre amarela, tecnologia conhecida como vírus atenuado. “De todas em uso, essa é a tecnologia que mais conhecemos e que menos tem efeitos colaterais depois dos estudos de segurança. Eu tomarei a vacina quando for a minha hora”, afirmou.
Retorno às aulas
Vecina defendeu que as escolas sejam reabertas a partir do ano que vem. Na visão do médico, o prejuízo na aprendizagem será imensurável caso as escolas permaneçam fechadas em 2021. Ele afirmou também que o risco sempre existirá, mas que, no momento, sabe-se mais do que no início da pandemia, e é fato que as crianças pertencem a um grupo menos vulnerável à doença.
“A primeira preocupação no retorno é com a socialização e não a transmissão do conhecimento. É preciso garantir que as crianças voltem a se socializar”, argumentou. E, para esse retorno, o especialista defende alguns procedimentos, entre eles, que os protocolos para as escolas não sejam generalizados. “Não pode ser uniforme. A escola tem que estar preparada. Se tem condição, volta. Se não tem, não volta”, declarou. Vecina defende ainda que os alunos e profissionais do grupo de risco permaneçam em casa, e que os pais tenham a decisão final de retorno dos alunos.
Presente à reunião, o representante do Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo), Maciel Nascimento, disse que as entidades sindicais enviaram as considerações sobre a proposta de um calendário pedagógico para 2021 ao governo, mas que o documento final não incluiu medidas para discutir como se dará esse retorno.
“Praticamente inexiste a questão da pandemia, não cita discussões com Conselhos de Escola, com as famílias, nem nada voltado ao acolhimento dos alunos ausentes no período de isolamento social”, relatou Nascimento. Ele também declarou que o desejo dos profissionais da educação é de retornar aos seus postos de trabalho.
Também integrante da diretoria do Sinesp, Christian Sznick declarou que os protocolos de retorno adotados não incluem soluções e medidas propostas pela sociedade civil. “Houve uma escuta, mas não inclusão das medidas. Isso não pode ser considerado um diálogo”, afirmou.
Na avaliação do professor Gonzalo Vecina, é preciso que o governo ouça os trabalhadores e as famílias de forma mais adequada e que se proponha a negociar as medidas. “Ou o Poder Público aceita dialogar ou nós não temos que aceitar propostas inadequadas que sejam feitas”.
Estiveram presentes o vereador Eliseu Gabriel (PSB), presidente da Comissão, e Eduardo Suplicy (PT).