Distante dos holofotes da grande mídia, mas certamente com árduas tarefas nas mãos, os árbitros de futebol que apitam competições amadoras seguem suas trajetórias pelos gramados e pelos terrões da cidade. Os ‘homens do apito’ foram homenageados na noite desta segunda-feira (27/6) na Câmara Municipal de São Paulo, por iniciativa do vereador Jean Madeira (PRB).
“A Câmara Municipal hoje se transforma nesse grande gramado recebendo essas personalidades do mundo do futebol. O nosso intuito, o nosso objetivo é cada vez mais valorizar todos os árbitros, a várzea, o árbitro de várzea, e fazer com que esta Casa possa estar sempre aberta para discutir ações que possam beneficiar e fomentar o esporte”, afirmou Madeira.
A arbitragem sempre foi considerada um capítulo à parte no esporte mais popular do país e, no caso da várzea, mais ainda. No entanto, com o passar dos anos, a preocupação com a qualidade foi crescendo e hoje, ligas de árbitros profissionais são responsáveis pela condução das partidas nos principais campeonatos da cidade.
“Nós não pegamos muitas competições por querer manter uma boa qualidade e um compromisso sério com esses campeonatos que fazemos durante o ano, que dá em torno de 1500 jogos”, afirma Willians Rocha, presidente da ‘WD Arbitragem’, empresa que tem cerca de 150 árbitros em seu quadro, inclusive, árbitros filiados a FPF (Federação Paulista de Futebol), CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e até da FIFA.
Regildênia de Holanda Moura, árbitra credenciada pela FIFA, teve recentemente uma experiência no futebol amador. Ela conta que a principal diferença entre o estilo de arbitragem profissional e a amadora se dá com relação à segurança, que faz com que o árbitro tenha mais tolerância, seja mais sensível na tomada de decisões.
“No amador a gente tem que ter um pouco mais de prudência, pela dificuldade, pela falta de segurança, mas não pode deixar de aplicar as regras, tem que ter um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de jogo de cintura. Coisas que você não aceitaria no profissional, no amador você acaba fazendo de conta que não escutou, acaba dando uma relevada pela questão da segurança, mas as regras são as mesmas”, disse.
Sobre o aspecto da segurança, aliás, o árbitro amador Sandro Borges afirmou que o juiz que não tem histórias curiosas para contar é porque iniciou há pouco tempo na várzea. “Nós tivemos um fato interessante com assistente que estava trabalhando comigo, ele teve um problema com uma cara da torcida, o cara acabou invadindo o campo, saiu correndo atrás dele, eu entrei na frente, o cara foi atingir ele, mas acabou atingindo um chute em mim. Mas a arbitragem tava toda lá, a gente acabou entrando, o policiamento chegou e acabou dando tudo certo”, recordou com bom humor.
Lucas Ribeiro, repórter do site Futebol é Coisa Séria, acompanha a rotina dos times de várzea em diversos campeonatos pela cidade e entende que casos de agressão aos árbitros fazem parte de um passado cada vez mais distante.
“A evolução da arbitragem no futebol de várzea acompanha a evolução de todo o cenário. Hoje você tem equipes, organizadores e até mesmo torcedores muito mais conscientes sobre a importância do trabalho da arbitragem, sobre a divulgação da cultura da paz no futebol de várzea, então você tem um cenário de menos violência”, pontuou.
Gilmar da Costa, ex-jogador profissional que atuou no Palmeiras entre as décadas de 70 e 80, vai ainda mais além. “Futebol amador hoje eu equiparo ao futebol profissional, o nível da arbitragem é excelente, os árbitros são preparados, são treinados, fazem cursos, fazem cursos de reciclagem, eu acho muito bom o nível, jogar na várzea hoje é uma maravilha”, comparou.