Luiz França / CMSP
O ex-governador de São Paulo entre os anos de 1975 a 1979, Paulo Egydio Martins, afirmou nesta terça-feira durante a reunião da Comissão da Verdade da Câmara Municipal que o jornalista Vladimir Herzog teria sido morto nas dependências do DOI-Codi – centro de repressão do Exército durante a ditadura – para derrubar o presidente da época, Ernesto Geisel.
A versão oficial dos militares sobre a morte de Herzog é de que o jornalista se enforcou na cela em que estava detido. De acordo com Martins, no Exército havia grupos com ideologias diferentes e a sociedade desconhecia as disputas entre essas facções pelo poder. Não é possível que alguém acredite que Herzog pudesse representar uma ameaça nacional. A morte do jornalista fazia parte de um plano para tirar Geisel do poder e se instalar um regime mais forte, mais violento, declarou o ex-governador.
A morte do operário Manoel Fiel Filho, acrescentou Martins, também fazia parte desse esquema. O metalúrgico que distribuía a Voz Operária poderia oferecer que tipo de ameaça nacional? Não tinha nada que mostrasse que ele e Herzog oferecessem algum tipo de risco, mas com a morte deles a população iria ficar exaltada e aí seria justificada uma ação mais violenta do Exército, afirmou.
Durante o relato, o ex-governador também contou que a ditadura era financiada por grandes empresários. As pessoas físicas é que doavam dinheiro diretamente para os coronéis, lembrou Paulo Egydio Martins.
A Comissão da Verdade questionou o ex-governador sobre a morte em 1976 de Juscelino Kubitschek. A versão oficial é que o motorista do ex-presidente da república teria perdido o controle do carro após ser fechado por um ônibus. No entanto, o processo de investigação da morte de Juscelino foi reaberto. Eu não conheço esse assunto para opinar, afirmou.
O presidente do colegiado, vereador Natalini (PV), avaliou como importante o depoimento desta terça-feira. O ex-governador nos relatou fatos importantes, como o jogo político para derrubar Geisel, e também sobre o financiamento da ditadura. A única situação que esperava mais detalhes era sobre Juscelino Kubitschek, porque ouvimos muito envolvidos no caso e essa situação ainda não está esclarecida, disse.
(26/11/2013 16h43)