Os projetos do governo brasileiro de erguer uma terceira central nuclear em Angra dos Reis não fazem sentido do ponto de vista econômico, acreditam os professores Ildo Sauer e Joaquim Francisco de Carvalho, ambos do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo. Eles participaram nesta segunda (16) do Encontro sobre Esclarecimento e Diálogo Sobre Usinas Nucleares no Brasil, que debateu os problemas dessa matriz energética.
Segundo Sauer, se o país aproveitar metade de seu potencial hidráulico e todo seu potencial eólico, será possível dobrar o consumo de energia per capita em 2040. Nessa época, segundo o IBGE, a população brasileira se estabilizará em 240 milhões de habitantes.
Por isso, e pela dificuldade de armazenar os dejetos radioativos alguns dos quais precisam ser estocados por milhares de anos , ele considera a energia nuclear uma má opção. É desnecessário que a nossa geração deixe uma herança desse tipo para as gerações futuras.
Em 2011, as duas centrais nucleares em atividade no país produziram 15,6 milhões de megawatts-hora, um recorde histórico. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, a energia nuclear foi a segunda maior fonte de geração de eletricidade do país no ano passado, respondendo por 3,17% da matriz elétrica nacional.
ANGRA 3
Atualmente, o governo tenta viabilizar a construção da usina de Angra 3. O projeto enfrenta a resistência de ambientalistas, para os quais o projeto da usina é defasado. Em março deste ano, o Greenpeace divulgou dois estudos críticos em relação à segurança da futura usina.
Os relatórios, elaborados por dois docentes do IEE, Francisco Côrrea e Celio Bermann, apontam uma baixa resistência a eventuais desastres naturais que atinjam a região de Angra. Colega dos dois no instituto, Sauer concorda com a análise. Segundo ele, a grande incidência de deslizamentos de terra no município pode causar uma tragédia seja atingindo a própria usina, seja bloqueando a estradas e impedindo a evacuação da cidade.
Hoje já se tem, para os novos projetos nucleares, tecnologia mais avançada, que não depende de energia elétrica para acionar as bombas que permitem resfriar núcleo do reator, explica o professor.
Já Carvalho, apesar de ser contra a geração de energia elétrica através de centrais nucleares, acredita que o projeto é seguro. Centrais iguais a essa ainda estão em operação na Alemanha. O problema é o risco. É mínimo, mas para quê corrê-lo se nós não precisamos, questiona.
(16/04/2012 21h25)