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José Américo cita jornalismo e literatura para explicar Plano Diretor

10 de março de 2014 - 21:36
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“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.”

Foi citando decor o primeiro parágrafo de Cem Anos de Solidão, que juntamente com o conjunto de sua obra, deu ao escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez o Prêmio Nobel de Literatura de 1971, que o jornalista José Américo, vereador e presidente da Câmara Municipal de São Paulo, iniciou sua Aula Magna na abertura do 7º Curso Descobrir São Paulo Descobrir-se Repórter do Projeto Repórter do Futuro, em que falou de jornalismo, literatura e a revisão do Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo.

José Américo citou também outro jornalista-escritor, Renato Pompeu de Toledo, que morreu no dia 9 de fevereiro, como exemplo de narrativa a ser conhecida pelos estudantes. “Renato escreveu um livro fundamental para quem quer conhecer a cidade e aprender a contá-la: São Paulo, a capital da solidão, disse Américo, relembrando seus tempos como professor de jornalismo. “Ler bons livros ajudar a formar bons jornalistas.”

Em seguida, o presidente da Câmara traçou um breve histórico da formação da capital. “Durante 200 anos, a cidade de São Paulo teve a mesma população: 25 mil pessoas. No final do século 18, aqui viviam apenas 50 mil pessoas. A expansão da produção de café e a industrialização mudaram esse cenário. A cidade explodiu e surpreendeu os governantes”, afirmou.

Segundo José Américo, o crescimento vertiginoso e sem planejamento se transformou em padrão. “A preocupação era atrair migrantes e imigrantes para acelerar o processo. O conceito de cidade contemplava apenas as áreas que ficavam entre o Centro e os rios Pinheiros e Tietê. Mas foi para além desses limites que São Paulo cresceu, com as novas áreas sendo ocupadas sem qualquer apoio do poder público. E esse padrão se impôs durante todo o século passado, fazendo das periferias áreas de exclusão e dos rios os canais por onde o esgoto industrial e da população escoava. A origem de nossos problemas começa antes: na colonização predatória e no escravismo. Nenhum país supera isso sem grande esforço”, disse.

A partir dessa introdução, José Américo explicou a importância do Plano Diretor para a cidade. “Não podemos mais ser meros reféns do Deus mercado, que muitos defendem ser capaz de regular tudo sozinho. Vejam onde isso nos levou. Os problemas de São Paulo estão diretamente ligados à omissão de várias administrações que nunca levaram em conta as necessidades da população como um todo.”

Audiências públicas
De acordo com ele, o debate da revisão do Plano Diretor tem envolvido a sociedade civil em audiências públicas. “A Câmara Municipal realizou 48 audiências, que reuniram milhares de pessoas. Nelas, foram colhidas propostas (mais de 200) que serão incorporadas ao texto substitutivo ao Projeto de Lei 688/2013 a ser votado pelos vereadores. Parece incrível, mas a mídia pouco noticiou esse processo. Mais do que nunca, precisamos democratizar o acesso à informação e de jornalistas comprometidos com o interesse público.”

O jornalista Sergio Gomes, coordenador geral do Projeto Repórter do Futuro, participou da mesa ao lado de José Américo e dos coordenadores dos módulos Descobrir São Paulo, Milton Bellintani, e Pedro Ortiz, do módulo Descobrir A Amzônia – Descobrir-se Repórter. Serjão, como é conhecido, falou sobre as origens do projeto, criado há 20 anos. “A ideia original era simples: trabalhar com estudantes que queriam aprender jornalismo de verdade, na prática, numa época em que as faculdades estavam voltadas para dentro. Criamos o conceito de ponto final, em que 2 ou 3 estudantes tomavam um ônibus para um bairro distante de sua realidade para ouvir os moradores, saber de suas vidas e necessidades e fazer reportagens. O que mudou desde então? As faculdades só estimulam esse tipo de trabalho como exceção e não regra, e as grandes redações tiraram seus repórteres das ruas. É por isso que os jovens que acreditam num jornalismo de compromisso procuram iniciativas como o Repórter do Futuro.”

Sobre o curso
O curso, de complementacão universitária em jornalismo e gratuito, é realizado em parceria pela Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, OBORÉ Projetos Especiais e Abraji Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, e conta com o apoio das coordenações dos principais cursos de jornalismo da cidade de São Paulo. Conta com o apoio do SINPRO/SP Sindicato dos Professores de São Paulo, Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Cátedra UNESCO de Comunicação, Hospital Premier/MAIS Modelo de Atenção Integral à Saúde, NH Photos/Nivaldo Silva, IPFD Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais, além das revistas Samuel, Brasil Atual, Caros Amigos, Fórum, Imprensa, Le Monde Diplomatique Brasil, Piauí e do blog O Xis da Questão Mídia, Jornalismo e Atualidade, do Prof. Manuel Carlos Chaparro.

Saiba Mais:

– Acompanhe o projeto Repórter do Futuro pelo hotsite: http://www.reporterdofuturosp.com/

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