No dia 25 de janeiro deste ano, os irmãos Camila e Luiz Taliberti estavam entre as vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale, na cidade de Brumadinho (MG). A tragédia também matou Adriano da Silva, pai de Camila e Luiz, Maria Lurdes Bueno, casada com Adriano, assim como Fernanda Damian, noiva de Luiz, grávida de cinco meses. Todos estavam hospedados na pousada Nova Estância, destruída com o rompimento da barragem da Vale, que resultou na morte de 270 pessoas na cidade mineira.
Arquiteto premiado, Luiz Taliberti morava na Austrália há quatro anos. Estava em férias no Brasil com a noiva Fernanda. Pretendiam revelar à família o sexo do bebê, que se chamaria Lorenzo. Por isso, decidira levar a noiva, pai, madrasta e a irmã Camila, advogada residente em São Paulo, para a viagem.
Seis meses depois, em memória das vítimas, familiares e amigos lançaram, em cerimônia na noite da quinta-feira (25/07), na Câmara Municipal de São Paulo, o Instituto Camila e Luiz Taliberti, criado com o intuito de discutir o impacto de tragédias como a que vitimou os irmãos. Também pretende buscar soluções que minimizem os efeitos de acontecimentos dessa natureza para os sobreviventes, particularmente as mulheres, e evitar situações similares.
Para marcar o lançamento na Câmara, os responsáveis pela iniciativa realizaram um debate com o tema Destinos Rompidos: o Impacto das Barragens na Vida das Mulheres. “Junto com amigos e familiares, decidimos criar o Instituto Taliberti para manter vivos os ideais dos meus filhos. É o que vai nos dar sentido na vida, porque eles eram tudo o que tínhamos e perdemos. Agora, porém, ganhamos tudo de volta. Vamos realizar os sonhos deles”, disse a economista Helena Taliberti, mãe de Luiz e Camila.
Ao lado dela em toda essa luta, está o marido, o engenheiro Vagner Diniz, considerado um segundo pai pelos irmãos. “Pelo Luiz, vamos defender o meio ambiente das ameaças potenciais. Por Camila, vamos empoderar mulheres em situação de vulnerabilidade e lutar pelos direitos humanos”, afirmou Diniz.
Uma das debatedoras, a jornalista da Folha de S. Paulo Carolina Linhares, que cobriu as tragédias de Mariana e de Brumadinho, falou sobre os efeitos de um acontecimento desta dimensão. “É preciso que haja uma especial atenção com a noção de organização em grupo, para que as mulheres construam uma rede em busca de superação. A tragédia não acaba no dia em que acontece, continua com a série de batalhas que essas mulheres precisam enfrentar todos os dias”, afirmou Carolina.
Autora do livro Tragédia em Mariana – A História do Maior Desastre Ambiental no Brasil, a também jornalista Cristina Serra falou sobre a experiência da cobertura jornalística. Em Mariana, Cristina conheceu mulheres que, de uma hora para outra, tiveram a necessidade de assumir toda a responsabilidade sobre suas famílias, em meio ao luto. “As mulheres ficam com a dor dos vivos, com a carga de administrar e serem as provedoras das famílias dali por diante. E elas têm o papel de serem guardiãs da memória, através da mobilização, para cobrar das empresas as devidas reparações e indenizações”, relatou Cristina.
Também participaram da roda de conversa Carolina de Moura, jornalista e agricultora ligada ao Movimento Águas e Serras de Brumadinho, e a advogada Isabela Guimarães Del Monde, cofundadora da Rede Feminista de Juristas.
Um dos próximos passos, segundo Vagner Diniz, será a realização de workshop e palestras em Brumadinho. “É preciso incomodar, falar para o mundo o que está acontecendo. A displicência e a ganância das empresas não podem passar por cima da dignidade humana”, disse Vagner.