Com a chegada de março, um tema de extrema importância para a saúde feminina ganha destaque: o Março Lilás, mês dedicado à conscientização sobre o câncer de colo de útero. De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), a doença é a quarta que mais causa de mortes entre mulheres por câncer no Brasil, alertando para a necessidade urgente de prevenção.
Entre 2023 e 2025, estima-se que cerca de 17 mil mulheres no país serão diagnosticadas com câncer do colo de útero. A principal causa da doença é o HPV (Papilomavírus Humano), uma infecção sexualmente transmissível amplamente associada ao desenvolvimento desse tipo de câncer.
Para esclarecer as principais dúvidas, a equipe de reportagem da Rede Câmara SP conversou com o dr. Jesus Paula Carvalho, médico chefe da equipe de Ginecologia Oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, que é também membro da Comissão Especializada em Ginecologia Oncológica da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
De acordo com o dr. Jesus Paula Carvalho, o câncer do colo do útero é uma doença milenar, mas sua causa viral e os métodos de prevenção são mais recentes. “Nos anos 70, ficou claro que a etiologia dessa doença é o Papilomavírus Humano, o HPV, que pode causar câncer, além de verrugas e outras doenças”, explicou o médico.
Ele também destacou que o HPV possui mais de 100 tipos, e alguns estão diretamente relacionados ao câncer, como os tipos 16 e 18. “Ele é uma família de vírus que tem mais de 100 tipos, mas alguns deles estão relacionados com um câncer. Os mais frequentes são o tipo 16 e o tipo 18”.
Como a doença evolui e como identificá-la?
O câncer de colo de útero pode se desenvolver ao longo de muitos anos, geralmente de forma assintomática. “A doença pode evoluir de forma silenciosa, às vezes por 10 a 15 anos, sem que a mulher perceba qualquer sintoma. Inicialmente, pode aparecer uma manchinha branca no colo do útero. Com o tempo, essa mancha vai se espessando até que a mulher comece a perceber corrimento ou sangramento”, esclareceu o médico.
A melhor maneira de detectar a doença precocemente é por meio do exame Papanicolau, que deve ser feito por mulheres entre 25 e 64 anos, a cada três anos. “Esse exame consiste em coletar material do colo do útero, que é levado ao microscópio para verificar a presença de células cancerígenas”, disse dr. Jesus.
Tratamento e a importância do diagnóstico precoce
Uma boa notícia é que, quando detectado no início, o câncer de colo de útero pode ser tratado e curado. “O câncer de colo do útero é uma doença prevenível e curável. Quando identificada precocemente, é possível tratá-la de forma simples, com um procedimento rápido”, afirmou o especialista. Ele ainda ressaltou que, em casos mais avançados, quando a doença se torna invasiva, o tratamento se torna mais complexo e exige cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Em São Paulo, as 471 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) oferecem o exame Papanicolau gratuitamente, sem necessidade de agendamento prévio. Caso necessário, as pacientes são encaminhadas para atendimento especializado. O dr. Jesus Paula enfatizou a importância do exame regular para a detecção precoce: “A maioria das mulheres que não realizam os exames acabam descobrindo a doença em estágios mais avançados, quando o tratamento é mais complexo”.
Vacinação contra o HPV
A melhor forma de prevenção contra o HPV e, consequentemente, contra o câncer de colo de útero, é a vacinação precoce. “A vacina contra o HPV existe no Brasil desde 2014 e está disponível gratuitamente nas unidades de saúde. Ela deve ser aplicada em meninas de 9 a 14 anos, e também em meninos, além de pessoas imunossuprimidas até os 45 anos”, orientou o médico. A vacina pode prevenir até 90% dos casos de câncer de colo do útero, reforçando a importância da adesão à campanha de vacinação.
O Março Lilás não é apenas um mês de conscientização, mas um chamado à ação. Dr. Jesus Paula Carvalho destaca: “O câncer de colo de útero pode ser evitado e curado se diagnosticado precocemente. A informação e a prevenção são fundamentais”.