Rafael Carneiro da Cunha / CMSP
Cerca de 1.200 famílias devem ser removidas da comunidade Boulevard da Paz, situada no Parque Independência, zona sul de São Paulo. De acordo com a subprefeitura do MBoi Mirim, um mapeamento do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) elaborado em 2010 constatou que há 50 áreas de risco na região, sendo o Boulevard da Paz uma delas. As residências estariam sujeitas a deslizamentos de terra.
Um projeto licitado em 2012 prevê a construção de moradias populares no local. Segundo a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), o local será reurbanizado e somente após o início das obras será possível estimar o número de remoções necessárias e a quantidade de famílias a serem realocadas. Sem ter posições concretas da secretaria, os moradores estão preocupados que o ocorrido nos anos anteriores se repita.
Essa será a terceira remoção na comunidade em menos de dez anos. Na primeira delas, em 2007, foram retiradas 570 residências. Quatro anos depois, esse número foi de 390. O morador e presidente da Associação de Mulheres Boulevard da Paz, Luis Jorge de Jesus, relata que foi prometido aos moradores removidos um auxílio aluguel até as novas casas ficarem prontas e também o cadastramento das famílias em um programa de habitação. Porém, não foi o que aconteceu e elas só receberam o pagamento pela demolição.
Procurada pela reportagem, a Sehab (Secretaria Municipal de Habitação) afirma que irá apurar o que aconteceu em 2007 e 2011. Com relação a 2013, o órgão garante que os moradores receberão o auxílio moradia, que nada mais é do que uma ajuda de custo para que os removidos possam alugar uma residência em outro lugar, e que o local onde eles irão residir temporariamente é uma decisão que não cabe à secretaria. O valor desse auxílio moradia não foi informado. De acordo com a secretaria, os habitantes do Boulevard da Paz devem retornar às novas casas até 2016, quando as obras devem ser finalizadas.
Jesus acredita que não é preciso fazer mais remoções. É claro que a associação não é a favor de casas em áreas de risco, mas se forem feitas apenas obras de contenção dá para continuar morando aqui. Desde 2007, quando tiraram as primeiras casas, não tiveram mais deslizamentos. O nosso maior problema aqui não é esse, mas a dengue, os ratos e as cobras. Além disso, falta água e luz direto, pois é tudo gato ? ligação clandestina ? e o esgoto é a céu aberto, o que é preocupante, já que estamos em uma área de manancial, disse. Na comunidade citada passa um córrego que deságua na represa Guarapiranga.
Moradora há mais de 15 anos do Boulevard da Paz, Edna Silva relata que a situação é caótica. Se dois vizinhos tomarem banho ao mesmo tempo, por exemplo, a fiação pega fogo. Aí, quando você sugere a compra dos fios, muita gente não topa dividir os custos porque não sabe se vai ser removido ou não, diz.
Embaixo do mesmo teto que o casal vivem os três filhos. Pamela e Michele já são adolescentes, enquanto Luis Gustavo, que é adotado, tem apenas um ano de idade. A família está nessa residência desde o ano passado. Jesus afirma que o local é calmo e os vizinhos não incomodam. Ser removido daqui não vai ser fácil. Quando se retira uma família, vão se embora os sonhos, as conquistas e a história dela naquele lugar. Por isso, espero que se tivermos mesmo que sair daqui, a gente tenha ao menos os nossos direitos respeitados, ressalta Jesus.
A residência de Jesus é uma das que também serão removidas e, segundo a Sehab, as obras devem ter início até o final do ano. Para entender melhor os programas de moradia popular, o presidente da associação participou e ajudou a organizar o II Seminário de Habitação de Interesse Social, que ocorreu na Câmara Municipal, no dia 13 setembro. O evento foi encabeçado por líderes comunitários não ligados a partidos políticos, que têm o Palácio Anchieta como um dos espaços para fazer reunião, já que é de fácil acesso.(Rafael Carneiro da Cunha)
Confira mais na matéria da Web Rádio Câmara:
(08/10/2013 – 15h37)
