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Pesquisador de universidade canadense participa de reunião do GT da Cracolândia

Por: CAROL FLORES - HOME OFFICE

30 de junho de 2022 - 17:03

Dan Small, pesquisador associado do Departamento de Antropologia da University of British Columbia, participou da reunião do GT (Grupo de Trabalho) da Cracolândia realizada pela Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Cidadania nesta quinta-feira (30/6), para falar de iniciativas utilizadas para solucionar o problema da Cracolândia no país norte-americano. O GT é formado pelo colegiado interinstitucional entre a Câmara Municipal de São Paulo, ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), órgãos públicos e representantes da sociedade civil.

Apresentando os trabalhos realizados na região central da cidade canadense Vancouver, local onde havia uma enorme Cracolândia e que depois de ações de políticas públicas se transformou em um quarteirão social, Dan, que participou de forma remota, explicou que com iniciativas que têm olhar humanizado a pessoas em situação de vulnerabilidade social é possível transformar lugares degradados.

Um dos projetos que ajudou na transformação do centro da cidade canadense, foi o programa de Injeções Assistidas, onde adictos podem fazer utilização de injetáveis de forma segura. “As injeções são supervisionadas com objetivo biomédico e social onde validamos e humanizamos essas pessoas”, contou Dan, que ainda explicou que no mesmo ambiente há local para desintoxicação e um centro de recuperação, “Não forçamos as pessoas a iniciar o tratamento, mas elas acabam escolhendo se recuperar. Dados mostram que a taxa de entrada nos tratamentos são maiores pelos que já utilizaram drogas de forma segura”, explicou.

Para o pesquisador, um dos erros na questão dos adictos é que a sociedade os enxergam como culpados de estarem na posição que estão e como consequência os excluem, mas ele explica que a questão é mais profunda e tem todo um envolvimento de abandono social. “Temos que refletir sobre o sistema que coloca essas pessoas à margem da sociedade e em extrema pobreza”.

Outro ponto destacado por Dan são as barreiras existentes em instituições que trabalham como os adictos. Ele citou como exemplo abrigos que não aceitam animais e carrinhos e que com isso acabam excluindo parte dos que precisam desse tipo de serviço. “Temos que entender que o serviço é para as pessoas e não as pessoas são para o serviço. Temos que transformar uma zona de abandono em local de acessibilidade”, destacou.

Para ampliar essa visão onde o serviço se enquadra ao atendido e não o contrário, foi criado o programa First House, proposta diferente de outros programas que despejavam moradores que faziam utilização de entorpecentes, mas que acolhia e garantia moradia de acordo com as necessidades da pessoa.

Outro projeto citado foi o de empregabilidade para usuários ativos de drogas. “Projetamos as residências de acordo com o que eles queriam, não com o que nós gostaríamos que eles desejassem. Já o projeto de empregabilidade a ideia é não esperar a pessoa estar apta ao trabalho. É oferecer a oportunidade para ela possa retomar a autonomia”, explicou Dan . Ele ainda destacou que os projetos também têm como objetivo reverter a imagem de demonização do centro de Vancouver e trazer de volta a autoestima e a revitalização social.

Fazendo um paralelo entre a Cracolândia de São Paulo e a antiga Cracolândia de Vancouver, Dan disse que a conexão entre as duas cidades é o abandono de pessoas que foram levadas à sombra da sociedade sem o mínimo de cidadania. “No caso de Vancouver, transformamos uma zona de abandono em zona de aceitação com programas voltados aos marginalizados proporcionando emprego e dignidade”, explicou. O pesquisador também ressaltou que cada local tem seu contexto social e cultural, e isso tem que ser levado em conta na elaboração de projetos e estratégias.

Participação da sociedade civil

Manifestação de apoio e crítica aos projetos e situação da Cracolândia de São Paulo foram apresentados na reunião. O primeiro a falar sobre a insegurança na região foi o presidente da Associação Campos Eliseos, Iézio Silva, que apresentou imagens da rua Helvétia, mostrando o uso e a comercialização de entorpecente. “Assistimos todos os dias a degradação de seres humanos. Além de utilizarem e comercializarem drogas no local ,eles ainda praticam atividade sexual a luz do dia. Com isso ficamos refém em nossas próprias casas porque temos medo de sair”, ressaltou .

Iézio ainda denunciou que a Cracolândia é administrada pela maior facção criminosa do Brasil e disse que moradores da região são assaltados e expulsos de suas casas. “Nossa preocupação é com a violência que faz parte da realidade de quem vive na região da Cracolândia”.

Cleiton Ferreira, artista plástico que já viveu como usuário de drogas na Cracolândia, contou que hoje vive em um hotel social e que somente através de políticas públicas a região da rua Helvétia pode ser modificada. “Temos que pensar em moradia digna, saúde e espaço cultural para transformar o local. E não podemos nos esquecer de olhar para as drogas além das substâncias ilegais, mas também as legalizadas como o álcool, que trazem muito prejuízo social”, enfatizou.

Contando sobre como os moradores e comerciantes da região da rua Helvétia estão sendo afetados pela presença da Cracolândia, Rose Corrêa, moradora da região, disse que muitas pessoas que residem próximas ao local estão sofrendo de depressão. “Vivemos na insegurança e estamos sendo afetados pelo descaso social. Precisamos de políticas públicas que tenham os olhos voltados para os adictos e para os moradores da região. Queremos o nosso direito de ir e vir e poder dormir em paz”, ressaltou.

Participação do Legislativo

A deputada estadual Janaína Pascoal (PRTB-SP), questionou Dan Small sobre quem fornece as drogas que são utilizadas de forma segura no programa de Injeções Assistidas e se houve medição do impacto da criação da instituição para a vizinhança.

Em resposta, Dan explicou que, diferente do Brasil, a aquisição de drogas são legalizadas no Canadá. Já sobre a medição dos impactos na região da instituição ele afirmou que foram feitos estudos que mostram que houve redução na desordem pública.

Já o vereador Suplicy (PT) explicou que um dos objetivos do GT interinstitucional é ouvir os moradores da região e aceitou o convite de uma moradora em comparecer no local. “Esse espaço também foi criado para ouvir os moradores da região. Queremos em conjunto buscar uma forma de solucionar o problema da Cracolândia”, disse.

Ao final da reunião, foi anunciado que o próximo encontro do GT será realizado no dia 14 de julho na ALESP, devido ao recesso na Câmara Municipal.

Para conferir os trabalhos desta quinta, na íntegra, clique aqui.

 

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