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Pinheiros e Vila Madalena viram reduto do carnaval de rua de SP

28 de fevereiro de 2014 - 14:29

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Rafael Carneiro da Cunha/CMSP
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Emerson Boy cresceu pulando carnaval de rua em Oeiras (PI); quando menino, Renato Dias assistia com o seu avô o Bloco do Saco passar na zona norte de São Paulo; Tatiana Molon era frequentadora assídua dos bailes na Portuguesa e no Palmeiras; e Thales Basso sempre se encantou com os desfiles de escola de samba. Hoje adultos, os quatro estão à frente de alguns dos blocos mais populares de Pinheiros e da Vila Madalena, grandes polos da folia de rua paulistana.

No dia 6 de fevereiro, o prefeito Fernando Haddad (PT) publicou um decreto no Diário Oficial da Cidade de São Paulo regulamentando o carnaval de rua, projeto que passou por debate na Câmara, no ano passado. O texto publicado prevê uma maior organização dos desfiles, com atendimento médico, policiamento, banheiros químicos, interdição das vias e impacto menor aos moradores. Cento e setenta e dois blocos se cadastraram na Secretaria Municipal de Cultura. Pinheiros e Vila Madalena somam juntos 38, concentrando a maior parte dos desfiles. Já os bairros da região central vêm logo atrás, com dez.

Renato Dias, criador do cordão Kolombolo Diá Piratininga, é crítico à efervescência do carnaval nos dois bairros da zona oeste. Tem gente que quer formar bloco na Vila e não tem nenhum histórico com o lugar. Eu não sou contra, mas acho que começa a ter um certo oportunismo. Monta no seu bairro, que isso é que é o legal, salienta. Apesar disso, ele vê com otimismo o crescimento do carnaval de rua na cidade.

As discussões sobre a regulamentação desse tipo de carnaval em São Paulo vêm de muitos anos, mas foi em 2012, quando a repressão aos blocos foi mais intensa, segundo os seus organizadores, que foi elaborado o Manifesto Carnavalista. O documento foi assinado por mais de 30 blocos e tinha o objetivo de viabilizar legalmente as manifestações carnavalescas nas vias públicas da cidade. O manifesto também foi apresentado na Câmara Municipal durante um encontro com representantes de diversos blocos, realizado em junho de 2013.

Em 2011, os foliões do João Capota na Alves viveram um momento de tensão difícil de esquecer. A gente estava se concentrando na João Moura para sair e aí chegou a polícia e mandou a gente andar. Quando estávamos nos organizando para fazer isso, eu não sei o que aconteceu, mas teve gás de pimenta. O duro é que tinham muitas crianças, lembra Basso, produtor do bloco. No ano seguinte foi a vez do Kolombolo Diá Piratininga ter problemas, chegando a ter que interromper o seu desfile.

Essa mudança de visão sobre o carnaval de rua precisava realmente acontecer. Porém, regulamentar também tem o seu lado ruim. O trajeto é definido previamente e muitas vezes não contempla ruas onde circulamos todos os dias e têm um significado para a gente. Uma pena porque o Carnaval é uma coisa anárquica de certa forma, afirma Tatiana, cantora do Pimentas do Reino.

No dia 18 de fevereiro, houve uma reunião entre a Secretaria Municipal de Cultura, a polícia, a Companhia de Engenharia e Trafego (CET), a Subprefeitura de Pinheiros e vários blocos que desfilam na região. Em pauta estava a organização do carnaval e a estrutura que seria disponibilizada pela Prefeitura. Emerson Boy, criador do Jegue Elétrico, esteve presente, e para ele o momento foi importante para esclarecer algumas dúvidas. Agora é esperar o Carnaval acabar para a gente fazer uma avaliação de tudo e ver o que precisa ser mudado.

(Divulgação: veredaestreita – Creative Commons)
CarnavalVeredasestreitas

A rua é do povo

 

Com pouca verba, dotados de certo amadorismo e utilizando muitas vezes o improviso. Assim são os blocos e cordões carnavalescos, que nos últimos anos tiveram um crescimento exponencial em São Paulo.

O professor e pesquisador da Unesp, Alberto Ikeda, considera esse crescimento fruto de uma vontade paulistana de reviver o que sempre existiu desde o século XIX , e de uma visão mais crítica aos desfiles das escolas de samba, que acabam excluindo quem não pode arcar com os gastos, seja assistindo ao espetáculo ou desfilando. Puxada pelos intelectuais da classe média, a retomada do carnaval de rua se deu justamente em bairros onde eles se concentram, como Vila Madalena, Pompeia, Pinheiros, e também os da região central.

Ainda segundo Ikeda, se for traçado um mapa do carnaval de São Paulo será possível perceber a concentração dos blocos e cordões nessas áreas. Já as escolas de samba estão em sua maioria nas zonas norte e leste, pois foram nesses locais que houve uma maior concentração de negros nos séculos passados.

Diferentemente dos grandiosos desfiles das escolas de samba, nos quais o folião é na maioria das vezes espectador, o carnaval de rua tem como combustível a participação popular, e uma de suas premissas é ser democrático. Entra na brincadeira quem quer, e o lema é apenas um: se divertir. (Rafael Carneiro da Cunha)

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