Considerando a importância do Hip Hop no processo de inclusão social, musical e cultural e a sua inserção junto aos jovens na cidade de São Paulo, a Câmara Municipal recebeu nesta terça-feira (20/3) a 4ª edição do Prêmio Sabotage. A noite foi conduzita pelo rapper Pirata, do Fórum Hip Hop.
O evento reconhece o significado do rapper como protagonista no cenário cultural e musical, e busca reconhecer o trabalho de artistas que se destacam neste cenário.
Descoberto pelos Racionais MC’s, o Maestro do Canão, como era conhecido, nasceu na periferia da Zona Sul de São Paulo, no dia 3 de abril de 1973, e encontrou no rap a saída do mundo do crime.
O músico teve uma trajetória rápida e intensa. Assassinado em 24 de janeiro de 2003, Sabotage deixou apenas o disco “Rap é compromisso”. Seu segundo projeto, que havia iniciado antes de sua morte, foi finalizado e lançado – com a ajuda da família e amigos – em 2016, 13 anos após o ocorrido.
“A gente queria fazer duas coisas. Uma era trazer o Hip Hop pra dentro da Casa para que as pessoas conhecessem melhor, começando pela própria Casa e seus parlamentares. Parece que não, mas em 2005 não era tão conhecido o significado desse segmento, então a gente queria trazê-lo, que fosse respeitado solenemente, além de homenagear um dos seus grandes expoentes”, explica a vereadora Soninha, proponente da iniciativa.
A Comissão dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Juventude, responsável pela premiação, recebeu 51 inscrições para as quatro categorias: melhor DJ, MC, grafiteiro e b-boy, que homenageiam os quatro elementos que formam a cultura Hip Hop.
A Comissão Julgadora 2018 foi formada por Cleber Cesar Santos (DJ Cleber), Clayton Igidio da Rocha (CBDance29), Luís Carlos de Matos Lorena (Pepeu), Luiz Fernando Lacerda da Silva (Luiz Fernando Prod) e Osmir Pereira Belo (Mano Osmir).
Para Pepeu, membro da Comissão, não existe uma competição porque o Hip Hop é um trabalho de união, uma ferramenta de construção, mas, segundo ele, o julgamento aconteceu de forma coerente.
“A gente procurou fazer algo muito justo, um resultado muito patente, e todos vieram elogiar dizendo que tanto os indicados como os vencedores foram fantásticos, bem escolhidos. Ficamos muito contentes com o resultado”, afirma.
No evento, também esteve presente o vereador Eduardo Suplicy (PT), que deixou um recado de agradecimento a vereadora autora da inciativa. “Acho formidável que a vereadora Soninha tenha organizado este evento, inclusive o Prêmio Sabotage que tem um significado enorme para todos os jovens do Brasil”, diz.
O vereador aproveitou o evento para relembrar o caso da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson, assassinados na última terça-feira (14/3). O filho do rapper, Wanderson, conhecido como Sabotinha, falou sobre a noite em que viu a notícia.
“Quando eu vi passar na televisão, eu me lembrei do que ocorreu com meu pai há 15 anos. Quando eu saio de casa, pelo fato de ser negro e “favelado”, sou vítima disso também. Nós temos que mostrar por meio da música que o rap não é o crime e que não traz violência. Eles estarão sempre presentes”, afirma.
Tamires, também filha do rapper, pediu um minuto de silêncio após discursar sobre o caso. “Quero lembrar que toda música, voz ou luta são eternas. Recentemente perdemos uma das grandes vozes da nossa geração, Marielle. E como mulher, ser humano, não posso deixar de registar, ela foi assinada assim como meu pai, vítima de uma violência sociocultural que deve acabar”.
Ainda segundo Tamires, é uma prazer participar do prêmio desde a sua primeira edição. “É uma honra presentear as pessoas que estão no dia a dia lá fora com seus projetos de Hip Hop, seja no grafite, seja como DJ, MC. Participar disso é muito importante para nós. Com certeza se meu pai estivesse vivo, ele estaria de cabeça nesse projeto”.
Conheça os vencedores do Prêmio Sabotage 2018
Melhor Disk Jockey (DJ): Michelle Russo Dorotheia (DJ Leona) – “Essa premiação é sinônimo de união,fortalecimento, incentivo à cultura e a arte, e isso é muito importante dentro do contexto do Hip Hop em memória do Sabotage. Mas, além disso, devido realmente à parte motivacional”.
Melhor Mestre de Cerimônia (MC): Caroline Souto de Oliveira (Souto MC) – “O Sabotage desde sempre foi uma influência muito grande para mim, e receber esse prêmio hoje é de uma dimensão que eu não consigo mensurar neste momento. É de grande honra e responsabilidade. Quero fazer jus a isso”.
Melhor Grafiteiro: Ednei Miguel (Dinas Miguel)
“Eu acho que isso não é uma competição, acredito que é uma celebração de tudo que acontece, de todas essas pessoas que a gente comunga, participa da mesma união. Acho que o fortalecimento de um é o fortalecimento de todos. Juntos a gente pode conseguir trilhar muito mais longe”.
Melhor Dançarino (Break): José Carlos Barroso (Chileno) – “Agradeço a quem escreveu meu nome. Eu acredito muito em sonhos, e não podemos desistir, temos que insistir, correr atrás dos nossos objetivos e conseguir aquilo que desejamos”.
O prêmio teve sua primeira edição realizada em 2015 e acontece anualmente na Câmara Municipal de São Paulo.