Mais um convidado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cine Belas Artes rejeitou a atual visão dos órgãos de preservação da cidade de São Paulo e do Estado de separar os patrimônios em materiais e imateriais. Edgard de Assis Carvalho, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), veio à Câmara Municipal nesta quarta-feira e classificou como absurda essa distinção.
O acarajé, por exemplo, é tombado como bem imaterial, como se para ele existir não precisasse do feijão, das mulheres que o cozinham, argumentou o acadêmico, que lembrou que, em sua gestão como presidente do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), a discussão era em torno da casa de candomblé Axé Ilê Obá.
Foi tombado porque existe a materialidade do culto e aspecto simbólico do culto, a importância do candomblé para o Brasil, argumentou. Para Assis Carvalho, a situação é análoga à do Cine Belas Artes, em que o debate se separa entre o valor arquitetônico do imóvel e seu uso. É inadmissível que esse tombamento não ocorra, juntando sim um prédio que tem valor simbólico grande e qualidade cultural do cinema, afirmou.
Questionado pelo relator da CPI, Floriano Pesaro (PSDB), sobre uma mudança de endereço do cinema, Edgard defendeu que ele seja reinstalado na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, seu local original. Aquele pedaço ali e o cinema têm uma aura, se você muda o local isso se esvai, observou.
Além disso, ele defendeu que a manutenção da programação do cinema vai além da escolha dos filmes em cartaz. O cinema é mais do que só cinema de arte, até porque essa designação é polemizável. O Belas Artes tinha o Noitão (maratona de filmes durante a madrugada), a carteirinha de cinéfilo, coisas que não tem mais em nenhum lugar, detalhou.
SOLUÇÃO
Para Assis Carvalho, uma parceria público-privada (PPP) seria uma solução possível para a gestão do Cine Belas Artes nos moldes em que ele funcionou anteriormente. Ele também é favorável a incentivos públicos para o proprietário do cinema, como abatimento do IPTU.
Os vereadores também consideram essa possibilidade, porém Eliseu Gabriel disse ainda acreditar em um diálogo entre o dono do imóvel e o administrador do Belas Artes. Pode haver o entendimento, e acredito que a discussão na Câmara e o tombamento favoreçam isso, afirmou o presidente da CPI.
(28/11/2012 – 15h21)