A luta por moradia pesou no processo de restauração de prédio, que envolveu articulação política do Ministério da Cultura, prefeito Fernando Haddad e a ex-prefeita Luíza Erundina
ANA PAULA BIMBATI E CLARA ASSUNÇÃO
Até o fim do ano que vem, a cidade de São Paulo vai ganhar mais um centro cultural. No espaço escolhido já funcionaram um escritório de café e a primeira Delegacia da Zona Leste. O imóvel fica na Avenida Celso Garcia, importante via arterial que liga o Brás ao bairro da Penha, e mantém linhas e traços arquitetônicos da primeira metade do século passado preservados.
O Casarão Celso Garcia não carrega apenas marcas do tempo que demonstram a necessidade de restauração, mas também é um símbolo da luta por moradia e por um espaço cultural. Após 26 anos, moradores e representantes conseguiram, no último sábado (17), tornar realidade o compromisso do poder público de criar ali um Centro Cultural de formação e capacitação para toda a comunidade.
O conjunto deve-se também à ocupação do Movimento Sem-Terra que ocorreu em 1986, transformando o Casarão em um cortiço e assegurando que ele resistisse a todas sorte de investidas. Uma plenária, realizada em 1989, quando a cidade era administrada pela então prefeita Luíza Erundina, regularizou a situação e destinou o espaço à construção de moradias populares feitas a partir de mutirões, que ficou conhecido por ser o primeiro mutirão vertical da cidade de São Paulo.
Recursos – A verba de R$ 2 milhões que será destinada ao Centro Cultural Casarão Celso Garcia virá de uma emenda da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP). O recurso é fruto de uma parceria entre o Ministério da Cultura e a Prefeitura, e teve apoio do ministro Juca Ferreira e do Prefeito Fernando Haddad. Segundo a representante da Associação dos Moradores do Conjunto Residencial Casarão, Leni Miranda Rocha, de 69 anos, 182 famílias construíram os quatro prédios existentes. “Ficaram 40 famílias aqui dentro [cortiço] e as outras famílias vieram do Belém, da Mooca e do grupo de origem do Brás”, ressalta. Além da luta por moradia, eles também reivindicavam uma finalidade para o espaço que estava abandonado. “Desde o comecinho, lutávamos para que este casarão fosse tombado. A gente discutiu em assembléia, nós fizemos seminários para ver o que tinha de ser feito. A gente lutou muito até conseguir um centro de cultura”, explica Leni.
Além da representante, o advogado e assessor de movimentos sociais, Manoel Del Rio, de 68 anos, também fez parte da organização que atendia os moradores. “Na época que a Luiza Erundina era prefeita, foram construídas as moradias, mas a Casa de Cultura não foi concluída, porque, depois, a Erundina saiu do governo e o prefeito que veio paralisou o projeto. Agora, o prefeito Haddad e o Secretário Nabil estão retomando”, relata Del Rio.
O projeto da Casa de Cultura é um instrumento de oportunidade e também uma demonstração de que é possível articular habitações populares próximas ao centro e ao emprego. Ambas reivindicações foram feitas pela população dos moradores do conjunto e do entorno da região, assim como pelo secretário Nabil Bonduki e pela deputada Erundina. “É uma forma, inclusive, de prevenir a marginalidade e delinquência dos jovens e adolescentes dessa região”, defende Erundina.
De acordo com o levantamento feito pela Secretária Municipal de Cultura (2014), não há nenhum centro cultural na região do Brás. “É uma região pobre, que tem muitos jovens e a ideia é ser um espaço múltiplo em suas finalidades, aberto a toda comunidade e ao entorno desse conjunto que é esse casarão”, ressalta Erundina, mostrando a importância do novo espaço.
A espera pela instalação do Centro elevou a expectativa da população quanto aos serviços que serão oferecidos. Leni Miranda espera que o espaço proporcione diversas práticas socioculturais. Entre elas, cursos de capacitação como a formação em computação, um profissional para auxiliar o grupo de mulheres idosas que será formado para praticar exercícios e ginástica, biblioteca e áreas para as crianças.
Nabil foi secretário municipal de Habitação e acompanhou de perto o desenvolvimento do Conjunto Residencial do Casarão, cabendo a ele a viabilização da construção. “Fiz parte dessa migração da habitação para a cultura e poder terminar um projeto nessa condição é emocionante“, avalia. Ele espera que a população continue militando e que participe dos conselhos gestores, dando as diretrizes para a ocupação do espaço.
O centro cultural atenderá todos os moradores do conjunto, assim como toda a comunidade do Brás e de outras regiões. A representante Leni destaca que aquele espaço não é só dela ou dos outros militantes, e sim, para todos do país. “Esse espaço é da prefeitura, nós zelamos belo bem público, porque aqui dentro a gente não paga nada, por isso que cuidamos por isso. Queria que o prefeito visse, porque a gente briga por isso daqui”, finaliza.
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