Na quinta palestra/conferência de imprensa do 7º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter, realizada no sábado (5/4), o cientista político Marco Aurélio Nogueira debateu com os estudantes o tema Participação Cidadã. As manifestações de junho de 2013, que colocaram na agenda política do país o debate público sobre as insuficiências da democracia representativa, abriram a fala de Nogueira. Segundo avalia, a participação de centenas milhares de pessoas de manifestantes não organizados nas ruas representou uma explosão coletiva de angústia.
Nogueira acredita que essa angústia reflete o ritmo de vida das pessoas. “O celular traduz o estilo de vida atual. Estamos conectados o tempo todo. Por meio dele nos informamos sobre o que acontece em todos os níveis, desde o plano pessoal ao social. Isso cria, ao mesmo tempo, cidadãos informados como em nenhuma outra época e uma grande ansiedade de visibilidade. O Facebook se tornou o paradigma de nossa visibilidade na sociedade. Hoje, o desejo de protagonismo individual exerce uma pressão violenta sobre todos. E esse padrão exposição é entendido como uma forma de cidadania”, disse.
Marco Aurélio Nogueira é bacharel em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1972), doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1983) com pós-doutorado na Universidade de Roma, Itália (1984-1985), e professor titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Para o cientista político, a ocorrência dos rolezinhos em 2014 está diretamente ligada às manifestações de junho. “Numa sociedade em que padrão de consumo é porta de entrada para a aceitação social, consumidor e cidadão se confundem. Se o shopping center é o templo dos sonhos, esse é o lugar a que os jovens querem ter acesso.”
Juventude sem paciência
O imediatismo é outra característica comportamental que passou a exercer influência na postura política. “Em um tempo em que a velocidade da transmissão de informação e de acesso aos acontecimentos do mundo inteiro criam uma sensação de que tudo é frenético, a juventude não tem paciência para esperar por soluções de longo prazo. Quer soluções instantâneas”, afirmou.
Ele acredita que esses dois fatores ajudam a entender porque as formas de organização política tradicionais foram atropeladas pelo vigor das manifestações. “Nem os partidos, nem os sindicatos, nem as organizações sociais conseguiram prever e muito menos liderar os protestos.”
O que começou com demonstrações na rua contra o aumento das tarifas dos transportes ônibus e metrô , ganhou outro rumo depois da repressão violenta da polícia militar contra os manifestantes e, em particular, contra os jornalistas e fotógrafos que cobriam os protestos. “A resposta à violência policial, como afirmação da democracia e do direito de manifestação, ampliou a agenda das manifestações. Rapidamente, se escutaram palavras de ordem protestando contra tudo e contra todos. Mas o recado mais claro foi dado aos poderes Executivo, Legislativo e organizações sociais: “não nos representam” virou um mantra repetido nas ruas”.
Democracia
Autor do livro As ruas e a democracia, lançado no fim de 2013, Marco Aurélio Nogueira acredita que as manifestações de junho lançaram um desafio aos poderes constituídos, aos partidos e aos representantes da sociedade civil. “A sociedade brasileira, ao contrário do muitos acreditavam, não é passiva. Ela se movimenta e marca homem a homem os políticos. E gira em torno da mídia, entendida não somente como a mídia tradicional e sim o conjunto de manifestações que se expressam utilizando as ferramentas de comunicação modernas em especial as redes sociais. Por isso mesmo a disputa em torno da regulação da mídia é um tema que enfrenta tantas resistências. Mas o Brasil precisa enfrentar esse debate se quiser fortalecer e aprofundar a nossa democracia.
Curso lança app para smartphones
O 7º Curso Descobrir São Paulo – Descobrir-se Repórter lançou o seu aplicativo para smartphones. Para ter o app em seu celular acesse aqui.